O ciúmes é um assunto universal. Seja ficar com ciúmes de um amigo que está saindo com outra pessoa além de você, um namorado ou namorada flertando com outro alguém bem na sua frente ou até ciúmes do seu irmão, que ganha mais atenção do que você, o ato de sentir ciúmes é universal. Tanto que três das maiores estrelas de Hollywood da década de 1930, Clark Gable, Myrna Loy e a eterna Jean Harlow estrelaram em um filme chamado Wife Vs Secretary, traduzido corretamente como Ciúmes aqui no Brasil.
A história do roteiro é a seguinte: Clark Gable interpreta um empresário do ramo jornalístico chamado Van que é casado com uma mulher linda e independente, sua esposa Linda, vivida por Myrna Loy. A relação deles é perfeita, a não ser por um pequeno e loiro problema: a secretária de Van, Whitey, vivida por Jean Harlow. Mesmo com um noivo, o Dave, interpretado por um novo James Stewart, o ciúmes e a desconfiança de Linda com Van e Whitey, que passam a maioria do tempo juntos, não cede e a relação entre eles começa a ruir.
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Myrna Loy já revelou que esse foi um dos filmes mais sensuais dos quais ela estrelou ao conversar com o estilista David Chierichetti, segundo o autor do livro Myrna Loy - The Only Good Girl in Hollywood. Myrna teria dito: "Aquele mulher tinha um pé na cama durante todo o filme."Clark e Myrna passavam boa parte do filme se beijando e com cenas sensuais - para a época - talvez em um apelo para mostrar que escolher a esposa é sempre melhor do que a secretária, mesmo se ela for Jean Harlow.
Jean, por outro lado, fica em boa parte do filme com roupas modestas, típicas de secretárias da época. Nem na cena em que Linda começa a ver Whitey com outros olhos - na qual estão dando uma festa em casa e Whitey aparece para falar sobre o trabalho super arrumada já que sairia com seu noivo - Jean Harlow está em um vestido mais sensual do que de Myrna Loy. Jean, aliás, aparece pela primeira vez com a cor natural de seus cabelos, sem o loiro platinado que virou sua marca registrada.
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A química entre Gable com suas duas protagonistas é sensacional. Este foi o quarto de cinco filmes que Clark fez com Jean Harlow, com quem ele tinha uma amizade super especial - seu apelido para Jean era Baby e os dois eram como irmão e irmã dentro e fora dos sets de filmagens. Outra curiosidade do relacionamento deles é que antes de morrer, aos 26 anos de idade, Jean estava noiva do "grande amor de sua vida", o ator William Powell que tinha sido casado anteriormente com Carole Lombard, com quem Gable se casaria anos depois, em 1939, para perdê-la em 1942 quando o avião em que ela estava caiu. Sobre Jean, William Powell - que também atuou na saga de sucesso Thin Man - A Ceia dos Acusados com Myrna Loy - revelou: "Ela [Jean] morreu em meus braços. Foi o dia mais triste de minha vida." Clark Gable fez questão de carregar o caixão de sua grande amiga durante seu enterro em 9 de junho de 1937.
Jean Harlow também causou uma grande impressão no novato James Stewart que no filme Ciúmes interpretava seu noivo bobão Dave. Quando perguntando qual era a sua parceira de filmes favorita, Jimmy em entrevista com Michael Munn, respondeu: "Jean Harlow...eu fiz um filme com ela. Ciúmes (Wife Vs Secretary). Eu tinha um papel pequeno porque naquela época quando você tinha um contrato, você fazia papeis pequenos em filmes grandes e papeis grandes em filmes pequenos. Foi um papel pequeno e essa linda garota. Meu Deus...ela era linda! Eu tinha essa cena com ela que sentávamos no carro enquanto eu falava sobre meus planos de vida e nós acabávamos a cena com um beijo. O que tínhamos que falar era pouca coisa e no ensaio não demos muita importância e aí nós beijamos e bem...ela logo tomou a frente e eu soube ali que eu nunca tinha sido beijado de verdade antes disso."
O beijo que James Stewart nunca esqueceu Divulgação/Gif |
Os dois, aliás, namoraram um pouco depois do filme, mas o relacionamento acabou quando Jimmy soube do envolvimento do pai de Jean com gangsteres, coisa que ele achava muito perigoso. Mesmo assim, esse foi o filme responsável por mostrar o grande potencial de Stewart para monólogos, como ele mesmo contou para Michael Munn na biografia Jimmy Stewart: The Truth Behind the Legend. Sobre isso, o ator disse que o diretor Frank Capra, com quem ele fez filmes de muito sucesso, lhe contou que: "há algo em você que os caras comuns conseguem se relacionar e quando você diz um sermão, as pessoas não acham que você está lhes dando uma lição. Eles acreditam em você. Se Clark Gable tentasse fazer isso...bem, quem acreditaria que o rei de Hollywood poderia representar um cara normal?"
Vale lembrar que, posteriormente, Jimmy Stewart deu monólogos maravilhosos em filmes como A Mulher Faz o Homem (1939), como o querido George Bailey no filme A Felicidade Não se Compra (1946), e no filme A Comédia dos Acusados (1936), no qual ele atua com Myrna Loy e William Powell, curiosamente. James credita o filme Ciúmes e seu monólogo sobre um aumento no salário de seu personagem em 20 dólares a razão pelo qual produtores acreditavam que ele sempre deveria ter um longo sermão nos filmes. Não que ele reclamasse, é claro.
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Ciúmes também lidava já em 1936 com o crescimento da força feminina no mercado de trabalho, tratando sobre assuntos de 'casamento x emprego', 'filhos e marido x carreira profissional'. Outro filme da mesma época que lida, mais superficialmente sobre o assunto, é Esposas Ciumentas (1939), com Linda Darnell e Tyrone Power, que, inclusive, o ator teve uma estadia estrelada no Brasil. Mas pela primeira vez, Ciúmes não explorava a imagem sensual de Harlow e deixava outra estrela brilhar, criando um atrito magnífico ao reverter os papeis das estrelas do estúdio MGM, que é um dos pontos altos do filme, além da atuação breve, mas marcante de James Stewart.
Ciúmes (Wife Vs Secretary) pode parecer um filme datado, mas com certeza não o é: o embate da vida familiar e profissional, a dúvida e a culpa que as mulheres sentem em escolher sua carreira e o próprio ciúmes de seu parceiro(a), permanece mais atual do que nunca, 81 anos depois. Quem diria!
Me deu uma vontade de ver esse filme. Excelente matéria.
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