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Loira e Sedutora (Platinum Blonde, 1931) e a comédia de Robert Williams

Em 1931, Robert Williams era próximo o ator revelação de Hollywood. Um ator de comédia com timing próprio, ele estava cotado para ser a próxima estrela de grande porte de Hollywood. Não faz ideia de quem ele seja? Isso tem um motivo: Robert Williams morreu em 3 de novembro de 1931, aos 37 anos de idade (ou aos 34 anos, dependendo da fonte) por apendicite. 

O ator ganhou seu primeiro destaque no filme Loira e Sedutora (Platinum Blonde, 1931) de Frank Capra ao lado da Jean Harlow e de Loretta Young, na época com apenas 18 anos de idade. Apesar de inúmeras críticas positivas, o filme não foi tão bem recebido pelo público, que até hoje acredita que os papeis de Jean e Loretta foram trocados e ambas sofreram com o erro do casting.
Jean Harlow, Loretta Young e Robert Williams: um trio inesquecível                            Divulgação
Loira e Sedutora (Platinum Blonde, 1931) conta a história do jornalista Stew Smith, interpretado por Robert Williams, que vai até a casa dos Schuyler para cobrir a mais nova travessura da herdeira Ann, vivida por Jean Harlow. Os dois se apaixonam e ficam noivos, fato que entristece a moleca Gallagher, a jornalista de Loretta Young, que também o ama, mas sempre é considerada "uma dos rapazes." Será que Smith vai preferir o companheirismo de Gallagher ou o deslumbre de Ann? Só o final dirá! 

A gravação do filme Loira e Sedutora começou em agosto de 1931 e teve uma inovação - apesar da história de homem se casa errado e fica dividido em um triângulo amoroso não ser novidade na época, os diálogos rápidos e precisos eram. O bate e volta entre as personagens do filme foi uma novidade que continua a ser usado em Hollywood e acredita-se que o filme deu origem ao boom das comédias screwball, como a de Carole Lombard em Confissão de Uma Mulher (1937). O diálogo, aliás, era do roteirista Robert Riskin, um dos grandes parceiros de Capra. 

Edward Bernds, engenheiro de som do filme, contou em sua autobiografia Mr. Bernds Goes to Hollywood, que não era fã nem de Loretta e nem Robert durante a gravação do filme: "Minha falta de afeição não era arbitrária ou sem razão. (...) Os atores não estavam com ciúmes de Harlow, eles eram completamente rudes. Eles ficaram de amizade um com o outro e entre as cenas eles riam e flertavam como um par de alunos de colegial, completamente ignorando Harlow. Loretta pode ser livrada da culpa, afinal tinha apenas 18 anos de idade, mas Williams tinha uns 30 anos e deveria ter um pouco de respeito pelos seus colegas." Já outros livros e biografias sobre Harlow afirmam que o Robert Williams e ela tiveram um caso durante a gravação do filme. 

Um dos beijos mais famosos da história do cinema em Loira e Sedutora (1931)                       Divulgação

No começo da concepção do filme Loira e Sedutora (Platinum Blonde, 1931) deveria se chamar simplesmente Gallagher e seria um veículo para que a jovem Loretta Young brilhasse, tanto que ela foi "emprestada" do seu estúdio 20th Century Fox para a Columbia especialmente para ele! Depois, passou para The Gilded Cage - por causa de uma frase da personagem Smith. Mas apesar de Loretta Young estar presente no filme, Capra percebeu, no entanto, que precisava de um apelo mais sexual para seu filme - na época Loretta estava apenas começando- e escalou Jean Harlow, a nova it girl do momento. A adição de Harlow, de acordo com a biografia Hollywood Madonna: Loretta Young, de Bernard F. Dick, envolveu alguns ajustes e a mudança do título para a alcunha de Harlow em Hollywood:  platinum blonde, ou seja, loira platinada!  

Mudança essa, planejada por Howard Hughes, o famoso produtor de Hollywood, que transformou Jean Harlow em uma estrela no filme Anjos do Inferno (Hell's Angel, 1930). Ele sempre emprestava a estrela para outros estúdios e fez uma grande publicidade para Loira e Sedutora, para aumentar o "valor" da atriz no mercado de entretenimento. Foi sua sugestão que o nome do filme mudasse para Platinum Blonde, durante a terceira exibição para os críticos em outubro de 1931, para lucrar ainda mais na alcunha de Harlow. 

Em uma entrevista para o jornalista Arthur B. Friedman em 1957, Frank Capra, o diretor da película, contou um pouco sobre a gravação de Loira e Sedutora (1931): "Foi um dos primeiros filmes de Loretta e com um homem que com toda a certeza teria sido uma grande estrela, Robert Williams, mas ele morreu logo depois do lançamento do filme por apendicite - ele com certeza seria um leve comediante notável. Loira e Sedutora foi o segundo de Harlow, logo depois de Anjos do Inferno (1930). Jean Harlow era uma ótima pessoa para trabalhar. Ela se tornou uma lenda. (...) Ela foi muito mal escalada para o filme. Ela não sabia como uma garota da sociedade era. Ela era uma pessoa ótima, ela queria aprender o tempo todo. " Esse foi o primeiro e último filme que ela fez com Capra.
Robert Williams estava prestes à ter uma carreira sensacional                          Scena Muda/Divulgação
Segundo com a autobiografia de Frank Capra, Jean Harlow estava com muito incerta de sua capacidade e sempre ficava depois de suas gravações para ver e aprender com os outros atores. Para se ter uma ideia, eles tiveram que regravar uma cena inúmeras vezes com a atriz, porque ela pronunciava a palavra biblioteca com um sotaque interiorano e bem carregado! 

Para Loretta Young, o filme também lhe deu inúmeros ensinamentos. Segundo o artigo do site TCM sobre Loira e Sedutora (1931), ela estava acostumada a trabalhar com diretores que controlavam cada aspecto da personagem e ficou surpresa com a liberdade que Capra dava para seus atores. Assim, Capra percebeu a falta de confiança de Young e tal episódio aconteceu: "Capra a puxou para o lado e perguntou: 'O que você pensa dessa personagem Loretta?' e ela logo disse: 'Pensar? Ora, eu não penso, sr. Capra. Eu nunca penso sobre as personagens que interpreto, eu só tento fazer o que o diretor me pede.' Capra, no entanto, gentilmente explicou: ' Loretta, atuar é o que você pensa. Atuar é escutar a outra pessoa e responder, então é vital que você sempre saiba o que pensa.'" 

Loretta e Robert se deram muito bem nas telonas e fora delas                                              Divulgação
O filme foi lançado em 31 de outubro de 1931 e as críticas, como já mencionado, foram satisfatórias, especialmente para Robert Williams. Na época, o jornal The New York Times escreveu: "O Sr. Williams é uma expoente de primeira classe da leve comédia." 

Loira e Sedutora (Paltinum Blonde, 1931), no entanto, era um show de apenas Jean Harlow. Se é a personagem de Loretta Young que dá a volta por cima no final, é Harlow que tem com ele um dos beijos mais famosos do cinema e que aparece, inclusive, na montagem final de beijos do filme Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso, 1988), que nós da Caixa de Sucessos, desvendamos! 

Loira e Sedutora  (1931) pode até ser um majoritariamente de Harlow, mas isso não impediu que as estrelas de Loretta e Robert Williams brilhassem forte, apesar de algumas falhas do filme. Divertido, inteligente e bem-humorado, Loira e Sedutora (Platinum Blonde, 1931) vale a pena para ver Harlow e Young em ação em seus primeiros papeis importantes e é claro o talento cômico incrível de Robert Williams, uma das grandes promessas de Hollywood que nunca se concretizou. 

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