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O estilista Travilla para Marilyn Monroe em Os Homens Preferem as Loiras (1953)

A lenda conta que as fotos de Marilyn Monroe vestindo um saco de batatas em 1952 foram tiradas porque os jornais da época a chamaram de "barata e vulgar" por causa do vestido que ela usava quando recebeu o prêmio de mais promissora iniciante na premiação Henrietta Awards em 1951. O vestido, o primeiro que Marilyn comprou que era bem caro, foi criado por Oleg Cassini - então marido de Gene Tierney - e era vermelho e super decotado! 

A imprensa da época declarou que o vestido era tão ofensivo que teria sido melhor que ela estivesse usando um saco de batatas. O estúdio de Marilyn Monroe, a 20th Century Fox, não deixou barato e um de seus publicitários pediu que o estilista William Travilla desenhasse um vestido de saco de batatas para que Marilyn usasse e tirasse fotos com ele, no qual o fotógrafo Earl Theisen fez também parte. Sobre a façanha publicitária, Earl confessou como noticia a revista American Photo de 1997: "Tudo que ela fez para as câmeras é estudado minuciosamente. Ela sabe exatamente o que está fazendo. Você pode vê-la 'clicar' enquanto você está focando a câmera nela ou preparando-se para ligar a câmera."

Marilyn Monroe provou que ficava bem em tudo!                                 Fotos publicitárias
William Travilla se tornou um grande amigo de Marilyn a partir dessa época e se tornou responsável por inúmeros trajes que a atriz usaria em mais de oito filmes - inclusive o do filme Os Homens Preferem as Loiras (Gentlemen Prefer Blondes, 1953). 

O estilista nasceu em 22 de março de 1920 em Los Angeles na Califórnia e desde criança mostrou uma predisposição para a arte. Seu talento era tanto que aos oito anos de idade, ao participar de aulas em uma escola de artes, ele foi para a turma adulta avançada. Acabou herdando um dinheiro de seu avô e viajou pelo sul do país, até que a Segunda Guerra Mundial começou. Com 18 anos de idade, pensou que seria recrutado, mas por ter o pé-chato foi declinada sua participação e conseguiu terminar sua faculdade de artes. 

Entrou no mundo do showbusiness graças à atriz Ann Sheridan, grande amiga sua, que o contratou como estilista pessoal durante alguns filmes que fez para o estúdio da Warner Bros em 1947 e fez com que ele se tornasse conhecido nesse meio. Antes disso, no entanto, ele trabalhava em uma boutique chique de roupas chamada Jack's enquanto fazia alguns freelas para vários estúdios. Foi em 1944 que ele conheceu Dona Drake, sua futura esposa e atriz birracial, quando ela foi até a loja para fazer alguns vestidos. A paixão foi tanta que os dois se casaram apenas 10 dias depois de se conhecerem, como conta o livro Creating the Illusion de Jay Jorgenson e Donald L. Scoggins. Famosa por personagens mexicanas, ela fingia ser dessa origem, escondendo a verdade sobre sua raça de todos, até de seu marido, já que seria ilegal uma negra casar com um branco na época. A lei da segregação foi apenas revogada nos Estados Unidos em 1948. Os dois se separaram mais de dez anos depois, mas continuaram legalmente casados e amigos, dividindo uma filha chamada Nia Novella. 

Dona Drake e seu marido Travilla em 1948                 Divulgação/Jornal das Moças
Assim, William Travilla entrou de vez no mundo do cinema ao ser estilista e figurinista para inúmeras estrelas, ficando bem próximo de Marilyn Monroe, tão próximo que os dois até tiveram um caso! Os dois trabalharam pela primeira vez no filme O Inventor da Mocidade (Monkey Business, 1952) e Travilla já era um grande nome - tinha ganhado um Oscar de Melhor Figurino pelo seu trabalho no filme As Aventuras de Don Juan (The Adventures of Don Juan, 1948) estrelado por Errol Flynn. 

Marilyn Monroe e William Travilla se conheceram nos estúdios bem antes de qualquer envolvimento artístico, em 1950. De acordo com o livro Goddess: The Secret Lives Of Marilyn Monroe de Anthony Summers, o encontro foi épico: "Minha introdução foi vê-la em um maiô preto. Ela abriu as portas de correr do meu camarim e uma das alças caiu, deixando seu seio exposto. Ela fez isso de propósito. Ela tinha uma qualidade maravilhosa, de ser tão linda, de querer se mostrar. Ela era como uma criança que queria fazer tudo e você perdoaria como perdoaria uma criança. Ela era tanto uma criança quanto um bebê e tanto homens e mulheres a amavam." 

Travilla confessou que os dois tiveram um caso durante a gravação de Homens Preferem as Loiras(1953) quando "Joe Dimaggio estava fora e minha esposa estava na Flórida" e o caso durou apenas algumas semanas. Marilyn tinha inúmeros outros pretendentes. Mesmo assim, é bem possível que essa paixão tenha inspirado Travilla a criar inúmeros trajes maravilhosos para Marilyn, que também o encorajou dando de presente um calendário com fotos nuas dela que dizia: "Por favor, me vista para sempre; com amor Marilyn". 

Marilyn Monroe sendo vestida por Travilla durante Os Homens Preferem as Loiras (1953)          Divulgação
O filme Os Homens Preferem as Loiras (Gentlemen Prefer Blondes, 1953) começou a ser gravado em novembro de 1952, baseado no livro escrito por Anitta Loos e posteriormente adaptado em forma de peça musical por Joseph Field. O filme conta a história de Lorelei Lee, vivida por Marilyn Monroe, e Dorothy Shaw, interpretada por Jane Russell, duas grandes amigas e performers do entretenimento. Lorelei se mete em inúmeras confusões ao buscar seu tão cobiçado diamante enquanto Dorothy tenta livrar sua amiga de problemas ao mesmo tempo que foge da paixão que sente pelo detetive Ernie Malone (Elliot Reid).

De acordo com o livro Dressing Marilyn: How a Hollywood Icon Was Styled by William Travilla de Andrew Hansford e Karen Homer, a cena de entrada de Lorelei e Dorothy no filme, com os vestidos vermelhos com paetê foram feitos com muito cuidado por Travilla, com uma confecção feita de "um tecido de crepe pesado, com milhares de lantejoulas costuradas pelo vestido em toda a direção. O decote profundo do vestido enganou os censores da época ao adicionar um tecido cor de pele por baixo até a cintura, que também deu a sensação de nudez, sem ser muito revelador. O broche de diamantes também cobre a abertura das pernas até as coxas das atrizes."

Jane e Marilyn nos figurinos idealizados por William Travilla                      Divulgação/Montagem
Aliás, sabe aquelas fotos que aparecem por aí de Marilyn Monroe em um vestido dourado com decote profundo parecendo uma deusa? Pois é, o figurino foi criado por William Travilla e seria usado por Marilyn em algumas cenas do filme Os Homens Preferem as Loiras (1953), mas as cenas foram cortadas. A atriz, no entanto, gostava tanto do vestido que sempre o usava em eventos públicos e em premiações importantes.

Marilyn e seu icônico vestido dourado                                        Divulgação/Montagem
Outra grande mudança do filme em relação aos vestidos foi com o lindo vestido rosa que Marilyn usou durante a cena de Diamonds Are a Girl's Best Friends. Originalmente, de acordo com o livro de Andrew Hansford e Karen Homer, o traje seria outro: "o vestido teria um body cor de pele, com diamantes em volta de seu pescoço e seios. Quatro grandes sequências de pedras estavam entre o pescoço até os quadris, que depois tinham ainda mais joias. Atrás, o vestido arrastava com mais veludo cobertos em diamantes para representar uma cauda rebaixada. A tiara tinha mais diamantes e com uma imitação da ave do paraíso em cima. Para completar, luvas pretas."

O vestido, segundo a pesquisa Marilyn Monroe - The Blonde Bombshell de Michelle Krause, custou mais de quatro mil dólares, ou seja, 12 mil reais. Infelizmente, foi bem nessa época que foram descobertas as fotos nuas de Marilyn Monroe para os quais ela pousou para Tom Kelley em 1949, que depois foram publicadas na primeira edição da Playboy. Para conter o escândalo, o estúdio resolveu não abusar tanto com a roupa e William criou o vestido rosa, hoje em dia icônico, bem em cima da hora.

Sobre isso, o estilista confidenciou de acordo com o livro Dressing Marilyn: "Além das duas costuras laterais, o vestido estava dobrado numa forma similar à papelão. Qualquer outra garota pareceria estar usando papelão, mas na tela, eu juro que você acharia que Marilyn estava usando uma pálida e fina peça de seda. Seu corpo era tão fabuloso que funcionou perfeitamente."

Realmente, o "vestido" original era sensual até demais!                         Fotos publicitárias/Montagem
Apesar de alguns contratempos com os vestidos da Marilyn Monroe em Os Homens Preferem as Loiras (1953), o resto dos trajes da película aconteceram como planejados e mostraram a figura da atriz perfeitamente, já que Travilla era contra o costume de Monroe de usar roupas apertadas demais para si. Como um bom estilista ele sabia que caimento era tudo! 

Os figurinos de Marilyn são incríveis                                      Divulgação/Montagem
Sobre ela, Travilla confidenciou: "Ela era a pessoa mais complexa, incrível e magnífica. Ela foi o amor da minha vida, aquela garota."

E aparentemente esse amor pode não ter durado a vida toda na forma de um relacionamento mais íntimo, mas na forma de criações de peças icônicas para Marilyn, como o vestido branco de O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch, 1955) e a peça de maiô de Como Casar com um Milionário (How to Marry a Milionare, 1953), o amor de Travilla por Marilyn durou para sempre.

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