A atriz Doris Day é sinônimo de elegância: a mulher perfeita dos anos 50/60 que, além de engraçada, é simpática e envolvente. Sim, quando se fala de Day apenas adjetivos positivos servem. Ela ficou famosa por estrelar em comédias românticas como Confidências à Meia Noite (1959), ao lado de Rock Hudson, Ardida como Pimenta (1953) e a Viuvinha Indomável (1959), mas também não deixou de estrelar em filmes mais sérios, como Dilema de uma Consciência e o Homem que Sabia Demais, ao lado de James Stewart, sendo dirigida por Alfred Hitchcock e, de quebra, interpretando uma de suas canções mais memoráveis: Que Sera Sera (Whatever'll be will be).
Mas foi em A Teia de Renda Negra que Doris Day conseguiu apagar, mesmo que momentaneamente, a figura dócil na qual era colocada e se dispôs a se transformar completamente para o papel, tanto que chegou muito perto de garantir uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz em 1961. Quem foi indicada para o prêmio, no entanto? Irene Lentz, a estilista responsável pelas vestimentas de Day no filme.
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Irene Lentz-Gibbons nasceu em Brookings, na Dakota do Sul, nos Estados Unidos, em 8 de dezembro de 1901 - e não em Baker, Montana como alguns sites afirmam, já que ela só foi para lá aos 10 anos de idade. Desde cedo, aliás, ela já fazia parte do cinema: começou a atuar como extra em alguns filmes mudos aos 20 anos de idade quando se mudou para Los Angeles com seus pais e irmãos. Ser atriz, no entanto, não era o sonho dela.
De acordo com o livro Creating the Illusion (Turner Classic Movies): A Fashionable History of Hollywood Costume Designers de Jay Jorgensen e Donald L. Scoggins, o sonho de Irene era ser pianista! Sim, tanto que, apesar de conseguir alguns pequenos papeis no estúdio de filmes Keytone - já que ela era amiga e também namorada de Richard Jones, diretor do estúdio - sua ambição era se tornar a melhor pianista de concerto que poderia ser. A jornada de Irene na moda começou graças à uma amiga de sua cidade natal, que se matriculou para fazer um curso de design na Wolfe School of Design e queria companhia. Assim, Lentz descobriu sua verdadeira vocação.
De acordo com o livro Creating the Illusion (Turner Classic Movies): A Fashionable History of Hollywood Costume Designers de Jay Jorgensen e Donald L. Scoggins, o sonho de Irene era ser pianista! Sim, tanto que, apesar de conseguir alguns pequenos papeis no estúdio de filmes Keytone - já que ela era amiga e também namorada de Richard Jones, diretor do estúdio - sua ambição era se tornar a melhor pianista de concerto que poderia ser. A jornada de Irene na moda começou graças à uma amiga de sua cidade natal, que se matriculou para fazer um curso de design na Wolfe School of Design e queria companhia. Assim, Lentz descobriu sua verdadeira vocação.
Irene Lentz no filme Ten Dollars or Ten Days (1924) Divulgação/Gif |
Irene e Doris começaram sua parceria através da amizade. As duas eram muito íntimas, com a estilista até revelando que já não amava mais seu marido e que manteve um caso apaixonante com o ator Gary Cooper. Quando Doris Day foi escalada para o filme A Teia da Renda Negra, Irene não estava mais trabalhando para o estúdio e se focava em sua boutique. Ela apenas concordou em fazer os vestidos justamente pela sua relação próxima com Doris Day.
A Teia de Renda Negra (Midnight Lace) conta a história de Kit Preston, vivida por Day, uma esposa troféu típica que tem a estranha sensação de que há alguém que a quer morta. Ela conta para o seu marido, Anthony (Rex Harrison), mas nem ele e nem sua tia Bea (Myrna Loy) acreditam nela. Curiosamente, um jovem chamado Brian Younger (John Gavin) sempre está por perto para ajudá-la. Kit já não sabe mais em quem confiar.
Já na cena inicial do filme é possível perceber essa incerteza: o plano abre e existe apenas a névoa que envolve a personagem, dificultando tanto a visão do espectador quanto a de Kit Preston. O coturno bege de Doris Day se mescla com o cenário, o que faz com que o foco seja seu rosto, o que neste filme, precisa ser o centro de tudo. Assim, os figurinos de Doris são sempre com tons claros, com muito bege, cinza e preto, mas quando uma cor forte aparece, ela tem um papel chave no figurino, e no roteiro de A Teia de Renda Negra.
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Irene Lentz, a estilista do filme, entendia o significado importante que esses momentos de escape se conectavam ao roteiro. Em todas as cenas em que a personagem de Doris Day estava sendo diretamente perseguida, sua roupa era toda fechada, quase como se ela tentasse se fechar como uma armadura.
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O único momento em que ela se sente confortável para usar roupas mais claras, que equivalem a serenidade, é estando em sua casa, ao lado de seu marido, simplesmente por estar em um lugar familiar. Isso se reflete em seu relacionamento com Anthony que a acomoda no papel de esposa submissa e no qual ela, no começo, aceita tão bem.
Kit: submissa assim como suas roupas Divulgação/Montagem |
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Um paralelo interessante na vida real é que Doris Day usou neste filme o mesmo vestido que estava vestindo durante o Oscar de 1960, pelo qual foi indicada como Melhor Atriz pelo filme Confidências à Meia Noite. Isso mostra que tanto Irene quanto a própria atriz acreditavam que ela poderia ganhar uma indicação à estatueta pela sua interpretação, e até, quem sabe daquela vez ganhá-lo. Infelizmente, Day chegou a ser cotado, mas como já mencionado, ficou de fora da lista.
Apesar disso, Irene Lentz ganhou o foco merecido na premiação: se em uma das primeiras cenas, vemos Kit com o seu jumper de renda negra, se exibindo para o marido, sem sequer saber o que está acontecendo, na última cena, vestindo o jumper, ela se dá conta de tudo, quase como se o desfecho já estivesse premeditado.
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