Para Primo Moreschi, ou apenas Joe Primo, os anos 1960 foram tão agitados quanto os dos reis supremos do iê iê iê, The Beatles: formou a banda The Jet Black's, predominantemente instrumental, foi expulso da banda e deu a volta por cima formando Os Megatons, que trabalharam com nomes importantes da indústria fonográfica e eram conhecidos pelo uso do som distinto de uma guitarra com 12 cordas. Apesar de tanta influência, principalmente no começo da Jovem Guarda, o livro de Primo lançado pela Editora Oeste, do Mato Grosso do Sul em 2008 tem como título O Protagonista Oculto dos Anos 60.
Esse adjetivo, o do oculto, tem lá seus motivos: mesmo depois de afirmar com todas as letras que foi o fundador dos The Jet Black's, que na concepção tinha o nome de The Vampires, em homenagem a banda The Ventures, Joe Primo continua a defender sua criação, mais de 50 anos depois: "Considero primordial esclarecer a verdadeira origem da banda The Jet Black´s, ou seja: eu, (Joe Primo) Primo Moreschi e Bobby De Carlo, seus verdadeiros criadores." Isso porque dão à Antonio Aguillar, conhecido como o percussor da Jovem Guarda, o crédito por ter lançado o The Jet Black's, além de o Jurandi (baterista) do The Jet Black´s, que tenta se pronunciar como o fundador da banda.
Todos esses aborrecimentos deixam um gosto amargo na boca, principalmente ao se descobrir que Primo foi jogado de escanteio, em 1964, pelo grupo que formou dois anos antes, ao se internar em um hospital em Campos do Jordão, o Sanatório Nossa Senhora das Mercês, para tratar de sua tuberculose. Na sua volta, alguns meses depois, tudo havia mudado, para pior, como Primo se dispôs a detalhar: "O Jurandi e o Zé Paulo (baterista e contrabaixista do The Jet Black´s) me trataram como se eu fosse um ilustre desconhecido, dizendo que já tinham outro ocupando meu lugar. Mediram-me de cima em baixo, rindo sarcasticamente quando mencionei sobre minha parte na venda dos nossos discos. Não estava acreditando no que estava vendo e ouvindo. O 2º e 3º elementos que eu e o Bobby De Carlo, havíamos convidado para tocar em nossa banda, estavam dando as cartas."
Com o choque inicial ainda se desfazendo, o que ajudou Primo, de verdade, a sacudir a poeira, foi o fato de que aquela não era a sua primeira vez no mundo da música. Ele lançou seu primeiro disco, em formato 78 RPM, pela gravadora TodaAmérica, em 1961 e teve um grande apoio das rádios, como ele mesmo conta: "Devo dizer que consegui sim fazer muitos amigos radialistas e discotecários, em varias emissoras de Rádio, que me privilegiaram, programando minhas músicas 'Ela Me Fez De Limão' e 'Água De Cheiro', em suas programações diárias. Elas ficaram algumas semanas em primeiro lugar em vendas, de uma rede de lojas de nome "Assunção"; que patrocinava o programa "Parada de Sucessos" na Radio Nacional de São Paulo, todos os dias das 11:00 às 12:00".
Foi assim, que, depois de lançar seu LP individual, Primo conta como a história da banda The Jet Black's se iniciou, a partir de sua ida ao programa Ritmos Para a Juventude: "acabei por mentir, para o Aguilar, que tinha um conjunto de rock de nome The Ventures (o qual já existia), e para não passar por mentiroso, recorri ao Bobby De Carlo (meu amigão naquela época) que sugeriu um nome parecido com The Ventures que acabou sendo The Vampires. Portanto, estava dado o início, de ter surgido o conjunto que depois se tornou The Jet Blacks."
Infelizmente, não é assim que a história se lembra de Joe Primo. Inúmeros sites e jornais descartam sua importância na formação dos The Jet Black's, com alguns afirmando que ele nunca fez parte da banda e até dizendo que Gato, José Provetti, foi quem exigiu que o grupo mudasse de nome, já que era super fã da banda The Shaddows, que tinha como single uma canção intitulada Jet Black. Antonio Aguillar, em seu livro, Histórias da Jovem Guarda, corrobora essa versão de Gato e explica: "Posteriormente, Joe Primo e Bobby de Carlo saíram para dar lugar ao Gato, que era um excelente músico. Por sugestão do novo componente, o conjunto mudou de nome. Passou a se chamar The Jet Black's."
O baixista original dos The Jet Black's deixa claro, no entanto, que a ideia veio dele: "O nome da banda foi mudada praticamente por uma casualidade. Dado a intimidade que eu tinha com o cantor que se denominava Jet Black, eu brinquei com ele dizendo: 'Jet Black, você, por ser pequeno deveria se chamar Little Black, e deixar que nós, nos chamássemos Jet Black´s!'." O então, Little Black, concordou com a mudança e o lugar deles na música brasileira estava marcada para sempre, como o site de Lucia Zanetti também detalha.
Já com Os Megatons, o grupo que criou em 1964 com seu irmão Luiz Moreschi e os amigos Edgar e Renato, a história era outra: a premissa do rock continuou a mesma, sendo predominantemente instrumental e quando Wagner Benatti, o Bitão, entrou para o grupo em 1967, eles começaram a investir ainda mais nos vocais, seguindo a linha dos The Beatles, com destaque para a canção Só Penso em Meu Bem. Primeiro eles gravaram um LP, basicamente instrumental pela Gravadora Phillips na época e logo gravaram cantando em um LP do Bobby de Carlo, que fazia parte da formação do The Jet Black's: "Como sempre tive livre acesso aos meios de comunicação radiofônico, graças as amizades que adquiri principalmente através do Serginho de Freitas, radialista da Radio América de são Paulo, e divulgador de gravadoras famosas tais como, a 'Odeon' e com muita penetração na Gavadora Phillips, na qual, consegui gravar um LP instrumental inicial." Quando Os Megatons acabaram em 1968, Wagner acabou se juntou a banda Pholhas em 1969, que agora está planejando um revival.
Hoje em dia, depois de viver tantas vidas em uma só, Joe Primo cuida de uma ONG especializada em tratamento de menores dependentes químicos, a Fundação de Proteção a Criança e Adolescente Maria Aparecida Pedrossian, mas não abre mão de seu lado artístico: pinta quadros por encomenda que ele recebe pelo seu Facebook Oficial e continua a manter, de toda a maneira que pode, a lembrança de suas bandas ainda vivas no coletivo musical.
Perguntado sobre o que ele gostaria de ver incluído se a história dos The Jet Black's fosse contada no cinema, afinal a Caixa de Sucessos é primeiramente um site de cinema, Primo foi bem claro: o roteiro se iniciaria pela sua ida ao programa de rádio Ritmos Para a Juventude, tendo como base sua autobiografia O Personagem Oculto dos Anos 60.
Um personagem oculto, talvez, mas não esquecido.
Primo Moreschi hoje em dia se foca em sua pintura Divulgação/Primo Moreschi |
Todos esses aborrecimentos deixam um gosto amargo na boca, principalmente ao se descobrir que Primo foi jogado de escanteio, em 1964, pelo grupo que formou dois anos antes, ao se internar em um hospital em Campos do Jordão, o Sanatório Nossa Senhora das Mercês, para tratar de sua tuberculose. Na sua volta, alguns meses depois, tudo havia mudado, para pior, como Primo se dispôs a detalhar: "O Jurandi e o Zé Paulo (baterista e contrabaixista do The Jet Black´s) me trataram como se eu fosse um ilustre desconhecido, dizendo que já tinham outro ocupando meu lugar. Mediram-me de cima em baixo, rindo sarcasticamente quando mencionei sobre minha parte na venda dos nossos discos. Não estava acreditando no que estava vendo e ouvindo. O 2º e 3º elementos que eu e o Bobby De Carlo, havíamos convidado para tocar em nossa banda, estavam dando as cartas."
Os integrantes originais do The Jet Black's Divulgação |
Foi assim, que, depois de lançar seu LP individual, Primo conta como a história da banda The Jet Black's se iniciou, a partir de sua ida ao programa Ritmos Para a Juventude: "acabei por mentir, para o Aguilar, que tinha um conjunto de rock de nome The Ventures (o qual já existia), e para não passar por mentiroso, recorri ao Bobby De Carlo (meu amigão naquela época) que sugeriu um nome parecido com The Ventures que acabou sendo The Vampires. Portanto, estava dado o início, de ter surgido o conjunto que depois se tornou The Jet Blacks."
Infelizmente, não é assim que a história se lembra de Joe Primo. Inúmeros sites e jornais descartam sua importância na formação dos The Jet Black's, com alguns afirmando que ele nunca fez parte da banda e até dizendo que Gato, José Provetti, foi quem exigiu que o grupo mudasse de nome, já que era super fã da banda The Shaddows, que tinha como single uma canção intitulada Jet Black. Antonio Aguillar, em seu livro, Histórias da Jovem Guarda, corrobora essa versão de Gato e explica: "Posteriormente, Joe Primo e Bobby de Carlo saíram para dar lugar ao Gato, que era um excelente músico. Por sugestão do novo componente, o conjunto mudou de nome. Passou a se chamar The Jet Black's."
O baixista original dos The Jet Black's deixa claro, no entanto, que a ideia veio dele: "O nome da banda foi mudada praticamente por uma casualidade. Dado a intimidade que eu tinha com o cantor que se denominava Jet Black, eu brinquei com ele dizendo: 'Jet Black, você, por ser pequeno deveria se chamar Little Black, e deixar que nós, nos chamássemos Jet Black´s!'." O então, Little Black, concordou com a mudança e o lugar deles na música brasileira estava marcada para sempre, como o site de Lucia Zanetti também detalha.
Os Megatons acabaram prematuramente em 1968 por motivos pessoais Divulgação |
Hoje em dia, depois de viver tantas vidas em uma só, Joe Primo cuida de uma ONG especializada em tratamento de menores dependentes químicos, a Fundação de Proteção a Criança e Adolescente Maria Aparecida Pedrossian, mas não abre mão de seu lado artístico: pinta quadros por encomenda que ele recebe pelo seu Facebook Oficial e continua a manter, de toda a maneira que pode, a lembrança de suas bandas ainda vivas no coletivo musical.
Perguntado sobre o que ele gostaria de ver incluído se a história dos The Jet Black's fosse contada no cinema, afinal a Caixa de Sucessos é primeiramente um site de cinema, Primo foi bem claro: o roteiro se iniciaria pela sua ida ao programa de rádio Ritmos Para a Juventude, tendo como base sua autobiografia O Personagem Oculto dos Anos 60.
Um personagem oculto, talvez, mas não esquecido.
Querida amiga Gabriella Baliego. Adorei seu Site.Quero apenas elucidar duas partes, que devo ter passado equivocado á você, e no qual retifico, a bem da verdade. A primeira, é a parte em que sou citado como o baixista dos The Jet Black´s, quando em verdade eu era "guitarra base".Já a segunda, está relacionada a frase "Depois de lançar se LP", que o certo seria "Depois de lançar seu 78 RPM". Fora isso, devo lhe dar os parabéns pela leveza de explanação elucidativa, que as entrelinhas de seu poste transmite. Receba um forte abraço deste seu amigo. Joe Primo - Primo Moreschi (The Jet Black´s - Os Megatons)
ResponderExcluirQue legal!
ExcluirOlá, Primo, tudo bom? Muito obrigada pelo seu comentário! Já arrumei o post de acordo com as correções!
ResponderExcluirUm grande abraço!
Foi um prazer entrevistá-lo!
Gabriella Baliego
quem é sempre foi e sempre será e nada nem ninguém pode mudar isso. Você foi um historiador revolucionário da musica no Brasil. Mais importante do que tocar e´o que se faz com o que se toca entenda como uma metáfora. tanto que os Megatons foi mais um testemunho da sua genialidade visionária musical, muito além da sua época. Sempre o admirei e continuo sendo sua fã e do Luizinho
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