*spoilers sobre o filme O Preço de Um Prazer (1963)
Em 1963, a carreira de Natalie Wood estava no topo: dois anos antes, havia recebido sua segunda indicação ao Oscar de Melhor Atriz pelo filme Clamor do Sexo (Splendor in The Grass, 1961) e participou de um dos maiores clássicos musicais de Hollywood: o Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1961). Seu acompanhante no Oscar era ninguém menos do que Warren Beatty, com quem ela viveu um romance - depois de terminar com Robert Wagner!
Em 1963, a carreira de Natalie Wood estava no topo: dois anos antes, havia recebido sua segunda indicação ao Oscar de Melhor Atriz pelo filme Clamor do Sexo (Splendor in The Grass, 1961) e participou de um dos maiores clássicos musicais de Hollywood: o Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1961). Seu acompanhante no Oscar era ninguém menos do que Warren Beatty, com quem ela viveu um romance - depois de terminar com Robert Wagner!
Já Steve McQueen ainda estava no começo de sua carreira cinematográfica, apesar de ter conseguido algum sucesso nas telinhas com a série Wanted: Dead or Alive (1958-61). O lançamento de um de seus mais conhecidos filmes, o Fugindo do Inferno (The Great Escape, 1963) foi no mesmo ano em que ele se juntou à Natalie Wood para protagonizar o filme O Preço de Um Prazer (Love With The Proper Stranger, 1963). Essa foi a ironia: ele se tornou um astro de ação enquanto gravava um drama.
Natalie Wood e Steve McQueen em foto publicitária maravilhosa do filme Divulgação |
O Preço de Um Prazer (Love With The Proper Stranger, 1963) foi dirigido por Robert Mulligan e produzido por Alan J Pakula, que se inspiraram no movimento francês chamado Nouvelle Vague, ou seja, o propósito era fazer um filme íntimo e com inúmeras indecisões pessoais de seus protagonistas. Filmado em preto e branco e focado muito mais nas ações dos personagens e seus intuitos do que nos figurinos, cenários (os mantendo o mais simples possível) - O Preço de Um Prazer (Love With The Proper Stranger, 1963) conseguiu realizar esse intuito em partes.
Porque, apesar de se manter um filme sério e com crises existenciais, num tom neutro e por que não dizer, "bem europeu", O Preço de Um Prazer (Love With The Proper Stranger, 1963) também tem um ar de comédia, que se torna mais evidente no meio para o final do filme. Agora você se pergunta: o que Steve McQueen, um astro de ação e de filmes sérios, estava fazendo em uma tragicomédia? Aproveitando a chance para se provar um ator mais sério e de prestígio ao trabalhar com Robert e Alan, que juntos produziram e dirigiram o sucesso de crítica e público O Sol é Para Todos. O filme ficaria muito bem em seu currículo, assim como no de Natalie!
Steve McQueen e Natalie tinham uma ótima química Divulgação/Foto Publicitária |
De acordo com o livro Natalie Wood: A Life de Gavin Lambert, Steve "leu o roteiro da noite para o dia" e se comprometeu rapidamente ao papel de Rocky, algo que Mulligan e Pakula afirmaram ser o que queriam desde o início, embora tivessem convidado Newman para o papel primeiro. Este foi o primeiro papel de protagonista romântico de McQueen e cimentou de vez Steve McQueen como um simbolo sexual.
Mas um filme, é claro, não é todo definido pelos seus atores e sim pelo seu roteiro. O tabu do filme O Preço de Um Prazer (Love With The Proper Stranger, 1963) é justamente sua história: o aborto ilegal que Angie quer realizar. Vale lembrar que se no Brasil a prática ainda é ilegal, apenas liberado em caso de estupro, se o feto for anencéfalo ou quando há risco à mãe. Já nos Estados Unidos, a prática teve sua lei contrária amenizada em 1973, dez anos após o filme de Natalie e Steve. O assunto em 1963, portanto, era arriscado e ao transformar em uma comédia romântica o final trágico ficou muito previsível, mas não menos chocante para as audiências da época.
Angie e Rocky na clínica de aborto no filme Divulgação
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O fato de que no final do filme (aviso de spoiler máximo a seguir): Angie não consegue realizar o aborto, com Rocky a impedindo, nem é tão previsível, isso porque ela rejeita sua proposta de casamento e se muda de casa, alugando um pequeno apartamento, rejeitando também as propostas do certinho Anthony Columbo, interpretado por Tom Bosley em seu primeiro filme. Mas, como isso é Hollywood e com alguém como Steve McQueen no filme, os dois protagonistas tem que ficar juntos, o que apesar de transformar o filme em uma comédia romântica bem bonitinha, também a torna, no final, previsível, mudando completamente o tom da película de uma hora para outra, ela vai de séria à comédia em um giro de 180º.
Mas o filme tem seus triunfos, como a interpretação impecável de Natalie Wood, atores coadjuvantes muito inspirados, e marca o começo da parceria de Natalie com a estilista Edith Head, com quem a atriz trabalhou em sete filmes, incluindo Os Prazeres de Penélope (Penelope, 1966).
Nem tudo em O Preço de Um Prazer (Love With The Proper Stranger, 1963), entretanto, foram flores! Pelo menos não para Neile Adams, esposa de Steve na época. Natalie estava namorando o galã Warren Beatty, mas o relacionamento estava bem abalado...tanto que ela não conseguiu resistir ao charme de Steve e começou a dar em cima dele, coisa que Neile não gostou nadinha! Em seu livro My Husband, My Friend, ela conta:
Steve ficava maravilhado com os métodos que Natalie aplicava em chamar sua atenção e ficava muito animado para ver seu próximo passo. Mas ele resistiu por dois motivos: ela tinha sido casada com um homem que ele admirava, o Robert Wagner, e ela estava vivendo com outro que Steve gostava muito: o Warren Beatty.
Steve McQueen e sua esposa Neile Adams ao lado de Natalie em 1964 na estreia do filme na França KEYSTONE |
Sobre trabalhar com Steve McQueen, Natalie não poderia ter sido mais doce: "Eu acho que ele é um dos homens mais atraentes que eu já conheci." Natalie também trabalhou duro para implementar partes de sua personalidade na personagem, revelando: "Arnold Shulman, o roteirista do filme, me encontrava para beber três vezes por semana, para que ele conhecesse coisas sobre mim que ele pudesse implementar na personagem."
Sobre sua performance no filme, o diretor Robert Mulligan é quem não poupou elogios: "Natalie era sempre muito aberta em explorar personagens em uma cena. Ela não tinha medo e tentava de tudo. Ela nunca disse que não conseguiria fazer algo."
Natalie Wood nos bastidores de O Preço de Um Prazer (Love With The Proper Stranger, 1963) TCM |
A própria Natalie não negou que fosse verdade: "Fazer O Preço de Um Prazer (Love With The Proper Stranger, 1963) foi uma das experiências mais recompensadoras de minha vida. Minha vida pessoa estava bem caótica naquele tempo e o filme me ajudou, nós éramos como uma família."
O Preço de Um Prazer (Love With The Proper Stranger, 1963) foi um dos primeiros filmes hollywoodianos a mostrar o quão perigoso era fazer um aborto ilegal e como as condições eram primitivas e sem segurança e higiene. O filme choca, mas ao se focar mais no romance do que no dilema das personagens, perde um pouco de sua força como grande denúncia. O tabu de O Preço de Um Prazer (Love With The Proper Stranger, 1963) é denso, mas se perde no meio do caminho ao optar por um final bem seguro, que em retrospectiva, é bem a cara da Hollywood da época.
Steve McQueen e Natalie Wood, no entanto, brilham em seus personagens, e nós fazem lamentar por não terem feitos outros filmes juntos.
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