O filme do sr. Selznick é uma maravilhosa, escrupulosa e generosa versão do livro de 1.037 páginas de Margaret Mitchell, combinando cada cena de uma forma tão literal que nem Shakespeare ou Dickens receberam tal tratamento em Hollywood - crítica no New York Times, 1939.
Depois de dois anos e meio de uma busca desenfreada para obter todos os atores ideais para os papeis de ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939), David Selznick também concentrava seu tempo em conseguir os melhores diretores, roteiristas, maquiadores e figurinistas para que a adaptação do livro de Margaret Mitchell fosse o mais perfeito e fiel possível.
Em 1936, no mesmo ano que ele adquiriu os direitos da obra de Mitchell, Selznick já havia decidido que o diretor de ...E o Vento Levou seria George Cukor, famoso por dirigir filmes como As Mulheres (The Women, 1939), As Mulherzinhas (Little Women, 1933) e Vivendo em Dúvida (Sylvia Sylvester, 1935). Como Cukor estava sob contrato com o produtor e era conhecido por ser responsável por "filmes de mulheres", Selznick estava certo de que tinha feito uma ótima escolha.
Ao lado de Cukor, ele testou inúmeras atrizes e atores, e já tinha escolhido o roteirista Sidney Howard para desenvolver o roteiro do filme. Apesar dos pedidos do produtor, a criadora de Scarlett não queria se envolver com a produção - embora fora dos holofotes ela deixasse claro suas opiniões em cartas e correspondências que foram publicadas no livro The Scarlett Letters: The Making of the Film Gone With the Wind de John Willey Jr.
O sr. George Cukor, que vai dirigir o filme, está movendo o céu e a terra em buscas de novos talentos. - carta de Mitchell datada de 5 de maio de 1937.
Clark Gable, Vivien Leigh e o primeiro diretor, George Cukor, no set de filmagens |
A gravação oficial de ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) começou em 26 de janeiro de 1939 com uma pequena brecha de seis dias começando em 25 de março, no qual Clark Gable usou para se casar com Carole Lombard.
Já o envolvimento de Sidney Howard no projeto começou na metade de dezembro de 1936, assim que Selznick assegurou os direitos da obra. Dedicado, o roteirista leu toda a obra e a condensou em 400 páginas em oito semanas - cortando alguns personagens secundários aqui e acolá, sem perder a essência de ...E o Vento Levou. Mas o roteiro como estava daria um total de seis horas de filme, o que de acordo o livro The Complete Gone with the Wind Trivia Book: The Movie and More por Pauline Bartel, Selznick até considerou em lançar em duas partes.
Temendo que esse formato não agradasse o público, ele trabalhou ao lado de Howard e Cukor e os três fizeram inúmeras revisões até outubro de 1938.
Já o envolvimento de Sidney Howard no projeto começou na metade de dezembro de 1936, assim que Selznick assegurou os direitos da obra. Dedicado, o roteirista leu toda a obra e a condensou em 400 páginas em oito semanas - cortando alguns personagens secundários aqui e acolá, sem perder a essência de ...E o Vento Levou. Mas o roteiro como estava daria um total de seis horas de filme, o que de acordo o livro The Complete Gone with the Wind Trivia Book: The Movie and More por Pauline Bartel, Selznick até considerou em lançar em duas partes.
Temendo que esse formato não agradasse o público, ele trabalhou ao lado de Howard e Cukor e os três fizeram inúmeras revisões até outubro de 1938.
Entretanto, o grande produtor não estava totalmente satisfeito com o roteiro de Howard e chamou inúmeros outros para participarem das reescritas como Jo Swerling, Oliver H. P. Garrett, John Van Druten, Charles MacArthur, Winston Miller, John Baldestron, Michael Foster, Edwin Justus Mayer e até F. Scott Fitzgerald (o mesmo escritor de O Grande Gatsby), que foi demitido em janeiro de 1939 por não conseguir criar meios da personagem Pittypat ser mais engraçada.
Sidney Howard: a mente por trás do roteiro de ...E o Vento Levou |
A verdade é que ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) começou a ser gravado sem um roteiro completo. E foi exatamente por isso que George Cukor, em 13 de fevereiro de 1939, foi embora das gravações e nunca mais voltou.
De acordo o livro The Making of Gone With The Wind por Steve Wilson, Cukor já estava irritado por ter que gravar cada dia uma cena com diálogos diferentes e inúmeras interferências em suas gravações - Selznick comparecia nos bastidores e tinha altas brigas com Cukor por não querer que ele interferisse em sua "obra-prima", já que ele gravava cenas de forma adiantada e como queria. Gable brigava com Cukor por achar que seu ritmo de filmagem era lento e por ele preferir as estrelas femininas - e até por interferir no seu sotaque sulista.
As brigas chegaram ao limite em fevereiro de 1939 e no dia 13 daquele mesmo mês, Selznick e Cukor emitiram uma declaração oficial afirmando que George não seria mais o diretor de ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939). Margaret Mitchell lamentou a decisão e Vivien Leigh e Olivia de Havilland lutaram pela permanência do cineasta, sem grande sucesso. As duas, no entanto, consultavam-se com ele, em segredo, para desenvolverem suas personagens, então pode-se dizer que a influência de Cukor no filme é inescapável.
Em ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) Cukor gravou as seguintes cenas: a cena inicial de Scarlett com os gêmeos, o retorno de Ellen O'Hara para casa, a cena das orações, a conversa de Gerald com a filha, a Mammy vestindo Scarlett para a reunião e descobrindo que ela estava experimentando um chapéu, logo quando estava viúva. A cena de parto de Melanie (no qual Cukor pinçou os pés de Olivia para a dor ficar mais realista), o resgate de Rhett em Atlanta, as cenas de Melanie no Natal e o presente que Scarlett dá para Ashley. Ele foi demitido quando gravava as cenas do bazar.
Foi ai que entrou Victor Fleming! |
Com a demissão de Cukor, Selznick decidiu que revisões de última hora no roteiro eram inaceitáveis e ele se focou em encontrar um roteirista que pudesse arrematar a história de ...E o Vento Levou, sem mais modificações. Victor Fleming, sua escolha de diretor por ter uma amizade com Gable, também havia lhe avisado que o roteiro do filme era "uma porcaria".
Sem demora, ele contratou Ben Hecht, famoso por dar um jeito em qualquer tipo de roteiro e ao lado de Fleming o novo diretor, os três se focaram em melhorar a narrativa. O grupo tomava drogas para ficarem acordados e pílulas para dormirem - estavam exaustos. Quando nem Hecht conseguiu dar um jeito no roteiro, Selznick reconvocou Howard que deu alguns arremates. Infelizmente, Sidney morreu em sua fazenda, no dia 23 de agosto, imprensado por seu trator.
Assim, Selznick continuou a mexer no roteiro, ou seja, a situação das filmagens de ...E o Vento Levou era muito similar a Casablanca (idem, 1942): mudanças todos os dias, a cada minuto.
Outra mudança que não agradou nada as mulheres de ...E o Vento Levou foi a contratação de Victor Fleming (que saiu de seu lugar como diretor de O Mágico de Oz) que diferente de George era uma dos "rapazes" e não tinha nenhuma paciência com suas estrelas femininas. Victor tomou a direção em 2 de março de 1939 e apenas Gable estava contente com sua contratação. Vivien estava horrorizada que Fleming quera transformar Scarlett em uma mulher dissimulada, sem grandes emoções.
Vivien e o diretor tiveram uma grande briga sobre a cena em que Scarlett conhece Belle Waitling, amante de Rhett, no qual Fleming queria que a personagem fosse impiedosa e sem coração - a atriz se recusou. Com a tensão em alta, Fleming ficou fora das gravações por duas semanas.
Sam Wood ficou em seu lugar e dirigiu, de acordo com o livro 140 All-Time Must-See Movies for Film Lovers Now Available On DVD Por John Howard Reid 14% de ...E o Vento Levou até a volta de Fleming. Outros diretores que também responsáveis pela direção foram o próprio David Selznick, William Cameron Menzies e B. Reeves Eason. Fleming voltou ao trabalho em meados de maio e como ele foi o responsável pela maioria das cenas, foi creditado como único diretor da película.
Lendo isso você acha que o problema era só com o roteiro e a relação dos atores com os diretores? Contudo não, os atores também tinham problema com os figurinos de ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939). Walter Pluckett, responsável pelos figurinos, gastou a incrível quantia de U$153, 818 mil, produzindo o total de 5.500 peças. Vivien se sentia desconfortável com a maneira que Walter e Fleming queriam que seus peitos ficassem, mais arrebitados, já que ela tinha que colocar fitas nos seios - o que lhe machucava muito. Já Gable considerava o seu figurino feio e o colarinho muito apertado - como a grande estrela do filme, ele recebeu um guarda-roupa personalizado de Eddie Schmidt, um exímio alfaiate.
Vivien trabalhava mais do que todos - 16 horas por dia em seis dias da semana e no final das filmagens estava exausta - havia perdido bastante peso. Tanto que na cena em que Scarlett briga com sua irmã Suellen, por exemplo, a atriz Evelyn Keyes jura que recebeu um tapa de verdade de Vivien. Butterfly McQueen, a intérprete de Prissy exemplificou bem a demora das gravações com a seguinte frase:
Porém os atores negros também estava passando por maus bocados, especialmente pelo teor racista do livro de Mitchell que Selznick tentou apaziguar na versão cinematográfica. O filme e o livro mostravam os negros escravizados como sendo inúteis se não fossem direcionados pelos brancos - com Mammy sendo a "típica" boa criada.
Inúmeros grupos de militância negra, como a NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor) e a Negro Youth Congress, protestaram contra as filmagens de ...E o Vento Levou logo em sua concepção em 1937. O professor Taulby H. Edmondson escreveu um estudo apenas sobre como os negros lutaram antes, durante e depois da exibição do filme contra os estereótipos racistas da obra - e mais, vários grupos judeus escreveram cartas calorosas sobre a "propaganda supremacista" e "anti-negra" de ...E o Vento Levou.
De acordo com seu estudo intitulado The Wind Goes On: Gone with the Wind and the Imagined Geographies of the American South, enquanto a maioria dos grupos de militância negra ameaçavam protestar e boicotar o filme, o diretor da NAACP, Walter White, escreveu para Selznick recomendando o livro Black Reconstruction in America, 1860-1880 de W.E.B Dubois e pedindo que contratasse conselheiros históricos afro-americanos para estar no set de filmagens, algo que o produtor nunca acatou, com medo do conselheiro cortar várias cenas "cômicas" envolvendo Prissy (em contrapartida, Selznick contratou Will Price para dialetos, Susan Myrick para etiquetas e Wilbur Kutz como conselheiro histórico).
Não obstante do envolvimento limitado da organização, inúmeros jornais negros da época como o Chicago Defender e Los Angeles Sentinel começaram a protestar sobre ...E o Vento Levou e um deles até conseguiu o roteiro do filme, que ainda tinha o ofensivo "nigger"(em tradução, crioulo) dito sobre os negros, mostrando como era absurda essa representação. E mais, condenando os atores negros que faziam parte dessas gravações.
Com medo das matérias negativas sobre o filme, Selznick tomou a seguinte ação: retirou o pejorativo "nigger" das falas (que Hattie McDaniel também se opôs a dizer) e acrescentou "darkie" (algo como escurinho), mas não levou um conselheiro histórico para as gravações. Convidou o principal opositor do filme na imprensa, Earl J. Morris do Chicago Tribune, para observar o set de filmagens e ver como seus pedidos, em parte, tinham sido acatados.
Outra cena cortada do livro, ou melhor, feita de forma diferente nas telonas é a cena em que Scarlett quase é violentada por um negro e os membros da Klu Klux Klan vão atrás dele, em busca de vingança. Na versão cinematográfica isso muda, Scarlett é agredida por um branco e salva por um negro (mas que rouba seu cavalo) - isso porque a ressurgência da Klu Klux Klan na América (graças a II Guerra Mundial) naquela época aterrorizava negros e judeus - inclusive Selznick que era de origem judaica.
Mais uma vez os sentimentos de Selznick eram apenas golpe de publicidade e ele não teve nenhum cuidado de mostrar os personagens negros como pessoas reais. O produtor mostrou o racismo de modo mais sutil, que ainda todos podiam entender, mas que não era tão "ofensivo" e direito como acontecia no livro de Mitchell, afinal Scarlett passa de um sistema de escravizar negros para escravizar prisioneiros em sua madeireira. Muitos consideravam ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) como uma versão mais "leve" de O Nascimento de Uma Nação (Birth of a Nation, 1915).
Tanto que discriminações aconteceram dentro do set, como reconta um extra chamado Lennie Bluett. Ao chegar nas gravações, ele percebeu que havia no banheiro as placas "negro" e "branco", determinando onde cada um deveria usar o banheiro. Indignado com essa segregação, ele se juntou a dois outros extras e alguns atores de papeis maiores e falou com Clark Gable em pessoa sobre o problema. Clark ligou para Victor Fleming, segundo a matéria da People, e afirmou:
Claro que nem tudo no set foi lágrimas e tristezas. Apesar de boatos de que Vivien não suportava o mau hálito de Gable (o que já foi comprovado de que era mentira), todos os membros de ...E o Vento Levou se davam muito bem - jogavam juntos, pregavam peças uns nos outros e se ajudavam no decorrer das cenas - isso até a pressão das filmagens se provar pesada demais para todos.
Uma cena em especial foi quando Mammy e Rhett comemoram o nascimento de Bonnie, a filha de Scarlett com o galã. Os dois tomam uma bebida juntos - o que nas filmagens é substituído por chá gelado. Clark lhe deu um uísque de verdade, para o horror de Hattie que passou o dia inteiro muito quente. Segundo o livro Hattie: The Life of Hattie McDaniel, ela brinca que no dia seguinte Gable passou e lhe indagou: "Como vai a ressaca, Mammy?"
A maior parte do filme foi gravado no estúdio conhecido como Culver Studios em Washington Boulevard, Los Angeles, no Selznick International Studios - Tara, por exemplo, tem todas as suas peças guardadas em um celeiro na Georgia hoje em dia. Muitas cenas externas foram gravadas em Busch Gardens, Pasadena e outras grandes propriedades em Los Angeles, como reconta o site Film Locations.
Com as gravações encerradas em 27 de junho de 1939 e Selznick conseguindo manter a icônica frase "Francamente querida, eu não dou a mínima" apelando aos censores, o primeiro corte de ...E o Vento Levou foi realizado ao lado de Hal Kern em julho daquele ano. Foi ali que Hal acrescentou a voz de Olivia na cena em que Scarlett está se arrastando por Tara, com fome. Os grunhidos de Havilland eram bem mais convincentes do que de Leigh.
Assim, o primeiro corte tinha seis horas, o segundo quatro horas e meia e finalmente chegou as três horas e quarenta minutos que conhecemos.
Em outubro de 1939, Selznick contratou Max Steiner para cuidar da trilha sonora de ...E o Vento Levou (Gone With the Wind, 1939) e em 11 de dezembro de 1939, apenas quatro dias antes da estreia, o filme que todos amavam já estava pronto. A película de Scarlett custou U$4.250 milhões ( o dobro do estimado) e teve um lucro de U$390 milhões mundialmente!
A première de ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) aconteceu na cidade natal da escritora Margaret Mitchell em Atlanta, Georgia, no dia 15 de dezembro. O local era o Loew's Grand Theater e todos os membros importantes do elenco compareceram, menos os negros como Hattie McDaniel e Butterfly McQueen. O historiador Matthew Bernstein credita isso ao fato de que Selznick e Kay Brown acreditavam que era melhor seguir as "regras" de seus hospedeiros, já que no Sul dos EUA, a raça era um assunto delicado - como o filme mesmo mostra.
Ao saber disso, Gable mais uma vez teria se oposto a situação e ameaçado não comparecer a première sem a presença de Hattie e os outros. McDaniel o convenceu ao contrário e na estreia do filme em Hollywood ela estava lá, assim como na cerimônia do Oscar em 1940, no qual ela ganharia seu prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante, a primeira atriz negra a recebê-lo.
...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) fez o maior sucesso no cinema, mas protestantes negros continuavam a deixar claro seu desprezo pelo filme. Melvin B. Tolson escreveu sobre a propaganda "racista, anti-ianque e à favor da KKK" para o Washington Tribune, assim como William L. Patterson para o Chicago Tribune.
Alianças negras em Chicago, Washington, Nova York e Ohio se uniram para impedir a exibição de ...E o Vento Levou (1939), mas sem grande êxito - o máximo que conseguiam era que o filme não fosse exibido em bairros da comunidade afro-americana. E mais, na noite do Oscar que aconteceu no Ambassador Hotel no Coconut Groove, protestantes negros se reuniram na porta pedindo que Hattie McDaniel não aceitasse o Oscar, já que sua personagem era um claro estereótipo racial e um "desserviço a raça". A atriz não aceitou a oferta - o prêmio era uma honra.
Anos mais tarde, o grande ativista negro Malcolm X afirmou que quando via a atuação de Butterfly McQueen como Prissy ele queria "se esconder debaixo de um tapete." Hattie, aliás, se sentou separada do elenco branco de ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) naquele fatídico dia 29 de fevereiro em 1940 no qual as regras de anúncio do Oscar mudariam para sempre graças à um jornal que publicou as vitórias de antemão. Hattie, contudo, recebeu sua estatueta com orgulho, declarando em seu discurso:
Dos treze Oscars que ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) concorria, a produção ganhou oito deles: Vivien Leigh como Melhor Atriz, o prêmio de Hattie (Olivia também concorria na categoria e chorou quando perdeu), Victor Fleming como Melhor Diretor, Sidney Howard com seu póstumo Oscar por Melhor Roteiro Adaptado, além de Melhor Fotografia, Direção de Arte e Melhor Montagem. Selznick ganhou o prêmio honorário Memorial Irving G. Thalberg por suas realizações como produtor.
Após o desfecho bem-sucedido, Selznick desistiu de fazer uma continuação pela relutância de Mitchell em desenvolver uma segunda história de O'Hara. Assim ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) ganhou inúmeras paródias, adaptações e até uma peça de 9 horas de duração lançada em Tókio em 1966 pelo grande empresário Kazuo Kikuta.
O sucesso foi tanto que a versão da peça ...E o Vento Levou foi transformada em musical, com letras de Harold Rome, roteiro de Horton Foote e coreografia de Joe Layton, e encenada em diversos países como o Japão e Reino Unido até 1976 sob o título Scarlett. Em 1972, Kay Brown recebeu uma oferta de transformar o mundo de Margaret Mitchell em um parque de diversões, como revela a matéria do New York Public Library, mas a proposta nunca chegou a ser concretizada.
No âmbito da literatura, ...E o Vento Levou ganhou duas continuações oficiais com Scarlett de Alexandra Ripley (resenha aqui!) e O Clã de Rhett Butler e a Jornada de Ruth (contando a vida de Mammy) pelo escritor Donald McCaig. Scarlett ganhou uma versão em minissérie ainda mais desastrosa do que o livro em 1994, estrelada por Joanne Whalley e Timothy Dalton.
Já o filme ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) continua a arrancar defesas estrondosas de seus apreciadores e críticas pesadas de seus opositores. Recentemente, uma exibição do filme foi banida em Charlottesville, na Virgínia, depois de uma passeata de supremacistas brancos na região, com a mostra sendo considerada insensível por grande parte da população.
Alguns afirmam que por ser uma obra de 1939 retratando um período de 1860, sob o ponto de vista dos brancos, era óbvio que ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) não trataria os brancos como vilões, porém não mostrar o mínimo de sensibilidade sobre raça e a dimensão da Guerra Civil, incluindo as lutas dos negros escravizados, mostra o quão raso e unilateral, em termos de história americana, o filme realmente é.
Expor os defeitos de ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) de nada tira os méritos de seus atores, consultores, diretores e assistentes e sua grandiosidade cinematográfica, e sim nos ajuda a entender a época em questão, o ponto de vista no qual a história é contada e, esperançosamente, pode nos ajudar a ter o mínimo de interpretação para entender como o filme é tendencioso e apoiado no mito da "Causa Perdida" dos sulistas - afinal foi escrito sob o ponto de vista de uma deles.
...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939), assim como todos os clássicos, não é uma unanimidade. O telespectador pode ver o bom, o ruim e o errado e como isso pode, e deve, nos ajudar a evoluir como sociedade. O poder de exibição cinematográfica de ...E o Vento Levou, a protagonista determinada e corajosa, a história arrebatadora de amor, sempre vai atrair, merecidamente, novos espectadores - mas não podemos fingir que os lados negativos - e obviamente racistas - da narrativa não existam. A solução não é deixar de assistir, mas sim ver o filme com discernimento, sempre.
O importante é termos consciência de que a verdadeira história tem sempre dois lados. ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939), apesar de seu sucesso e marca irrevogável na memória no cinema, não é nenhuma exceção.
Assim, Selznick continuou a mexer no roteiro, ou seja, a situação das filmagens de ...E o Vento Levou era muito similar a Casablanca (idem, 1942): mudanças todos os dias, a cada minuto.
Outra mudança que não agradou nada as mulheres de ...E o Vento Levou foi a contratação de Victor Fleming (que saiu de seu lugar como diretor de O Mágico de Oz) que diferente de George era uma dos "rapazes" e não tinha nenhuma paciência com suas estrelas femininas. Victor tomou a direção em 2 de março de 1939 e apenas Gable estava contente com sua contratação. Vivien estava horrorizada que Fleming quera transformar Scarlett em uma mulher dissimulada, sem grandes emoções.
Scarlett, Melanie e Ashley Wilkes. |
Sam Wood ficou em seu lugar e dirigiu, de acordo com o livro 140 All-Time Must-See Movies for Film Lovers Now Available On DVD Por John Howard Reid 14% de ...E o Vento Levou até a volta de Fleming. Outros diretores que também responsáveis pela direção foram o próprio David Selznick, William Cameron Menzies e B. Reeves Eason. Fleming voltou ao trabalho em meados de maio e como ele foi o responsável pela maioria das cenas, foi creditado como único diretor da película.
Lendo isso você acha que o problema era só com o roteiro e a relação dos atores com os diretores? Contudo não, os atores também tinham problema com os figurinos de ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939). Walter Pluckett, responsável pelos figurinos, gastou a incrível quantia de U$153, 818 mil, produzindo o total de 5.500 peças. Vivien se sentia desconfortável com a maneira que Walter e Fleming queriam que seus peitos ficassem, mais arrebitados, já que ela tinha que colocar fitas nos seios - o que lhe machucava muito. Já Gable considerava o seu figurino feio e o colarinho muito apertado - como a grande estrela do filme, ele recebeu um guarda-roupa personalizado de Eddie Schmidt, um exímio alfaiate.
Os vestidos icônicos de Scarlett |
Meu contrato era de apenas seis semanas mas eu fiquei por lá quase um ano todo...só para falar uma frase louca como: 'Sra. Scarlett, Sra. Scarlett!' Clark Gable era um perfeito cavaleiro e Vivien trabalhou arduamente. - entrevista do livro Films and FilmingPor outro lado, Olivia estava insatisfeita com a saída de Cukor, mas continuava a realizar seu trabalho. Leslie Howard ressentia ter que se transformar em um "homem bonito" com maquiagens e roupas, sentindo-se uma farsa no auge de seus 45 anos, e estava exausto por ter que alternar entre as filmagens de ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) e Intermezzo (idem, 1939).
Hattie e Oscar Polk em fotos mais descontraídas no set Herb Bridges |
Inúmeros grupos de militância negra, como a NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor) e a Negro Youth Congress, protestaram contra as filmagens de ...E o Vento Levou logo em sua concepção em 1937. O professor Taulby H. Edmondson escreveu um estudo apenas sobre como os negros lutaram antes, durante e depois da exibição do filme contra os estereótipos racistas da obra - e mais, vários grupos judeus escreveram cartas calorosas sobre a "propaganda supremacista" e "anti-negra" de ...E o Vento Levou.
De acordo com seu estudo intitulado The Wind Goes On: Gone with the Wind and the Imagined Geographies of the American South, enquanto a maioria dos grupos de militância negra ameaçavam protestar e boicotar o filme, o diretor da NAACP, Walter White, escreveu para Selznick recomendando o livro Black Reconstruction in America, 1860-1880 de W.E.B Dubois e pedindo que contratasse conselheiros históricos afro-americanos para estar no set de filmagens, algo que o produtor nunca acatou, com medo do conselheiro cortar várias cenas "cômicas" envolvendo Prissy (em contrapartida, Selznick contratou Will Price para dialetos, Susan Myrick para etiquetas e Wilbur Kutz como conselheiro histórico).
Protestos de negros contra a exibição do filme em Washington, 1940. |
Com medo das matérias negativas sobre o filme, Selznick tomou a seguinte ação: retirou o pejorativo "nigger" das falas (que Hattie McDaniel também se opôs a dizer) e acrescentou "darkie" (algo como escurinho), mas não levou um conselheiro histórico para as gravações. Convidou o principal opositor do filme na imprensa, Earl J. Morris do Chicago Tribune, para observar o set de filmagens e ver como seus pedidos, em parte, tinham sido acatados.
Outra cena cortada do livro, ou melhor, feita de forma diferente nas telonas é a cena em que Scarlett quase é violentada por um negro e os membros da Klu Klux Klan vão atrás dele, em busca de vingança. Na versão cinematográfica isso muda, Scarlett é agredida por um branco e salva por um negro (mas que rouba seu cavalo) - isso porque a ressurgência da Klu Klux Klan na América (graças a II Guerra Mundial) naquela época aterrorizava negros e judeus - inclusive Selznick que era de origem judaica.
Como membro de uma raça que está sofrendo com perseguição... sou muito sensível aos sentimentos dos grupos de minorias. - Selznick, pronunciamento 1939.
Hattie McDaniel, Oscar Polk e Ben Carter (Jeems) conversando durante uma brecha nas filmagens Herb Bridges |
Tanto que discriminações aconteceram dentro do set, como reconta um extra chamado Lennie Bluett. Ao chegar nas gravações, ele percebeu que havia no banheiro as placas "negro" e "branco", determinando onde cada um deveria usar o banheiro. Indignado com essa segregação, ele se juntou a dois outros extras e alguns atores de papeis maiores e falou com Clark Gable em pessoa sobre o problema. Clark ligou para Victor Fleming, segundo a matéria da People, e afirmou:
Se você não tirar essas placas do banheiro agora, você não tem um Rhett Butler.Enquanto a comunidade negra se unia contra os estereótipos do filme, os atores sofriam trabalhando até altas horas e discordando do rumo de seus personagens. Enquanto Vivien queria mostrar mais humanidade de Scarlett, Clark Gable se recusava a gravar a cena em que Rhett descobre que Scarlett sofria um aborto e chorar - apenas concordou quando viu a filmagem, concordando que era o melhor para o filme.
Rhett Butler e Mammy - dois amigos, enfim! |
Uma cena em especial foi quando Mammy e Rhett comemoram o nascimento de Bonnie, a filha de Scarlett com o galã. Os dois tomam uma bebida juntos - o que nas filmagens é substituído por chá gelado. Clark lhe deu um uísque de verdade, para o horror de Hattie que passou o dia inteiro muito quente. Segundo o livro Hattie: The Life of Hattie McDaniel, ela brinca que no dia seguinte Gable passou e lhe indagou: "Como vai a ressaca, Mammy?"
A maior parte do filme foi gravado no estúdio conhecido como Culver Studios em Washington Boulevard, Los Angeles, no Selznick International Studios - Tara, por exemplo, tem todas as suas peças guardadas em um celeiro na Georgia hoje em dia. Muitas cenas externas foram gravadas em Busch Gardens, Pasadena e outras grandes propriedades em Los Angeles, como reconta o site Film Locations.
Cenas dos bastidores de ...E o Vento Levou Bison Archives |
Assim, o primeiro corte tinha seis horas, o segundo quatro horas e meia e finalmente chegou as três horas e quarenta minutos que conhecemos.
Em outubro de 1939, Selznick contratou Max Steiner para cuidar da trilha sonora de ...E o Vento Levou (Gone With the Wind, 1939) e em 11 de dezembro de 1939, apenas quatro dias antes da estreia, o filme que todos amavam já estava pronto. A película de Scarlett custou U$4.250 milhões ( o dobro do estimado) e teve um lucro de U$390 milhões mundialmente!
A première de ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) aconteceu na cidade natal da escritora Margaret Mitchell em Atlanta, Georgia, no dia 15 de dezembro. O local era o Loew's Grand Theater e todos os membros importantes do elenco compareceram, menos os negros como Hattie McDaniel e Butterfly McQueen. O historiador Matthew Bernstein credita isso ao fato de que Selznick e Kay Brown acreditavam que era melhor seguir as "regras" de seus hospedeiros, já que no Sul dos EUA, a raça era um assunto delicado - como o filme mesmo mostra.
Ao saber disso, Gable mais uma vez teria se oposto a situação e ameaçado não comparecer a première sem a presença de Hattie e os outros. McDaniel o convenceu ao contrário e na estreia do filme em Hollywood ela estava lá, assim como na cerimônia do Oscar em 1940, no qual ela ganharia seu prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante, a primeira atriz negra a recebê-lo.
...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) fez o maior sucesso no cinema, mas protestantes negros continuavam a deixar claro seu desprezo pelo filme. Melvin B. Tolson escreveu sobre a propaganda "racista, anti-ianque e à favor da KKK" para o Washington Tribune, assim como William L. Patterson para o Chicago Tribune.
Alianças negras em Chicago, Washington, Nova York e Ohio se uniram para impedir a exibição de ...E o Vento Levou (1939), mas sem grande êxito - o máximo que conseguiam era que o filme não fosse exibido em bairros da comunidade afro-americana. E mais, na noite do Oscar que aconteceu no Ambassador Hotel no Coconut Groove, protestantes negros se reuniram na porta pedindo que Hattie McDaniel não aceitasse o Oscar, já que sua personagem era um claro estereótipo racial e um "desserviço a raça". A atriz não aceitou a oferta - o prêmio era uma honra.
Anos mais tarde, o grande ativista negro Malcolm X afirmou que quando via a atuação de Butterfly McQueen como Prissy ele queria "se esconder debaixo de um tapete." Hattie, aliás, se sentou separada do elenco branco de ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) naquele fatídico dia 29 de fevereiro em 1940 no qual as regras de anúncio do Oscar mudariam para sempre graças à um jornal que publicou as vitórias de antemão. Hattie, contudo, recebeu sua estatueta com orgulho, declarando em seu discurso:
Eu sinceramente espero que sempre serei um crédito para a minha raça e para a indústria do cinema. Meu coração está muito cheio para dizer como me sinto. Deixe-me dizer obrigada e que Deus abençoe.
Dos treze Oscars que ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) concorria, a produção ganhou oito deles: Vivien Leigh como Melhor Atriz, o prêmio de Hattie (Olivia também concorria na categoria e chorou quando perdeu), Victor Fleming como Melhor Diretor, Sidney Howard com seu póstumo Oscar por Melhor Roteiro Adaptado, além de Melhor Fotografia, Direção de Arte e Melhor Montagem. Selznick ganhou o prêmio honorário Memorial Irving G. Thalberg por suas realizações como produtor.
Após o desfecho bem-sucedido, Selznick desistiu de fazer uma continuação pela relutância de Mitchell em desenvolver uma segunda história de O'Hara. Assim ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) ganhou inúmeras paródias, adaptações e até uma peça de 9 horas de duração lançada em Tókio em 1966 pelo grande empresário Kazuo Kikuta.
O sucesso foi tanto que a versão da peça ...E o Vento Levou foi transformada em musical, com letras de Harold Rome, roteiro de Horton Foote e coreografia de Joe Layton, e encenada em diversos países como o Japão e Reino Unido até 1976 sob o título Scarlett. Em 1972, Kay Brown recebeu uma oferta de transformar o mundo de Margaret Mitchell em um parque de diversões, como revela a matéria do New York Public Library, mas a proposta nunca chegou a ser concretizada.
Produção original de Londres com Harve Pernell como Rhett e June Ritchie como Scarlett Amazon |
Já o filme ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) continua a arrancar defesas estrondosas de seus apreciadores e críticas pesadas de seus opositores. Recentemente, uma exibição do filme foi banida em Charlottesville, na Virgínia, depois de uma passeata de supremacistas brancos na região, com a mostra sendo considerada insensível por grande parte da população.
Alguns afirmam que por ser uma obra de 1939 retratando um período de 1860, sob o ponto de vista dos brancos, era óbvio que ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) não trataria os brancos como vilões, porém não mostrar o mínimo de sensibilidade sobre raça e a dimensão da Guerra Civil, incluindo as lutas dos negros escravizados, mostra o quão raso e unilateral, em termos de história americana, o filme realmente é.
As frases mais icônicas do filme |
...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939), assim como todos os clássicos, não é uma unanimidade. O telespectador pode ver o bom, o ruim e o errado e como isso pode, e deve, nos ajudar a evoluir como sociedade. O poder de exibição cinematográfica de ...E o Vento Levou, a protagonista determinada e corajosa, a história arrebatadora de amor, sempre vai atrair, merecidamente, novos espectadores - mas não podemos fingir que os lados negativos - e obviamente racistas - da narrativa não existam. A solução não é deixar de assistir, mas sim ver o filme com discernimento, sempre.
O importante é termos consciência de que a verdadeira história tem sempre dois lados. ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939), apesar de seu sucesso e marca irrevogável na memória no cinema, não é nenhuma exceção.
Nenhum comentário
Postar um comentário