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Ontem, Hoje e Amanhã - a autobiografia tão esperada de Sophia Loren

Sophia Loren não é estranha ao mundo das autobiografias. Em 1979, quando sua carreira já tinha grande estabilidade, ela autorizou o lançamento de Sophia: Living & Loving. Her Own Story de A.E Hotchner. Um ano depois, a própria atriz interpretou a si mesma e sua mãe Romilda em uma adaptação cinematográfica do livro intitulado Sophia Loren: Her Own Story (1980), dirigido por Joanna Crawford. 

Antes disso, Sophia já havia lançado inúmeros livros culinários - a italiana ama cozinhar - como In The Kitchen With Love em 1971, Sophia Loren's Recipes & Memories em 1998 e até um livro intitulado Women & Beauty no qual ela dá dicas de estilo, maquiagem e muito mais para outras mulheres. 

Mas foi apenas em 2014, aos 80 anos de idade, que Sophia decidiu que era hora de contar a história de sua vida, com suas próprias palavras. Assim nasceu o livro Ontem, Hoje e Amanhã: A Minha Vida, publicado pela editora BUR em italiano. No Brasil, a autobiografia de mais de 330 páginas, e inúmeras fotos maravilhosas, foi publicada com uma ótima tradução pela editora Best Seller. 

Sophia Loren brilha em sua carreira e nos seus livros 
É o meu baú de segredos e, de repente, sinto um aperto no coração. Tenho a tentação de deixá-lo onde está. Muito tempo se passou, muitas emoções. Mas resolvo pegá-lo, tomo coragem e volto lentamente para o meu quarto. Talvez este seja meu presente de natal. Só me resta abri-lo. - Ontem, Hoje e Amanhã: A Minha Vida, pág 12.
É assim que Sophia Loren decide narrar sua autobiografia. O leitor começa a acompanhá-la no prólogo, com a atriz descrevendo uma tarde ao lado de seus netos e empregada, preparando-se para o Natal em família. Antes de dormir, naquele mesmo dia, a atriz "desenterra" um baú de memórias e o leitor está em seu encalço, enquanto ela se recorda através de bilhetes, fotos e manchetes de jornais sobre sua vida até aquele momento.

Com uma narrativa não linear, Sophia conta desde sua infância sofrida na II Guerra Mundial, a ausência de seu pai e sua decisão de se tornar atriz, com um empurrão de sua mãe Romilda. Seu sucesso, fracasso e o amor pela atuação, além de seus filhos e sua vida glamourosa, mas sempre muito bem regrada. 

A nostalgia é um recurso muito bem utilizado pela italiana, que nos leva com ela em uma viagem rica, munida de uma linguagem direta e informal. Apesar de Loren nos dar clareza sobre sua carreira e sua vida, não se engane, ela nunca mostra demais - talvez isso seja consequência de sua personalidade mais fechada, no qual ela deixa suas emoções muito bem guardadas. Mais direta que Sophia Loren, impossível!

Tanto que até na parte no qual a diva italiana narra sobre sua prisão - Sophia ficou presa por 17 dias na Itália em 1982 por problemas com o fisco que depois foi inocentada - a esposa devotada de Carlo Ponti demonstra sua inquietação, porém sem entrar nos detalhes mais dolorosos de sua estadia. São apenas reminiscências contadas de uma forma mais leve, mas nunca diminuindo sua gravidade. Sophia em Ontem, Hoje e Amanhã: A Minha Vida não se mostra completamente vulnerável - essa é sua personalidade. 


Loren saindo de sua estadia na prisão em 1982 - anos depois conseguiu provar sua inocência
No entanto, o episódio mais chocante que Sophia expõe em Ontem, Hoje e Amanhã: A Minha Vida é a vez que ela estava em um avião com Carlo Ponti e ao fazer uma menção engraçadinha sobre Cary Grant - o astro ficou completamente apaixonado por Loren ao atuarem juntos em Orgulho e Paixão (The Pride and The Passion, 1957) - o seu marido lhe deu um tapa na cara na frente de todo mundo. 

Em sua autobiografia ela narra como ficou constrangida, mas também de certa forma encantada:
Não sabia onde me enfiar, mas no fundo estava contente. Tinha finalmente a confirmação que procurava há tempos: Carlo me amava, eu tinha feito minha escolha e, mais do que isso, tinha escolhido bem. - Sophia Loren, Ontem Hoje e Amanhã: A Minha Vida, pág 137.
Não fui só eu que fiquei abismada com esse episódio na vida de Loren e, mais, incomodada com a forma que Sophia diminuiu sua importância. Violência de qualquer tipo é sempre algo sério e nunca deve ser visto com leveza. Uma jornalista do The Telegraph entrevistou a atriz sobre a autobiografia e também não cedeu às suas justificativas, rebatendo que "ciúmes não é o equivalente do amor". Neste momento, a jornalista descreve que: "Sophia fica em silêncio, o que não é comum, já que ela é uma pessoa extremamente falante." 

Sophia ao lado de Cary e de seu amado Carlo: ficaram casados até a morte dele em 2007
Em respeito aos seus filhos, Carlo Jr. e Edoardo, além de seus quatro netos e a memória de Carlo Ponti que faleceu em 2007, aos 94 anos, Sophia detalha seu romance com Cary Grant, com quem ela atuou em Orgulho e Paixão (The Pride and The Passion, 1957) e Tentação Morena (Houseboat, 1958), porém como algo mais inocente e é objetiva ao afirmar que não tinha dúvidas que no final escolheria o produtor italiano. Carlo era do seu mundo, Cary não.
Por ironia da sorte, logo depois Cary e eu nos casamos diante das câmeras em Tentação Morena: ele, com uma gardênia na lapela e eu com um lindo vestido de renda branca. Sophia Loren: Ontem, Hoje e Amanhã pág 135.
Curiosamente, essa foi a única vez que Sophia se casou de forma tradicional, seja no cinema ou na realidade. A atriz teve apenas um casamento rápido com o produtor no México em 1958 e um considerado válido em 1966. Contudo, ela permaneceu muito amiga de Cary Grant e conta várias notas de amizade e carinho que ela dividiu com o astro e como Carlo, depois de um tempo, também começou a aceitá-lo. 

Apesar de falar sobre sua vida pessoal, contando até sobre sua dificuldade em se tornar mãe e sobre alguns abortos espontâneos, Sophia foca muito mais em sua carreira, nos levando com ela em seus concursos de beleza, sua vida como extra no Cinecittà, seu trabalho em fotonovelas, ser descoberta por Carlo Ponti e sua grande chance, aos 19 anos, ao ser dirigida por Vittorio de Sica em O Ouro de Nápoles (L'oro di Napoli, 1954). Também conta curiosidades de astros com quem ela trabalhou como Frank Sinatra, John Wayne, Vittorio Gassman, Silvana Magano, além dos bastidores de seus filmes. 

O tão amado baú de recordações de Sophia Loren 
Sophia também sabe conseguir manchetes e por isso até menciona sua rixa com outra grande atriz italiana, Gina Lollobrigida, afirmando que tudo não passava de uma armação dos jornais alimentando a competição entre mulheres. Fez questão de afirmar que não tinha nada contra Gina. Isso não impediu que Gina, em seu festão de 90 anos em 2017 dissesse isso sobre Loren: 
Eu não estava procurando rivalidade com ninguém. Eu era a número 1. - Gina Lollobrigida para o jornal Corriere della Sera.
A viúva de Carlo Ponti, no entanto, parece esquecer em sua autobiografia que ela, inclusive, alimentou essa rivalidade, chegando a afirmar que a personalidade de Gina era limitada e que sim, suas medidas de busto eram maiores do que as de Lollo. Até cutucou Lollobrigida ao afirmar que "nunca critica os mais velhos." Ouch! 

Rivalidades à parte, é inegável a criatividade de Sophia Loren em sua autobiografia Ontem, Hoje e Amanhã: A Minha Vida. Ela utiliza um recurso tão simples como um baú de recordações para mostrar o bom, o ruim e as dificuldades de sua existência. Até os interlúdios, no qual a atriz retorna ao presente para preparar o Natal em família, são usados em seu favor: traz uma familiaridade ao leitor, como se ele fizesse parte do círculo íntimo de Sophia Loren e estivesse bem ali com ela, segurando sua mão durante o passeio. 

Sophia Loren com seus queridos filhos
Uma autobiografia honesta, Ontem, Hoje e Amanhã: A Minha Vida tem o título do filme de Sophia com Marcello Mastronianni de 1963 não por coincidência: foi uma grande obra prima em sua carreira que a reuniu com as pessoas que mais gostava no seu país favorito, a Itália. Traz, aliás, uma mensagem de esperança, na qual a vida continua muito além da ficção - e pode ser tão divertida quanto seu striptease sensual no filme. 

Com 334 páginas, a autobiografia de Sophia Loren Ontem, Hoje e Amanhã: A Minha Vida pela editora Best Seller é indispensável na prateleira de seus fãs. Mesmo se você não for super interessado na atriz, ao ler o livro, garanto que vai descobrir uma mulher que não foge de seus princípios: uma guerreira e acima de tudo, uma pessoa com os pés no chão e com o coração bem fincando em suas raízes italianas. 

Apesar de não contar tudo queremos saber, Sophia dosa muito bem as tragédias de sua vida com as felicidades e constrangimentos - tratando até sobre sua icônica foto ao lado de Jayne Mansfield - mostrando que aos 80 anos de idade, na época do lançamento, ela não tinha nenhuma pretensão de diminuir o ritmo. 

Tanto que em pleno 2020, seu mais novo filme La Vita Davanti a Sé, dirigido pelo seu filho Edoardo, estreará na Netflix. Tem um amanhã mais belo do que esse? 

INFORMAÇÕES SOBRE O LIVRO ONTEM, HOJE E AMANHÃ: A MINHA VIDA


Livro: Ontem, Hoje e Amanhã: A Minha Vida
Autor(a): Sophia Loren
Páginas: 334
Editora: Best Seller 

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