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Jeanette MacDonald e Nelson Eddy em Rose Marie (1936)

Jeanette MacDonald pertencia àquele tipo raro de estrelas que iluminavam as telas, assim que eram captadas. Dona de uma voz de soprano era lógica sua combinação com o ator Nelson Eddy, um barítono classicamente treinado. Juntos, os dois protagonizaram em mais de seis filmes, todos interpretando um par romântico. 

Entre todos esses filmes, um dos mais famosos da dupla é o Rose Marie (idem, 1936). Nele, Jeanette interpreta Rose Marie de Fleur, uma cantora de ópera bela e geniosa que esconde um segredo: seu irmão John (um dos primeiros papeis no cinema de James Stewart) é um fugitivo da lei que precisa de sua ajuda.  Rose Marie vai ao seu encontro e chama a atenção do soldado canadense Bruce, vivido por Nelson Eddy, que também está encarregado de prender o irmão de Marie. Os dois acabam se apaixonando e tem que escolher entre o amor ou a responsabilidade. 

Nelson e Jeanette em foto publicitária ~caliente~para o filme Rose Marie                         Divulgação
Rose Marie começou a ser gravado no outono de 1935 nos EUA, que para os brasileiros seria a primavera, ou seja, o período entre setembro até novembro nas montanhas da Califórnia, EUA. O filme foi baseado na peça de teatro homônima escrita por Otto Harbach e Oscar Hammerstein em 1924 e o filme é bem diferente da peça. 

Se na película, o irmão de Rose-Marie é o fugitivo da polícia, na peça original a história não é bem essa...no palco, Rose Marie de Flamme e Jim, não Bruce, são dois enamorados que descobrem que Jim foi acusado falsamente de assassinar o índio Black Eagle. Assim Rose e outros amigos do sargento lutam para limpar seu nome. No filme de 1936, há apenas uma cena com vários índios, o da música Totem Totem e o guia de Rose Marie, que é índio.
Joan Crawford estrelou em um filme mudo baseado na peça, em 1928, intitulado Rosa Maria (Rose Marie, 1928), que é extremamente fiel à peça, mas é considerado perdido. 

Mas esse não foi o caso com Rose Marie (idem, 1936), estrelado por Eddy e MacDonald. Uma veterana nos filmes, se comparada à Eddy; ela começou 4 anos antes dele no mundo do entretenimento; os dois protagonizaram juntos um filme pela primeira vez em Oh, Marieta (Naughty Marietta, 1935) e o filme fez um grande sucesso para o estúdio MGM. No entanto, o plano inicial ao gravar Rose Marie era colocar a atriz Grace Moore para co-estrelar ao lado de Nelson Eddy. A atriz ainda devia um filme ao estúdio, mas bateu o pé e não o fez, por dois motivos: estava muito ocupada com outros filmes no estúdio Columbia e por não achar que valia a pena remarcar seus compromissos para atuar com um novato como Nelson Eddy. 

Assim Jeanette foi escalada, aproveitando já a fórmula de sucesso da película anterior do par. O filme Rose Marie acabou se tornando um dos musicais mais bem sucedido do estúdio! 

Jeanette MacDonald e Nelson Eddy no lago Tahoe, nos EUA                                Reprodução
Louis B. Mayer, o chefe do estúdio MGM, não quis mudar em nada a fórmula de sucesso de Oh, Marieta (1935), já que Jeanette MacDonald agora estava escalada, novamente, para contracenar com Eddy. Contratou o mesmo diretor do filme anterior, W.S Van Dyke para garantir o sucesso absoluto, que resolveu inovar e filmar fora do estúdio, fazendo com que Rose Marie fosse o primeira filme a utilizar cenas externas, segundo o artigo do TCM.

A química de Eddy e Jeanette era absoluta, tanto que até foi lançado um livro, depois da morte de ambos, na qual a escritora Sharon Rich reuniu inúmeras fontes afirmando que Jeanette e Nelson eram amantes. O livro é Sweethearts: The Timeless Love Affair of Jeanette MacDonald and Nelson Eddy, e conta a história de amor dos dois atores, que segundo a publicação, na época de gravações de Rose Marie, Jeanette se descobriu grávida, mas resolveu fazer um aborto, também por indicação de Mayer. 

Ainda segundo a obra, durante o final dos 51 dias de gravação do filme, os dois mal estavam se falando e Mayer, o diretor do estúdio, estava tão bravo que pediu que os maquiadores deixassem o rosto de Eddy o mais carregado possível, para ficar mal na película, já que os dois teriam o desobedecido e criado um relacionamento. O livro é ainda considerado extremamente controverso, mas a escritora reuniu muitas provas sobre esse suposto relacionamento em seu site, em inglês: https://maceddy.com/.Jeanette acabou se casando com Gene Raymond, que era homossexual em 1937, e Eddy com Ann Denitz, ex-esposa do produtor Sidney Franklin, em 1939. 



Mas, voltando ao assunto do filme, o que sabemos de fato é: Nelson Eddy não estava nada à vontade ao filmar Rose-Marie, afirmando, inclusive que não sabia atuar direito. O talentoso barítono estava se sentindo ameaçado pelo novato Allan Jones, como o livro Hollywood Diva: A Biography of Jeanette MacDonald de Edward Turk conta, pelas palavras do próprio Jones: 
Para a cena de morte em Tosca eu originalmente cantava a ária E lucevan la stelle. Depois que o Nelson viu uma prévia em Pasadena, Califórnia, ele foi até o escritório de L.B Mayer e disse: 'Se você não cortar a ária de Jones do filme, eu vou fazer greve. Você terá problemas comigo.' Então eles tiraram minha ária.
Curiosamente, a próximo co-estrela de Jeanette MacDonald foi o próprio Allan Jones em O Vagalume (The Firefly, 1937). 

Aliás, o que não faltou em Rose Marie foram atores coadjuvantes que acabaram trilhando uma carreira de sucesso! Bem no início do filme, vemos um homem insistente em cortejar Rose Marie, chamado de Teddy. Pois bem, ele era David Niven bem no começo da carreira, tanto que foi creditado como David Nivens.  James Stewart também teve pouco tempo de aparição no filme, mas sua personagem era muito importante. Em entrevista, via Jimmy Stewart: The Truth Behind The Mith de Michael Munn, James revelou: 
Eu me diverti fazendo o filme. Nós tínhamos que gravar em locação.Eu dividi um quarto com o diretor do filme, Woody Van Dyke, e ele gostava de ir dormir enquanto eu tocava meu acordeão. Foi bom que ele gostava de mim, porque ele era conhecido por fazer tudo em uma tomada só para poupar tempo e dinheiro. Mas eu estraguei algumas de minhas cenas e tive que refazê-las. Mas ele foi paciente comigo e me ajudou a fazer o meu melhor. 
James Stewart também foi só elogios para Jeanette MacDonald, afirmando que ela era uma mulher incrível e que também pediu que ele tivesse a melhor cobertura com a câmera, para que a audiência pudesse conhecê-lo e, mais importante, gostar dele. 


David Niven à esquerda e James Stewart, à direita: seus primeiros papeis em filmes         Divulgação/Montagem
Nelson Eddy também se empenhou muito no filme, apesar de ser o protagonista. Segundo o livro Nelson Eddy, America's Favorite Baritone: An Authorized Biographical Tribute de Gail Lulay, ele passou dias treinando para se tornar um cavaleiro experiente, mas nem sempre isso funcionava. Em uma das cenas em que ele deveria pular no cavalo e galopar, ele errou e o cavalo foi embora sem ele. Ainda bem que ele tinha um bom senso de humor e zoou à si mesmo no processo. Sobre isso, ainda de acordo com o livro, Jeanette teria dito: "Ele é o artista menos teatral que eu já conheci." 


Nelson Eddy treinando para suas cenas em Rose Marie       Divulgação
W.S Van Dyke, o diretor de Rose Marie (idem, 1936) era um grande fã do par MacDonald-Eddy e os chamava, respectivamente de Honey (doçura) e Kid (criança). Os dois eram tão amantes da música, já que antes de se tornarem atores eram cantores de ópera, que quando não estavam tão cansados das gravações, reuniam-se e cantavam para os moradores do local. 

Outro momento marcante do filme, foi, exatamente sobre as canções. Se na ópera de teatro, elas eram selecionadas para inúmeros personagens, no filme estrelado por Eddy e MacDonald, as canções foram organizadas de uma maneira, que, todas seriam cantadas apenas pelo casal principal. A Indian Love Call, que conta sobre o amor indestrutível de dois índios, é uma das canções mais conhecidas da parceria entre os dois atores e foi alvo de inúmeras paródias. 



Rose Marie (idem, 1936) foi lançado em 31 de janeiro de 1936 e o sucesso foi tanto que, alguns anos depois, foi relançado para ser assistido no cinema. Com figurinos belíssimos, cantoria da melhor qualidade, e surpreendentemente, por não mostrar os índios como personagens reacionários, ou ruins, e sim os integrando à sociedade dos homens, mas deixando com que eles mantivessem sua individualidade - tudo em uma única cena coreografada por Chester Hale, o filme é um triunfo de sua época. A versão de 1954 não teve o mesmo sucesso e nem é preciso explicar muito, certo? 

Os dois queridinhos de Hollywood ainda tinham muitos filmes para fazerem juntos, mas Rose Marie (idem, 1936) foi um que demonstrou a química incrível que eles tinham e por que, depois de tantas décadas, esse par continua a enfeitiçar cinéfilos em todo o mundo. 


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