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Os figurinos do filme O Cangaceiro (1953)

O estúdio de cinema Vera Cruz, com o nome de Companhia Cinematográfica Vera Cruz, nasceu em 1949 e entrou em uma dívida irreversível nos anos 50, entrando em falência em 1954. O interessante é que mesmo na bancarrota, o estúdio conseguiu produzir um de seus maiores sucessos, o filme O Cangaceiro de 1953. 

A história do filme, idealizada pelo diretor Lima Barreto, foi inspirada nos filmes de faroeste americanos, mas colocando elementos brasileiros na película. Se aqui não temos caubóis, ele usou a figura dos cangaceiros - homens que viviam fora da rotina e que buscavam vingança pelo modo de vida - para dar vida à sua história, que segue Teodoro (Alberto Ruschel), um fora da lei que acaba se apaixonando pela professora da cidade do interior, Olívia (Marisa Prado). Apesar de Alberto querer ser diretor de cinema, o seu caminho como ator já estava destinado e ele foi considerado por Barreto, o intérprete ideal para Teodoro, segundo conta a revista Cinelândia.

Alberto foi um dos galãs do cinema brasileiro                                     Divulgação/Gif
Mas quem fez sucesso mesmo foi a atriz Vanja Orico, de quem supostamente John Wayne teria gostado tanto durante sua vinda ao Rio de Janeiro, que teria lhe convidado a fazer filmes em Hollywood. Como nós da Caixa de Sucessos, não achamos nenhuma outra evidência que atestasse esse fato, muito provavelmente essa 'vinda' de John Wayne não deve ser verdadeira ou pode ter sido bem breve. 

Mas, voltando ao filme, que foi aclamado durante o festival de Cannes de 1953, ganhando o prêmio de melhor trilha sonora, em uma menção honrosa para Gabriel Migliori, um grande compositor brasileiro, que também trabalhou em outro filme com temática de cangaço, o Lampião, o Rei do Cangaço (1964). O filme também ganhou o prêmio de melhor filme de aventura no festival, que Lima Barreto pode levar para a casa. Mas o foco aqui nesta matéria é o figurino fiel de O Cangaceiro (1953), que foi todo idealizado pelo grande artista Carybé. 

Carybé fez mais de mil desenhos para o filme, cena a cena                 Divulgação/Youtube
Carybé, ou para os mais íntimos Hector Júlio Baridé Bernabó, nasceu em 7 de fevereiro de 1911, num subúrbio de Buenos Aires, na Argentina, ele veio ao Brasil com 18 anos de idade e entre idas e vindas, se naturalizou brasileiro em 1957. A maioria das obras de Carybé (apelido que significa mingau ralo usado para doentes), eram feitos com a técnica de serigrafia - uma técnica na qual você vaza a tinta pela tela -, diferente das cenas que ele fez para o filme O Cangaceiro de Lima Barreto, que era de grafite. Seguindo o storyboard de Carybé, que ele morador da Bahia foi à São Paulo só para fazer isso, a figurinista Jacy Silveira (creditada como guarda-roupa no filme), encontrou as roupas que se adequassem à sua visão. O pintor, aliás, também fez uma pequena participação como figurante no filme. 

A storyboard feita por Carybé foi leiloada em 2014           Divulgação/Leilão de Arte Online

O figurino dos cangaceiros homens não mudam e são extremamente fiéis às figuras do cangaço brasileiro, que teve seu vigor na década de 20 e 30 aqui no Brasil. O traje deles é composto pelo chapéu com o símbolo do signo do salomão (que confere sua força e poder), com alpercatas (calçados feito de couro) e inúmeros acessórios, tornando assim, claro, o orgulho que eles tinham de seu bando e de sua atuação no nordeste brasileiro. Carybé e a figurinista Jacy conseguiram passar essa autenticidade para as telas, sendo que os cangaceiros nunca tiram seus trajes durante o filme: mostrando a fidelidade que eles tem para o seu trabalho. 
Abaixo, a cena do filme e acima uma foto com o bando do Lampião            Divulgação/Montagem
Vanja Orico, aliás, pode ser considerada a protagonista do filme, mais até do que a própria Marisa Prado, a outra metade do casal Teodoro e Olívia, isso porque ao cantar Mulheira Rendeira, a música-tema do filme O Cangaceiro e a história paralela de sua personagem Maria Clódia e do líder do cangaço, Galdino (Milton Ribeiro) é de certa forma uma das forças maiores do filme, não desmerecendo o belo trabalho da atriz Marisa Prado. Ela e Roberto tiveram uma ótima química, o que se transferiu muito bem nas filmagens. É que em termos de figurinos, Vanja, que teve sua estreia no filme de Frederico Fellini, Mulheres e Luzes de 1950, tinha muito mais com o que trabalhar, já que Marisa tinha apenas uma roupa durante toda o filme: o seu uniforme de professora. 

Marisa Prado começou como montadora de filmes, mas sua beleza a destacou      Divulgação/Montagem 
Mesmo com apenas a vestimenta de professora, ela conseguiu transpassar muito seus sentimentos através de seus trajes. Se no começo, na presença de Teodoro e os cangaceiros, ela ficava ereta, com os trajes bem cobertos, assim que ela começa a conhecer seu cangaceiro Teo e a se sentir mais à vontade com ele, ela dobra as mangas de seu vestido, solta o seu cabelo e até pega um dos colares de Teodoro como lembrança dos momentos que passaram juntos - ela não o julga mais, está apaixonada e seu guarda-roupa também denuncia isso. 

Já Vanja, a musa do ciclo do Cangaço, como era conhecida na época, tinha um figurino de cangaço de muito respeito. A única diferença para o vestuário masculino é que ela não usava calças e sim saias compridas, que chegavam até seus tornozelos. Quando não estava em ação, no entanto, ela apostava em roupas sensuais, que combinavam com sua persona sedutora, principalmente quando tinha sua atenção voltada para Teodoro, quem ela sempre amou, mas nunca sentiu o mesmo por ela. A sua cintura está sempre demarcada e ela usa seus cabelos sempre soltos, mostrando sua personalidade destemida e livre. 

A grande estrela do filme O Cangaceiro (1953)


O Cangaceiro (1953) é um dos clássicos do cinema brasileiro. Com diálogos escritos por Rachel de Queiroz, uma grande tradutora e escritora de sucesso, com um especial apreço ao assunto do cangaço, o filme de Lima Barreto tem seu lugar marcado na história, seja pelo seu roteiro que trata de amor e ódio na mesma medida, pelos seus atores talentosos e até pelo seu próprio trabalho e o de Carybé, que adicionaram muito à esse filme 'faroeste-cangaceiro'. Um dos grandes exemplos da qualidade do cinema brasileiro. 






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