*alguns spoilers do filme Labirinto - A Magia do Tempo (1986)
É impossível não associar o filme Labirinto - A Magia do Tempo (Labyrinth, 1986) à persona de David Bowie, grande astro da música e do cinema, que interpretou o inesquecível Jareth, o rei dos goblins do filme. Bowie ficou tão perfeito no papel que o estranho é descobrir que ele não foi a primeira escolha de Jim Henson, diretor do filme, para interpretar o rei - queriam Michael Jackson, Sting ou até Mick Jagger, grande colega de Bowie.
É impossível não associar o filme Labirinto - A Magia do Tempo (Labyrinth, 1986) à persona de David Bowie, grande astro da música e do cinema, que interpretou o inesquecível Jareth, o rei dos goblins do filme. Bowie ficou tão perfeito no papel que o estranho é descobrir que ele não foi a primeira escolha de Jim Henson, diretor do filme, para interpretar o rei - queriam Michael Jackson, Sting ou até Mick Jagger, grande colega de Bowie.
Foto publicitária do filme Labirinto - A Magia do Tempo (1986) |
A história de Labirinto - A Magia do Tempo começa em 1982 quando Jim Henson teve a ideia de criar um filme melhor do que O Cristal Encantado (Dark Crystal, 1982) ao conversar com seu amigo e colega de trabalho, o ilustrador Brian Froud. De acordo com o livro Jim Henson: The Biography de Brian Jay Jones, tudo começou depois de que os dois saíram da exibição do filme Cristal Encantado e Jim teria dito que o próximo filme seria bem melhor. Jim sugeriu um folclore mítico, mas Brian disse que não era o que ele esperava -sugeriu uma história com goblins. Henson, no entanto, queria pessoas na história, já que o filme seria então apenas com marionetes (o que ele achava que foi a falta que fez com que Cristal Encantado fosse um fracasso). Froud então disse que goblins sequestravam crianças no folclore e sugeriu que tivesse um labirinto no meio dessa história.
Jim pensou muito na ideia de Froud e resolveu desenvolver um roteiro, escrevendo páginas e páginas de uma história que poderia se chamar Labyrinth, The Maze ou até The Labyrinth Twist, enquanto estava no Japão para a estreia do filme O Cristal Encantando (1982). Mas a ideia original não era de uma garota e um rei não. Seria, na sua concepção, uma personagem bem brincalhona e um rei que juntos teriam que enfrentar um labirinto repleto de perigos. As ideias de calabouços, portas que tornavam-se vivas e de não saber onde era para cima e nem para baixo já existiam na versão original e continuaram depois, mas o primeiro rascunho do filme era bem mais sombrio - teria um local repleto de joias no labirinto que sangrariam se fossem tocadas. Um tanto perturbador, não é mesmo?
Jim Henson, também criador dos Muppets! Divulgação |
Em março de 1983, Jim resolveu levar suas notas da história, que agora amadurecidas contavam a história de uma menina que descobre mais sobre o mundo através do rei dos goblins, para seu amigo Froud e Denis Lee, um escritor canadense. Froud resolve ilustrar a ideia de Henson e criou um quadro intitulado Toby e os Goblins, no qual um bebê aparecia cercado de criaturas estranhas. Jim gostou tanto que inspirou o trabalho do filme Labirinto - A Magia do Tempo e pendurou o quadro em sua casa. Já Dennis começou a desenvolver um livro com base nas ideias de Henson.
De acordo com o documentário Inside The Labyrinth de 1986, Jim Henson estava interessado em David Bowie desde o começo, mas outras fontes diferem. Terry Jones, roteirista que fez um roteiro do filme O Labirinto - A Magia do Tempo a partir do livro de Dennis Lee afirmou em entrevista para Joe Randazzo que Jim queria Michael Jackson no filme:" Eu escrevi o primeiro rascunho do filme, mas ele não estava feliz com isso. Ele queria que o labirinto aparecesse mais cedo enquanto eu achava que seria mais parecido com o Mágico de Oz. Jim também estava falando sobre Michael Jackson na época, ele queria que ele interpretasse Jareth."
Dennis terminou sua tarefa de escrever um livro sobre as ideias de Jim no final de 1983 e Terry Jones recebeu o material para escrever um roteiro em 1984, ou seja, seguindo essa linha do tempo seria impossível que Bowie soubesse sobre o material tão antes assim. Ou talvez haja outra explicação: Jim Henson queria uma estrela do rock para seu filme e deve ter enviado os desenhos de Brian Froud para vários artistas, no que David Bowie, um artista por si só, provavelmente ficou intrigado e resolveu participar do filme antes mesmo do roteiro ser finalizado. É isso, pelo menos, que ele afirma no documentário do filme, de que ficou interessado pelos desenhos antes de ler o roteiro e também pela possibilidade de atuar, cantar e escrever suas próprias músicas para o filme.
David Bowie ficou super animado para participar do filme |
O roteiro passou por inúmeras revisões até que encontrou seu caminho de volta para Terry Jones, um dos roteiristas de comédia mais renomados. Sobre isso, ele contou: "A história saiu de minhas mãos por um ano e depois voltou e Jim disse 'Você pode colocar as piadas de volta?' e eu recoloquei as ideias originais no roteiro, mas os coloquei no labirinto um pouco mais cedo. Jim insistiu nisso."
Assim Labirinto - A Magia do Tempo (1986) tornou-se a história que tanto assistimos. Nele conhecemos Sarah (vivida por Jennifer Connelly), uma garota solitária que vive com seu pai e sua madrasta e detesta ter que sempre cuidar de seu meio-irmão, Toby (vivido pelo filho recém-nascido de Brian Froud!). Uma noite, cansada, ela pede que os goblins levem seu irmão embora e é exatamente isso que acontece. Arrependida, ela precisa ultrapassar um labirinto muito difícil e escolher entre seus desejos e seu dever sendo ajudada por amigos e atrapalhada pelo rei dos goblins, Jareth (interpretado por David Bowie).
Agora se o envolvimento de David Bowie já estava quase garantido, a atriz que interpretaria Sarah ainda não estava escolhida. Jim Henson começou a fazer audições para o papel em abril de 1984, enquanto o roteiro ainda estava sendo escrito, e acabou se decidindo por uma jovem britânica chamada Helena Boham Carter. No entanto, outras atrizes como Laura Dern, Sarah Jessica Parker e Mary Stuart Masterson também foram consideradas, o que fez com que Henson decidisse escalar uma atriz americana. Helena, então, foi descartada - mas teve uma brilhante carreira posteriormente.
No final de 1984, haviam duas atrizes americanas no páreo: Ally Sheedy, a Allison de O Clube dos Cinco (1985), e Jane Krakowski, que fez muito sucesso na série 30 Rock. Infelizmente, nenhuma das duas ficou com o papel. De acordo com a biografia de Brian Jones, em 29 de janeiro de 1985, uma jovem nova iorquina de 14 anos de idade, Jennifer Connelly fez um teste maravilhoso que fez com que ela ficasse com o papel de Sarah na hora. Duas semanas depois ela já estava com o contrato assinado, mudando-se para Londres com sua mãe para gravar o filme e em fevereiro de 1985 o diretor criou um baile de tema Labirinto, inspirando-se nas artes de Brian Froud, para comemorar a iminente gravação de Labrinto - A Magia do Tempo (1986).
Aliás, o roteiro de Labirinto - A Magia do Tempo era tão bagunçado que além de Terry Jones, as roteiristas Elaine May e Laura Phillips começaram a mexer nele para que as personagens de Sarah e Jareth fossem melhor definidas. Tudo isso em fevereiro de 1985, um mês antes do filme, que tinha um orçamento de 25 milhões de dólares fosse começado a ser gravado nos estúdios Elsetrees.
No entanto, mas uma polêmica ameaçou o filme - Maurice Sendak, escritor de livros infantis e amigo da esposa de Henson, Jane, escreveu um livro em 1981 intitulado Outside Over Here, na qual conta-se a história de uma garota chamada Ida que cuida de sua irmã pequena e que, um dia, é raptada por goblins. Embora o resto da narrativa do livro não tenha nada a ver com o filme O Labrinto, é impossível negar que pela proximidade do autor e diretor que Henson não tenha se inspirado no livro. Sendak estava disposto a processar o diretor, mas Jim Henson resolveu mencionar sua influência nos créditos finais de O Labirinto e assim Maurice retirou as queixas contra o diretor, mas não sem se arrepender depois.
Outro grande nome envolvido na gravação de Labirinto - A Magia do Tempo foi George Lucas, o produtor executivo da obra, que também ajudou a polir o roteiro e depois editar o filme. Já na época de Star Wars, Lucas contratou um ator para vestir a roupa de Darth Vader para passear pelos sets do filme O Labirinto, que começou a ser gravado, finalmente, em 15 de abril de 1985. Os dois diretores, aliás, se conheciam desde o primeiro filme da saga Star Wars, em 1977 quando Henson criou ao lado do maquiador Stuart Freeborn, o icônico Yoda.
Mas Bowie apenas apareceu no set de filmagens em junho, quando ele estava livre e já tinha gravado as canções que ele havia imaginado para o Labirinto (de acordo com as pinturas e a sinopse que lhe foram fornecidas) que seriam lançadas em 26 de junho pela gravadora EMI América (escute!). Isso deu tempo para que Jim Henson ajudasse Jennifer Connelly, que ainda se sentia confusa ao contracenar com os fantoches motorizados do filme. Sobre isso ela conta: "Você tinha um fantoche fazendo vários movimentos e umas seis pessoas trabalhando na mesma coisa, contorcendo e tentando fazer com que a ideia tivesse vida. Era algo lindo."
Sobre trabalhar com Bowie, em uma entrevista rara disponibilizada pela internet, Jennifer parecia muito contente pela oportunidade: "Eu sabia quem ele era por sua música, mas não sabia muito sobre ele. E eu gosto muito da música dele, porque ele muda muito, ele é ótimo. Muitos astros atuais tem apenas um estilo ou ideia, mas David muda muito. Ele é muito criativo e isso transparece e aparece em sua música e por isso ele está no mundo da música há tanto tempo. Quando eu o conheci pela primeira vez, fiquei bem tímida. É bem estranho conhecer alguém que você escuta pelo CD. Ele é bem amigável, bem pé no chão, uma pessoa super simpática e ele é o tipo de pessoa que faz com que você se sinta muito confortável ao lado dele."
David Bowie também não poupou elogios para a jovem atriz ao dar uma entrevista para a revista Bravo em 1987, dizendo que: "primeiro ela foi um pouco tímida, mas no terceiro dia revelou que era uma grande fã minha. Nós demos muito bem."
A química natural (de amizade) entre os dois, apesar da diferença de idade, veio a calhar durante a tão falada cena de baile do filme, na qual a fantasia de Sarah, que é ser uma rainha ao lado de Jareth finalmente é revelada. O filme mostra o desejo que muitas meninas da idade da personagem tem: de terem um romance com um ídolo amado, a fantasia inatingível, e descobrirem que isso nem sempre pode tornar-se realidade e de que, afinal, fantasia e realidade andam sempre lado a lado. O diretor Jim Henson ficou preocupado com essas conotações no filme, como seu filho Brian Henson, que também dublou a voz de Hoggle, conta no livro David Bowie: A Life de Dylan Jones, mas não tinha como escapar disso. Era a história de amadurecimento de Sarah, que tornava-se uma mulher.
Mas se a história entre as personagens humanas do filme não te impressiona tanto, talvez as marionetes o façam: o time de efeitos especiais liderados por George Gibbs construiu a figura de Humongous, um robô de armadura que deve impedir Sarah e seus amigos de buscarem Toby e chegarem à cidade dos goblins - com um esqueleto mecânico com uma estrutura hidráulica para levantar e abaixar seus braços. A figura podia ser controlada por uma pessoa usando uma manga eletrônica que era conectada ao "robô", usando marchas para mexê-lo da cintura para cima.
Em entrevista na época, John Henson um dos cinco filhos de Jim, revelou que as cenas com as marionetes eram uma das mais difíceis: "Eu comecei a trabalhar no filme construindo goblins por seis meses. Então eu trabalhei com os Fireys (as doidas aves) e como fazê-los se mover por três meses. Também trabalhei com as tralhas do filme e as máscaras da cena do baile de Sarah. A maioria das criaturas são esculpidas, primeiro, com plastilina, então moldadas em um gesso-silicone e depois em uma espuma suave. Com Hoggle, o guia de Sarah, por exemplo, os motores do rádio que o controla estão dentro do crânio de fibra de vidro para operar as expressões do rosto. O rosto de Hoggle é como uma máscara com vários botões que acessam músculos individuais do rosto. Isso leva quatro pessoas e tem que haver muito ensaio."
Depois de mais de um ano de produção, com Jim e sua companhia tendo o privilégio de incluírem, pela primeira vez na história do cinema, um animal criado por CGI, ou seja efeitos especiais, nos créditos iniciais de um filme, a obra Labirinto - A Magia do Tempo (1986) foi lançada em 26 de junho de 1986.
As críticas, é claro, não foram muito favoráveis, chamando a personagem Sarah de mimada e sem motivação. Apesar de uma estreia sólida, o filme acabou perdendo o fôlego nas semanas seguintes e tirado de cartaz. Dos 25 milhões de dólares gastos, apenas 12 milhões foram arrecadados. O interessante é que, se na época, o filme foi vaiado nos cinemas, apesar de uma estreia em grande estilo em Londres com a família real, incluindo a princesa Diana, hoje em dia ele é considerado um clássico cult sem defeitos graças à criatividade e esforço de Jim Henson e equipe e as atuações de David Bowie e Jennifer Connelly, que posteriormente seria uma ganhadora do Oscar.
Um dos últimos filmes a fazerem os efeitos manualmente, Labirinto - A Magia do Tempo (1986) prova que a magia sobrevive durante anos, desde que acreditemos. E desde que seja tão belo quanto o David Bowie dos anos 80!
No entanto, mas uma polêmica ameaçou o filme - Maurice Sendak, escritor de livros infantis e amigo da esposa de Henson, Jane, escreveu um livro em 1981 intitulado Outside Over Here, na qual conta-se a história de uma garota chamada Ida que cuida de sua irmã pequena e que, um dia, é raptada por goblins. Embora o resto da narrativa do livro não tenha nada a ver com o filme O Labrinto, é impossível negar que pela proximidade do autor e diretor que Henson não tenha se inspirado no livro. Sendak estava disposto a processar o diretor, mas Jim Henson resolveu mencionar sua influência nos créditos finais de O Labirinto e assim Maurice retirou as queixas contra o diretor, mas não sem se arrepender depois.
A arte do livro de Sendak e o filme O Labirinto - A Magia do Tempo Divulgação/Montagem |
Mas Bowie apenas apareceu no set de filmagens em junho, quando ele estava livre e já tinha gravado as canções que ele havia imaginado para o Labirinto (de acordo com as pinturas e a sinopse que lhe foram fornecidas) que seriam lançadas em 26 de junho pela gravadora EMI América (escute!). Isso deu tempo para que Jim Henson ajudasse Jennifer Connelly, que ainda se sentia confusa ao contracenar com os fantoches motorizados do filme. Sobre isso ela conta: "Você tinha um fantoche fazendo vários movimentos e umas seis pessoas trabalhando na mesma coisa, contorcendo e tentando fazer com que a ideia tivesse vida. Era algo lindo."
Jennifer e Jim Henson no set de filmagens Divulgação |
David Bowie também não poupou elogios para a jovem atriz ao dar uma entrevista para a revista Bravo em 1987, dizendo que: "primeiro ela foi um pouco tímida, mas no terceiro dia revelou que era uma grande fã minha. Nós demos muito bem."
A química natural (de amizade) entre os dois, apesar da diferença de idade, veio a calhar durante a tão falada cena de baile do filme, na qual a fantasia de Sarah, que é ser uma rainha ao lado de Jareth finalmente é revelada. O filme mostra o desejo que muitas meninas da idade da personagem tem: de terem um romance com um ídolo amado, a fantasia inatingível, e descobrirem que isso nem sempre pode tornar-se realidade e de que, afinal, fantasia e realidade andam sempre lado a lado. O diretor Jim Henson ficou preocupado com essas conotações no filme, como seu filho Brian Henson, que também dublou a voz de Hoggle, conta no livro David Bowie: A Life de Dylan Jones, mas não tinha como escapar disso. Era a história de amadurecimento de Sarah, que tornava-se uma mulher.
O filme está repleto de referências Divulgação/Gif |
Em entrevista na época, John Henson um dos cinco filhos de Jim, revelou que as cenas com as marionetes eram uma das mais difíceis: "Eu comecei a trabalhar no filme construindo goblins por seis meses. Então eu trabalhei com os Fireys (as doidas aves) e como fazê-los se mover por três meses. Também trabalhei com as tralhas do filme e as máscaras da cena do baile de Sarah. A maioria das criaturas são esculpidas, primeiro, com plastilina, então moldadas em um gesso-silicone e depois em uma espuma suave. Com Hoggle, o guia de Sarah, por exemplo, os motores do rádio que o controla estão dentro do crânio de fibra de vidro para operar as expressões do rosto. O rosto de Hoggle é como uma máscara com vários botões que acessam músculos individuais do rosto. Isso leva quatro pessoas e tem que haver muito ensaio."
Os melhores amigos de Sarah, Ludo, Hoggle e Sir Didymus Divulgação |
As críticas, é claro, não foram muito favoráveis, chamando a personagem Sarah de mimada e sem motivação. Apesar de uma estreia sólida, o filme acabou perdendo o fôlego nas semanas seguintes e tirado de cartaz. Dos 25 milhões de dólares gastos, apenas 12 milhões foram arrecadados. O interessante é que, se na época, o filme foi vaiado nos cinemas, apesar de uma estreia em grande estilo em Londres com a família real, incluindo a princesa Diana, hoje em dia ele é considerado um clássico cult sem defeitos graças à criatividade e esforço de Jim Henson e equipe e as atuações de David Bowie e Jennifer Connelly, que posteriormente seria uma ganhadora do Oscar.
Um dos últimos filmes a fazerem os efeitos manualmente, Labirinto - A Magia do Tempo (1986) prova que a magia sobrevive durante anos, desde que acreditemos. E desde que seja tão belo quanto o David Bowie dos anos 80!
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