"O amor é filho da boêmia, que nunca, nunca conheceu nenhuma lei." - George Bizet da ópera Carmen.
Carmem é uma das personagens mais intrigantes da literatura internacional. Decidida, sagaz, cruel e sem papas na língua, ela desperta paixões tão rapidamente quanto as termina. E é por essas e outras qualidades que a personagem já foi interpretada em filmes, por atrizes como Rita Hayworth e Dorothy Dandridge, dominando até o teatro, com uma ópera para ninguém botar defeito idealizada pela mente mais que capaz de George Bizet.
Mas vamos por partes: a personagem Carmen, uma cigana que manipula todos os homens à sua volta, foi criada pelo escritor Prosper Mérimée, um romancista francês, nascido em 1803. Ele nasceu em uma família de boa reputação e decidiu seguir carreira como advogado, mas sua paixão pelas letras era grande demais para ser questionada. Resolveu, então, focar na carreira de escritor e teve sua primeira peça escrita em 1822, chamada Cromwell (embora, incerto da qualidade da obra, acabou nunca a publicando).
Só que ele não se deu por derrotado: Mérimée se tornou um grande estudioso e logo foi elevado ao cargo de Inspetor Geral de Monumentos Históricos. Foi a partir daí que ele começou a realizar viagens para estudar as ruínas na França e na Espanha. E foi na exatamente na Espanha que a história de Carmen começou a se formar.
Prosper Mérimée Domínio Público |
Segundo o livro Carmen, a Gypsy Geography escrito por Ninocthka Bennahum, depois da Revolução de Julho na Espanha, em 1830, Mérimée foi até o país e acabou conhecendo e fazendo amizade com Cipriano de Montijo, um conde que ficou encantado pelas histórias do escritor e o levou para conhecer sua filha e sua esposa, a condessa Montijo.
Aliás, segundo o livro de Ninocthka, foi a condessa que recontou a famosa história que deu origem ao livro Carmen. Mas com algumas ressalvas, é claro. O conto que a condessa compartilhou com Merimée era de um jornal local que noticiava que um jacquerie, ou seja, um plebeu, matou sua amante cigana por ciúmes por ela ter se "devotado ao público" e por ter se "recusado a ficar apenas com ele."
Mas a história de Carmen e seu amante Don José só ficou pronta mais de quinze anos depois. A demora? Pode ter sido por causa da posição dele como tutor e conselheiro da filha dos Montijo, Eugénie, que se casou com o imperador da França, Napoleão III. Ou também porque, Merimée, tão aplicado em seus estudos do povo espanhol e cigano, não queria escrever apenas um livro de romance. Ele queria que a cultura e os costumes do povo fossem apreciados também.
Mesmo que a gestação da personagem tenha demorado um pouco além da conta, a Carmen de Prosper Mérimée finalmente nasceu! Ela foi publicada no jornal parisiense quinzenal chamado La Revue des Deux Mondes em 1845, na edição de outubro e no ano seguinte foi publicado como livro.
Jornal Revue des Deux Mondes/Arquivo
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O epigrama escolhido para acompanhar a história de Carmen foi o do escritor grego Palladas, que diz o seguinte: "A mulher é uma chatice. Só existe duas ocasiões quando ela não é: na cama - e morta." E como o livro é narrado por um homem, Don José, e escrito por um homem também, não me surpreende a frase sexista para falar sobre a personagem. Ela é afinal, uma cigana que enfeitiça homens e os subjuga ao seu bel prazer, sem nunca conseguir ficar livre das amarras do amor e daqueles que a desejavam.
O livro é divido em quatro partes. Na primeira, conhecemos o narrador secundário, que podemos presumir que seja o próprio Mérimée, em sua viagem pelo interior da Espanha quando ele encontra o perigoso criminoso Don José e os dois formam uma amizade. Depois disso, o narrador é roubado por Carmen e José é preso, fazendo com que ele comece a contar como conheceu a cigana que roubou seu coração. O único problema é que Carmen nunca irá se prender a ninguém e é assim que a história do livro realmente começa.
A peculiaridade do romance está na quarta parte, na qual há uma breve explicação do narrador sobre os ciganos na Espanha, descrevendo costumes e até a sua linguagem romani. Já a história de Carmen é dividida em duas narrativas: a de Don José e do narrador secundário, o próprio Mérimée, que contam como o amor por Carmen fez um jovem promissor se afundar cada vez mais na loucura. Carmen, no entanto, luta contra o rótulo e várias vezes avisa José de que jamais se prenderá à alguém.
Mesmo com os avisos, ele faz de tudo para tê-la só para si.
Algumas das atrizes que interpretaram a icônica Carmen Divulgação/Edição |
O livro é curto, minha edição não tem mais do que 111 páginas, quase como se fosse uma crônica longa, que mostra como o amor pode nos deixar cegos. Essa, aliás, é uma história tão universal que além de dar origem à famosa ópera de George Bizet, Carmen, também inspirou mais de dez longas metragens entre as quais destaco Os Amores de Carmen (1948), com a diva Rita Hayworth e Carmen Jones (1954).
Ainda sobre o livro, consegui comprar meu exemplar por apenas R$4,00 e devo admitir que esse é um clássico fascinante. Carmen rouba o show em todas as páginas e apesar da leitura rápida, ele não é um clássico à toa e a objetividade do narrador unida com o conhecimento de Prosper Mérimée formam um livro excepcional, que deve ser lido. Sempre.
Informações adicionais:
Livro: Carmen
Autor: Prosper Mérimée
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