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Rachel Portman e sua composição para o filme Emma (1996)

Hollywood tem um grande problema de diversidade e isso não é nenhuma novidade. Apesar de existirem melhores oportunidades para mulheres no mundo da televisão, atualmente, essa opção ainda não é o bastante. Uma prova disso pode ser vista no estudo Inclusion or Invisibility; Comprehensive Annenberg Report on Diversity in Entertainment de 2016, no qual se revela que apenas 38% das falas em programas de televisão foram ditas por mulheres. No cinema essa taxa cai ainda mais: o número vai para 28%. Atrás das câmeras o cenário também não é dos melhores: a estimativa é que existam quase seis diretores homens para cada uma diretora mulher. Para as compositoras de trilhas sonoras, a disparidade continua chocante: 97% dos filmes de 2016, segundo o The Celluloid Ceiling: Behind-the-Scenes Employment of Women on the Top 100, 250, and 500 Films of 2016, não tiveram nenhuma mulher incluída na parte de composição musical. 

A única mulher a ter ganhado o prêmio Oscar de Melhor Trilha Sonora foi Rachel Portman, em 1997, pelo filme romântico Emma (1996), baseado no livro homônimo de Jane Austen. Mas até sua vitória tem uma pegadinha: Rachel ganhou na categoria comédia. Isso aconteceu porque entre 1995 e 1998, a Academia decidiu dividir o prêmio de melhor Trilha Sonora em dois: o Melhor Trilha Sonora Dramática e Melhor Trilha Sonora de Comédia. 

 O prêmio foi apresentado por Debbie Reynolds e Carrie Fisher                                  Divulgação
A categoria pela qual Portman se tornou a primeira mulher a ganhar o prêmio de Melhor Trilha Sonora foi descontinuada porque, de acordo com o livro The Big Show de Steve Pond, renomado crítico e jornalista de cinema, o Oscar originalmente não queria fazer distinção entre os tipos de filme concorrendo à estatueta, já que essa separação havia ocorrido apenas para tentar resolver o problema com a categoria de Melhor Musical Original, que foi presenteado até 1984. Hoje em dia o problema se resolve e a categoria intitula-se apenas como Oscar de Melhor Trilha Sonora.  

A confusão, embora nos diga muito sobre a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e a mente fechada dos votantes, não ofusca, em nada, a merecida vitória de Rachel Portman. Nascida em 11 de dezembro de 1960 em Halsmere na Inglaterra, Rachel começou sua carreira no cinema em 1982 ao fazer parte do filme Privileged, que contava com o ator Hugh Grant no elenco. Segundo seu website oficial, a britânica compunha desde 14 anos de idade, mas ficou realmente interessada em seguir uma carreira no cinema enquanto estudava música na Universidade de Oxford. 

Seu envolvimento com o filme Emma começou quando foi convocada pelo novato diretor Doug McGrath para escrever uma trilha sonora à altura do romance de Jane Austen. O filme começou a tomar forma no ano anterior, em 1995, quando o cineasta pretendia dar uma visão mais contemporânea ao filme. Harvey Winstein, diretor do estúdio Miramax, que financiava a adaptação, gostou da ideia que Emma (1996) fosse mais atual. Mal eles sabiam que, naquele momento, As Patricinhas de Beverly Hills (1995) já estava prestes a ser lançado. Decidiram-se, portanto, por uma versão clássica do filme.  

Este foi o primeiro papel de destaque de Gwyneth Paltrow                                Miramax/Gif
Rachel Portman era a pessoa perfeita para criar esse tipo de trilha sonora. Romântica, fã de Bach e Mahler, a compositora sabe escrever músicas que focam tanto nos personagens quanto nas situações que os moldam. Um exemplo é a composição do título inicial do filme, que começa suave e depois se mescla com a música animada do casamento entre a amiga e ama de Emma, Sra.Taylor e o Sr. Weston, pai do aclamado Frank Churchill, interpretado por Ewan McGregor.  

Aliás, a chegada dele ao vilarejo recebe uma das composições mais vibrantes de Portman, com o ponto alto dela sendo quando Emma e Frank se encontram no lago, com ele a socorrendo. A composição se chama, corretamente, Frank Churchill Arrives, e quase podemos sentir o coração de Emma batendo mais forte. Outro ponto importante da história é quando Harriet, vivida por Toni Colette, é atacada por ciganos e se torna, de uma hora para a outra, extremamente popular entre a sociedade. Mais agitada, a canção é exagerada, assim como a narração de Harriet, que a cada recontada acrescenta outro novo detalhe. 

Um dos momentos, no entanto, mais significativos da narrativa clássica que a compositora adotou no filme Emma (1996) foi quando a personagem principal acaba insultando a senhora Bates, uma mulher sem grandes recursos que sempre teve respeito por ela. Conseguimos sentir o remorso na personagem quando essa faixa em particular toca, e na qual Emma, finalmente, enxerga seus erros infantis pela puxada de orelha que o senhor Knightley (Jeremy Northam) não deixa de dar. Mas, sem sombras de dúvidas, a canção mais emocionante da trilha sonora é a chamada The Proposal, na qual Emma e Knightley conversam sobre suas diferenças e admitem que se amam. A canção dá um ótimo fim a película, com uma acalentadora sensação de amor correspondido.   

Rachel consegue combinar o sentimento nostálgico do século XVIII com a esperança cega de Harriet, a seriedade de Knightley e a vivacidade de Emma, tudo em um pacote só, descrevendo não só os personagens, mas seus problemas e virtudes, e, o mais importante: seus desejos.  

Emma (1996) é uma deliciosa trilha sonora

Embora Rachel Portman não tenha conduzido as composições que ela mesma criou, ela as orquestrou com uma maestria de cair o queixo. A compositora foi indicada ao Oscar mais duas vezes, pelo filme Chocolate (2000) e por Regras da Vida (1999), mas Emma (1996) continua a ser uma de suas obras-primas no cinema. Hoje, Rachel é casada com o produtor Uberto Pasolini e vive com ele e suas três filhas na Inglaterra. Uma vida digna das heroínas de Jane Austen, sem dúvidas!    


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