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3 papeis essencias que Ingrid Bergman lutou para conseguir

Ingrid Bergman foi uma guerreira durante toda a sua vida. Antes dela nascer, sua mãe Friedel Adler deu à luz duas outras crianças: a primeira morreu no parto e a segunda uma semana depois. Sete anos após sua terrível perda, Frieda, como era carinhosamente apelidada, recebeu de braços abertos Ingrid, nomeada em homenagem à então princesa da Suécia. 

Aos três anos de idade, a futura atriz perdeu a mãe por uma doença no fígado. Ingrid, então, foi criada por seu pai, Justus Samuel Bergman, um professor de música. Desde pequena, a menina foi incentivada a se tornar uma cantora de ópera e seu pai sempre a filmava em seus aniversários e enaltecia suas ambições. 

Samuel faleceu quando a jovem Ingrid tinha apenas 13 anos de idade e ela teve que se mudar para a casa de sua tia paterna, Ellen Bergman, que faleceu seis meses depois. Logo se foi para casa de sua tia Hilda, seu marido e cinco filhos, que desaprovavam o desejo de Ingrid se tornar atriz.

Perseverante, ela não se importava. Em 1933 ela foi a escolhida para uma bolsa integral no Royal Dramatic Theatre em Estocolmo, na Suécia, o mesmo local de estudo de Greta Gustafson que se tornou a enigmática Greta Garbo. Aos 19 anos, Ingrid foi escalada para seu primeiro papel Munkbrogreven (idem, 1935) e nunca mais parou.

Apesar de conseguir reprisar seu papel de maior sucesso na Suécia, em Intermezzo (idem, 1936) na versão Hollywoodiana pelo produtor David O' Selznick de 1939, ao lado de Leslie Howard, Ingrid teve que continuar a lutar pelos papeis que mais queria. 

Apaixonada pela atuação, ela não desejava ser estereotipada como a "boa garota" e lutava por papeis diferentes, com camadas e que mostrassem todo o seu talento. Assim nós da Caixa de Sucessos listamos 3 papeis importantes que Ingrid lutou para conseguir. 

O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1941)

Ingrid, Spencer Tracy e Lana Turner para o filme

Depois de estrelar a versão Hollywoodiana de Intermezzo (idem, 1939), e chamar atenção por seu talento nato e maneirismos suaves, Ingrid não teve a decolagem de sua carreira como esperava. 

Apesar de ser a estrela principal em filmes como Os Quatro Filhos de Adam (Adam Had Four Sons, 1941) e Fúria No Céu (Rage in Heaven, 1941), as suas personagens eram doces, gentis e não exigiam uma atuação desafiadora de sua parte. Assim, ela estava decidida em mudar as coisas e interpretar a cantora de saloon Ivy Peterson na versão cinematográfica do livro O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1941) era a solução. 

De acordo com a biografia Ingrid Bergman: A Personal Biography por Charlotte Chandler, o diretor Victor Fleming abordou a atriz para interpretar o papel de Beatrix, noiva do Dr. Jekyll Hyde, no filme. Ela teve que convencer o cineasta de que poderia interpretar a sensual Ivy, certa de que essa seria sua grande chance. 


Ingrid fez o teste e com a ajuda de Fleming, que estava apaixonado por ela e por seu teste excepcional, conseguiu o papel da prostituta Ivy. Lana, acostumada a interpretar femme fatales, fez um ótimo trabalho com a doce Beatrix, noiva do personagem de Spencer. As duas atrizes mostraram seus valores.  
Pela primeira vez eu sai da jaula que me emprisionava e abri uma janela para o mundo exterior. Eu toquei coisas que eu esperava que estivessem lá, mas nunca havia me arriscado em ver. Estou tão feliz com esse filme que sinto como se estivesse voando. Não sinto mais nenhuma amarra. Eu posso voar cada vez mais alto porque as barras da minha jaula estão quebradas. - Ingrid Bergman sobre seu papel no filme em Ingrid Bergman: The Life, Career and Public Image por David Smit. 

O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1941) foi um grande sucesso de bilheteria e os críticos exaltaram seu "talento brilhante" e sua capacidade de elevar qualquer tipo de personagem. Baseado em seu triunfo, ela foi escolhida para interpretar a femme fatale Elsa em um de seus maiores sucessos em Casablanca (idem, 1942) e cimentou de vez seu lugar como uma das deusas do cinema. 

À Meia Luz (Gaslight, 1944)

Ingrid ao lado de Charles Boyer

Após seu sucesso em Casablanca (idem, 1942) e Por Quem os Sinos Dobram (For Whom the Bell Tolls, 1943), Ingrid estava planejando seu próximo passo com bastante cuidado. Ela almejava outro papel como Ivy em O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1941), só que com maior destaque e ainda mais desafiador. 

Ansiosa para quebrar sua imagem íntegra, cuidadosamente cravada pelo seu agente e produtor David O' Selzsnick, Ingrid ficou muito interessada quando soube que a peça Gaslight, ou como na Broadway era chamada de Angel Street, de Patrick Hamilton ganharia mais uma versão cinematográfica depois da de 1940, estrelada pela britânica Diana Wynyard. 

Certa de que essa seria sua grande chance, quando Ingrid soube que a MGM havia adquirido os direitos da peça, ela ficou muito esperançosa. E ainda mais quando descobriu que Selzsnick estava negociando para emprestá-la ao filme. Mas segundo dizia-se, Charles Boyer insistia em ter seu nome primeiro nos créditos e o produtor não rebaixaria sua grande contratada para o segundo lugar.

Ingrid com seu Oscar de Melhor Atriz por À Meia Luz (Gaslight, 1944)

Ingrid, certa de que brilharia no filme, não queria saber! De acordo com o livro de David Smit, ela queria o papel de Paula Alquist e esperneou, chorou e implorou até que o produtor concordasse em aceitar as condições de Boyer. E assim foi feito. 

Eu teria me ajoelhado para David se fosse necessário. Felizmente, não foi. À Meia Luz era um dos meus filmes favoritos e uma das melhores experiências da minha vida. - Ingrid em entrevista para a biógrafa Charlotte Chandler. 

Dirigida por George Cukor e interpretando uma mulher que é levada à loucura, pouco a pouco, pelo seu marido, cunhando o popular termo gaslighting,Ingrid ganhou seu primeiro Oscar de Melhor Atriz. 

Assassinato no Expresso Oriente (Murder on the Orient Express, 1974)

Ingrid mais uma vez brilhou no filme

Em 1974, anos após sua volta triunfal aos EUA, Ingrid estava ainda mais exigente quanto aos papeis que ela aceitaria participar. Em 1949, ela foi banida de Hollywood por se apaixonar pelo diretor italiano Roberto Rossellini - na época, ela era casada com Petter Lindström, com quem tinha a filha Pia. 

Para viver seu amor, Bergman deixou para trás Hollywood e se focou na carreira em filmes italianos, em sua maioria dirigidos pelo marido. Com ele, Ingrid teve três filhos. Mas com o fim de seu casamento, ela estava pronta para Hollywood e com Anastasia (idem, 1956) voltou triunfante para os cinemas e ganhou seu segundo Oscar de Melhor Atriz. 

Assim, ela lutou por mais papeis desafiadores e encontrou sucesso em filmes como Indiscreta (Indiscreet, 1958) e o delicioso Flor de Cacto (Cactus Flower, 1969), além de apostar em uma de suas maiores paixões: o teatro.

Foi, aliás, atuando na peça The Constant Wife que ela foi abordada pelo diretor Sidney Lumet para participar do filme Assassinato no Expresso Oriente (Murder on the Orient Express, 1974). 

Ingrid ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por esse papel em 1975

Em sua autobiografia Ingrid Bergman: My Story, ela relembra que o cineasta queria que ela interpretasse o papel da Princesa russa Dragomiroff e ficou inconformado que Ingrid queria interpretar a empregada Greta Ohlsson:
Sidney achava que o papel não era bom o suficiente para mim. Eu disse: 'Na história toda tem o Albert Finney interpretando o Hercule Poirot. Todos os outros papeis tem mais ou menos o mesmo tamanho e eu acho que posso ser bem engraçada nesse papel pequeno. Eu tenho várias ideias de como interpretá-lo e eu quero parecer horrível nele'. Finalmente, ele caiu nessa e deu o papel da princesa russa para Wendy Willer, que fez um ótimo trabalho. 

Ingrid, mais uma vez, estava certa e por sua interpretação na adaptação cinematográfica do clássico livro de Agatha Christie, ela ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. 

Por volta dessa época, Ingrid descobriu um pequeno caroço em seu seio, após um autoexame, mas se recusou a ir ao médico para não atrapalhar sua peça A Constant Wife de 1973. Um ano depois ela passou por uma mastectomia e uma rodada de quimioterapia. 

O câncer logo se espalhou para os linfonodos e ela tinha um grande tumor embaixo do braço direito, que escondia usando um chale. Apesar das dificuldades, Ingrid manteve sua luta em segredo e faleceu exatamente no mesmo dia de seu nascimento, em 29 de agosto de 1982 aos 67 anos. 

Ingrid em seu último papel Golda (idem, 1982)

A atriz trabalhou até o fim de sua vida e após um hiato em Sonata de Outono (Autumn Sonata, 1978), nos agraciou uma última vez com o filme para a TV Golda (idem, 1982). Uma das maiores musas da sétima arte, Ingrid Bergman era tão talentosa quanto astuta e provou, mais uma vez, seu valor com esses filmes incríveis. 



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