Rosa Yoshico Miyake Okuhara se tornou a primeira protagonista nipo-brasileira de uma novela por obra do destino. Aos 21 anos de idade, ela já era uma cantora de grande popularidade no país, em especial entre a comunidade japonesa de São Paulo. Com uma voz marcante, ela apostava no estilo enka [mistura de sons tradicionais japoneses com ritmos ocidentais] e, entre a Jovem Guarda, recebeu o apelido carinhoso de 'Rosinha'.
Nascida em 15 de março de 1945 em Guararapes, no interior de São Paulo, Rosa é a 'caçulinha' de seis irmãos. Seus pais, Raigo e Chie Miyake desembarcaram no porto de Santos, no litoral paulista, à bordo do vapor Hawaii Maru, no dia 16 de setembro de 1927. Originários de Okayama, no Japão, eles vieram ao país com o primogênito Tameo, de então 2 anos, e os irmãos de Raigo, Hiroshi e Juichi, sob a promessa de prosperarem como agricultores de cana de açúcar.
Os outros irmãos de Rosa, Paulo Tamaki, Olga Gakue, Tereza Hitomi e Laura Tokyo também nasceram em Guararapes, em São Paulo. Apesar da infância humilde, quase todos eles dividiam um amor em comum, que era a música. Em entrevista para a Caixa de Sucessos, Rosa reconta com muito gosto: "A minha família era de pessoas que gostavam de cantar. Exceto uma irmã minha que não gostava, mas o resto...Eu sou a mais nova de seis irmãos e eles adoravam cantar".
Rosa Miyake nos anos 60 |
De Guararapes, a família se mudou para a Itapecerica da Serra em busca de novas oportunidades, mas infelizmente, o pai de Rosa faleceu alguns anos depois, em 1952. A dona Chie, então com 49 anos, precisou sair do lugar de dona de casa e trabalhar para ajudar no sustento da família. De acordo com a biografia sobre a atriz, Rosa da Liberdade de Ricardo Taíra, ela foi para o bairro da Penha e pelas redondezas, encontrou emprego por ser uma exímia costureira.
Aos sete anos, Rosa foi matriculada em uma escola para se familiarizar com o idioma português, porém sem nunca esquecer suas raízes. Dona Chie percebeu, desde cedo, o grande talento da 'rapa de tacho' para a música e fazia de tudo para ajudá-la a se desenvolver: "Quem incentivou bastante foi a minha mãe. Ela estava sempre comigo, onde eu ia, ela ia. Era o sonho dela me ter assim. Aprendi a cantar, a cantar em italiano, tinha aulas. Em japonês, também. Eu tinha um professor maestro [chamado Rolf] que ia na Rádio Santo Amaro e a gente treinava. Foi bacana".
A Rádio Santo Amaro é um marco central nessa história: fundada em 1955 foi lá que Rosa conheceu seu futuro agente e marido Okuhara 'Mario' Kiyomassa. O empresário, ao lado dos pais, Koga e Uto, os irmãos Koei, Kohaku e Yasu, além da avó, tios e primos, desembarcou no porto de Santos, aos 8 anos de idade, à bordo do La Plata Maru, no dia 4 de agosto de 1937. Vindos de Okinawa, no Japão, bem no começo da II Guerra Mundial, eles foram contratados para trabalharem como lavradores em Cafelândia, no interior de São Paulo. Koei, o mais velho, depois de vários empregos, pegou gosto pela publicidade e decidiu investir no rádio, levando consigo Mário, que se tornou diretor-gerente. Os irmãos Okuhara também contaram com o apoio de outros sócios nessa empreitada.
Rosa Miyake em apresentação em 1966 |
A Rádio Difusora Hora Certa Santo Amaro ficava localizada na Praça da Liberdade, 61 -8º andar e era uma febre entre a comunidade japonesa no Brasil. Chie, certa de que a filha tinha muito potencial, a inscreveu desde os 10 anos de idade em alguns concursos na rádio e não demorou para que a jovem chamasse atenção dos irmãos por sua voz e desenvoltura inerentes:
Então, eles [Mário e Koei] tinham um programa de rádio que se chamava a ‘Voz do Nissei’. Então a gente se apresentava, de vez em quando me entrevistavam e eu tive assim uma passagem. Não é que eu comecei na rádio, eu comecei me apresentando em concursos e daí o Mário viu e disse olha: ‘Você não quer cantar? Vamos fazer umas apresentações’. E eu disse: ‘Que legal, eu quero sim, quero cantar!’. Mas era assim, calouro mesmo, eu gostava de cantar. Então foi ele mesmo quem me levou para a carreira. Me levando para gravar e essas coisas. - revelou Rosa sobre o desenrolar de sua carreira.
Nessa época, ela ainda teve o prazer de conhecer Kyu Sakamoto, em 1964, no III Festival Internacional da Canção no Rio de Janeiro. Foi no Maracanã que Rosa ficou frente à frente com um dos maiores ídolos da música japonesa: "Nossa eu conheci o cara ali, maravilhoso, humilde, alegre". E esse era só o começo!
O começo da carreira musical
Considerada uma das maiores representantes da comunidade japonesa no Brasil, Rosa foi votada como 'A melhor cantora da colônia nipo-brasileira' e até conquistou o troféu 'Voz de Ouro', tornando-se a primeira princesa do concurso de Miss Nissei da Rádio Santo Amaro.
Talentosa, não demorou para que Rosa recebesse sua primeira e grande chance no mundo da música. Com Mário Okuhara como seu empresário - e a presença constante da mãe Chie, que não a largava nem por um instante - ela firmou contrato com a gravadora Chantecler. Apoiada pela Rádio Santo Amaro, Rosa lançou o compacto 'A Rosa Japonesa Que Canta' em 1966, com dois hits do superstar japonês Kyu Sakamoto: 'Hitori Botti Ga Sabishino' [em tradução: Sem Ninguém] e 'Koi no, Bye, Bye' [em tradução, Bye Bye Querido por Mário].
Naquele mesmo ano, Rosa teve seu primeiro contato com o Rei, Roberto Carlos, em sua apresentação no Cine Jóia, no bairro da Liberdade em São Paulo. Ele teve ajuda da cantora para aprender 'Sukiyaki' de Kyu Sakamoto e ficou impressionado. Logo, ele a convidou para participar do programa 'Jovem Guarda', que ficou no ar entre 1965 a 1968. Lá Miyake chamava atenção com seus trajes exuberantes e que reverenciavam, sempre, a cultura japonesa. Rosa, inclusive, gravou 'Namoradinha de um amigo meu' em japonês, fato que deixou o Rei boquiaberto.
Rosa Miyake ao lado do Rei, Roberto Carlos (Arquivo Pessoal de Rosa Miyake) |
A novela 'Yoshico, um Poema de Amor (1967)'
Para divulgar seu trabalho como cantora, Rosa participava de vários programas da época como 'Clube dos Artistas', 'Almoço com as Estrelas', ambas na TV Tupi [antigo canal 6], e até fazia participações no 'Chacrinha'. Rosa, sempre bastante aberta, admitiu que no começo da carreira era bastante tímida e, para superar as limitações, se apresentava no maior número de atrações para 'se soltar'.
Foi aí que ela recebeu, através do empresário Mário Okuhara, o convite para 'Yoshico, um Poema de Amor (1967)':
Eu fui convidada e eu disse: ‘Mas novela?’ Eu estava começando a carreira de cantora, mas era uma oportunidade, me disseram. ‘Olha, vai, faz que você vai ver’. Mas eu nunca representei, sabe aquela coisa? Cantar eu estava ai começando e aí veio essa parte da novela e eu fiquei ‘Meus Deus!’. Foi a primeira vez mesmo [atuando]. Então você imagine como eu me senti. Foi a autora da novela [Lucia Lambertini] quem me convidou. Então foi através da Tupi que ela me chamou para que eu fosse trabalhar nesta novela e a emissora falou também 'Rosa, vai lá'.
Rosa Miyake ao lado de Luis Gustavo na novela (Arquivo Pessoal de Rosa) |
Para criar 'Yoshico, um Poema de Amor', Lúcia se inspirou na radionovela cubana 'O Pecado de Oyuki' de Yolanda Vargas Dulché, que posteriormente virou uma novela em 1988. No original, Oyuki é explorada por seu terrível irmão e enfrenta preconceitos por se apaixonar por um de seus clientes, filho de um embaixador britânico.
Na novela brasileira, a história não envolve a prostituição: durante uma viagem para o Japão, Luís Paulo de Araújo (Luis Gustavo) conhece e se apaixona por Yoshico (Rosa Miyake). Herdeiro de uma família rica, ele já está comprometido com Beatriz (Tilde Franchesci) e enfrenta o preconceito de todos para viver esse grande amor. A família de Yoshico, em especial o pai Kawabata-San (Ednei Giovenazzi) é contra o namoro, já que não quer que a filha se case com um ocidental.
Dirigida por Antonio Abujamara, 'Yoshico, um Poema de Amor (1967)' ainda contou com um elenco de peso do teatro brasileiro: além de Giovenazzi, outros veteranos foram Ivete Bonfá, Ruthinéa de Moraes, Raymond Duprat como Hitachi, Lúcia Mello, Diná Lisboa, Jesus Padilha como Rui (que foi morto na novela após ser contratado pela TV Excelsior). Já da própria Tupi, como relata o livro 'De Noite Tem' de Marco Gianfrancesco e Eurico Neiva, havia Marlene França como Rosa, Guiomar Gonçalves, Xisto Guzzi, Clenira Michael, Nello Pinheiro, Telcy Perez, Ana Maria Neumann e Clara Lee.
Fotos de divulgação de 'Yoshico, um Poema de Amor (1967)' |
'Yoshico, um Poema de Amor (1967)' marcou a volta de Lambertini à TV Tupi e estreou o horário das 18h30 no canal 6, que durou apenas mais duas atrações. Para Rosa, que nunca havia sequer atuado, as gravações foram extenuantes e a privaram, temporariamente, do prazer de cantar. O folhetim ficou no ar de 9 de janeiro de 1967 a 31 de março (de segunda a sexta-feira), com o total de 60 capítulos. Tito Blanchini ficou na direção de TV, Pedro Jacinto na sonoplastia, Rubens Barra e José Pelégio, respectivamente, na cenografia e iluminação.
Rosa, em reminiscência sobre a novela, defende que Lúcia soube escrever lindamente sobre o romance interracial e o preconceito com que muitas famílias tradicionais japonesas viam o namoro entre seus descendentes e os ocidentais: "Um ocidental brasileiro que trabalha na fazenda da família de repente conhece a filha do imigrante. Entende? Ali começa aquele romance, porque ela é brasileira, nasceu aqui. Foi para a escola e tudo e os pais eram imigrantes, aqueles bem tradicionais, não permitiam o namoro. Mas teve muito mesmo. Alguns fugiam durante à noite ou fugiam para casar, coisas assim. Então eu sei que a autora deve ter estudado muito isso e quis passar isso para mostrar que não é fácil a vida de um imigrante, de um nipo-brasileiro. Então ela fez essa história bonita de amor".
Luis Gustavo ao lado de Tilde e Guiomar Gonçalves Diário do Paraná |
Mas quem me acompanhava era a minha mãe. Nossa e ela me deu muita força, se não fosse por ela, eu não sei. Muita coisa nos bastidores, mas ela sempre na dela, sempre ali quietinha, discreta. Nunca deu um palpite nem nada, ela sempre só me acompanhando ali. Quando eu vestia o quimono, era ela que amarrava para mim porque para fazer aquele laço [na cintura] é difícil. Então é ela quem me vestia com os quimonos, fazia tudo.
Rosa e a mãe Chie -inseparáveis! (Arquivo Pessoal Rosa Miyake/Livro Rosa da Liberdade) |
Para Rosa, apesar da novela ser de 1967, a sua personagem Yoshico não era estereotipada, graças ao belíssimo texto de Lúcia Lambertini. O ponto mais forte de 'Um Poema de Amor' era o embate entre as culturas e a miscigenação, que é tão conhecida e debatida no Brasil. Para uma família oriental tradicional, o personagem de Luis Gustavo era um tanto 'saliente': "Do tipo 'Opa, não é assim, precisa ter educação, a forma respeitosa de abaixar a cabeça, cumprimentar, aquela maneira bem oriental'. Mas eu achei bem bonita [a novela], eu acho que deveria ter mais", decreta Rosa.
Em 2016, a TV Globo lançou a novela 'Sol Nascente' que gerou burburinho nas redes sociais por colocar o ator Luis Melo em yellowface [ou seja, 'caracterizado' como japonês] interpretando o patriarca da família, Kazuo Tanaka. Rosa caracteriza esse façanha como 'ridícula', em especial nos dias de hoje com uma variedade maior de atores, em especial os descendentes de japoneses. Em 1967, era muito raro que imigrantes japoneses homens investissem na carreira de ator, já que eram esperados a se tornarem chefes da família, com uma profissão mais estável. Ken Kaneko, hoje com 86 anos, foi uma dessas grandes exceções e, apesar de seu talento, nunca conseguiu papeis de destaque, como merecia, na televisão.
Luis Gustavo e Ednei Giovenazzi na novela Yoshico |
Em 'Yoshico, Um Poema de Amor (1967)', o pai dela era interpretado pelo ator Ednei Giovenazzi que admitiu ter sido escalado por ter, supostamente, "cara de japonês". O intérprete de Kawabata-San, que tinha grande fama no teatro, precisava usar uma maquiagem pesada para se transformar no chefe da família tradicionalmente japonesa, assim como a atriz que interpretava a mãe da cantora. Apesar disso, Rosa não deixava de dar pitacos sobre sua aparência e, entre as limitações, tentava deixar o personagem o mais autêntico possível:
Nossa, [Ednei é] um tremendo ator. Então ele sim, fizeram uma característica de japonês, porque na época não havia ator nipo-brasileiro, não havia. Então fizeram maquiagem nele. Muitas vezes eu dava um palpite: ‘Olha, parece mais chinês do que japonês’. Era engraçado, sabe? Teve esse lado entre a gente lá: ‘Não, esse acessório chinês usa, agora esse japonês não. Esse tipo de bigode não, um bigode normal’. Essas coisas e eles falavam ‘Rosa, que bom que você teve essa observação’.
No final de 'Yoshico, Um Poema de Amor (1967)' Luis Paulo (Luis Gustavo) foi completamente aceito na família. Rosa relembra que o romance entre eles era bem casto, com "aproximação, de pegar nas mãos, aquele abraço e tudo", porém o grande beijo veio apenas no no último capítulo:
Os dois acabaram juntos e ele, Luis, entrou para a família. A família aceitou, então eu achei bonito esse final porque mostrou que o amor não tem raça, não tem nada disso. É a coisa mais linda, então eu acho que a família, os imigrantes no fim o aceitaram na família. Tinha que aceitar para ficar numa boa. Veja hoje, é a coisa mais comum. É muito raro você ver dizer que não quer um ocidental na família. Hoje em dia é a coisa mais normal.
Rosa em um dos quimonos preparados por sua mãe nos anos 60 (Arquivo Pessoal Rosa Miyake) |
Desde 'Yoshico, um Poema de Amor', os telespectadores apenas receberam uma nova protagonista nipo-brasileira exatamente 50 anos depois, em 2017, com Ana Hikari em 'Malhação: Viva a Diferença', da TV Globo. Mesmo assim, no folhetim, a jovem de 27 anos dividia o protagonismo com outras três atrizes. Quando 'Yoshico' passava na televisão, apesar do peso da representação de uma atriz nipo-brasileira, Yoná Magalhães também interpretava, ao mesmo tempo, em yellowface, uma japonesa na novela 'A Sombra de Rebecca', da TV Globo.
Rosa, ao ser indagada sobre o assunto, confessou que fica bastante chateada por, ainda hoje, ver a falta de representatividade dos nipo-brasileiros na televisão. E mais: por eles serem rotulados apenas como 'japoneses' quando podem e são muito mais:
Eu acho que o pessoal deveria ver o ator, uma atriz. Você vê que até hoje, eu admiro essas mulheres que trabalharam, mas sempre fazendo papel de nipo-brasileira. Eu acho uma pena isso. Por que não uma descendente, uma nipo-brasileira, ter um papel 'normal'? (...). Não tem que ter sotaque. Quem disse que os nipo-brasileiros tem sotaque japonês? (...) Eu estou torcendo para que isso mude, torcendo muito, para que mais produtores, diretores vejam o outro lado. Quanta coisa linda que eles vão descobrir. Vão começar a abrir um leque. Eu gostaria de ser a primeira a dizer: ‘Vamos acabar com isso’.
Com o fim de 'Yoshico, um Poema de Amor (1967)', Rosa não quis mais continuar na atuação já que seu grande foco era o mundo da música. Também sem novos convites na televisão, ela seguiu lançando mais alguns EPs após a novela e seguiu no circuito de apresentações, lançamentos e participações até o grande jingle 'Urashima Taro' da Varig.
Urashima Taro e a 'quase' carreira no Japão
O jingle, criado por Achimedes Messina, Ivan Siqueira e Hidenori Sakao, contava a lenda do folclore japonês de 'Urashima Taro', um pobre pescador que salva uma tartaruga maltratada por alguns rapazes e então, a retorna para o mar. No dia seguinte, Urashima descobre que a tartaruga era filha do Imperador do Mar e é recebido como um rei. Logo, o pescador sente falta da família e de presente de despedida, a princesa lhe dá uma arca, sob a promessa de apenas abri-la quando for bem velhinho. Ao retornar, tudo na aldeia mudou e Taro descobre que já se passaram 300 anos. Triste, ele abre a caixa dada pela tartaruga e ele perde toda sua juventude, sem lhe dar o devido valor.
A Varig apostou na propaganda como desenho animado, que se tornou uma febre na época, com a expertise do ilustrador Ruy Perotti Barbosa. Rosa, na canção, canta sobre 'Urashima Taro' e como, por recompensa de sua boa ação no Brasil, ganhou uma passagem da Varig direto para seu lar, o Japão. O jingle se tornou um grande sucesso!
Rosa, portanto, foi uma das passageiras do voo inaugural da Varig, em 26 de junho de 1968 -que passava o seu jingle sem parar nas caixas de som - e juntou o útil ao agradável: a gravadora Gravadora Pony, no Japão, entrou em contato com Mário Okuhara, seu empresário, pois a queria para gravar um álbum só com os sucessos brasileiros da época, com muito Roberto Carlos e Erasmo Carlos - tudo em japonês, claro!
Sob missão de fazer um documentário sobre os pontos turísticos e históricos do Japão para a comemoração dos 60 anos da imigração japonesa no Brasil, Rosa Miyake deu início ao projeto patrocinado pela Varig em Tóquio. Apaixonada pela cidade e seus habitantes, a artista gravou o LP intitulado 'Rosa Miyake em Tóquio', lançado naquele mesmo ano [no Brasil, foi divulgado pela Astrophone]. O êxito foi tanto que os empresários queriam que ela ficasse e tivesse uma carreira no país.
Rosa embarcando para sua aventura no Japão Diário do Paraná |
Eu adorei lá, conheci muita gente, foi tão bom - garante Rosa, em entrevista.
Rosa se apresentando na TV Asahi, no programa 'Morning Show' (Arquivo pessoal Rosa Miyake) |
Apresentadora no 'Imagens do Japão'
De volta ao Brasil, Rosa continuou a se apresentar, casando-se com Mário logo depois, em 1969. A artista esperava que, depois de casada, voltaria ao Japão com a companhia dele para dar um pontapé na carreira, mas ele a aconselhou ao contrário. Logo depois, veio a morte do irmão mais velho e mentor dele, Koei, então proprietário da Rádio Apolo. Okuhara, então, tinha outros planos e criou o 'Imagens do Japão', um programa completamente voltado à colônia japonesa no Brasil.
O programa estreou na TV Tupi no dia 15 de novembro de 1970 e Rosa se apresentava no 'Imagens do Japão', inicialmente, como atração musical principal. Ela acabou de paraquedas como rosto do programa, que passava todos os sábados, das 10h às 13h e ao vivo, quando, em 1973, uma das apresentadoras [A atriz Heimy Ronda já fez parte do elenco] faltou. Rosa, que estava sempre presente nos bastidores ajudando o marido, foi convocada para assumir o posto. E claro, tremeu de medo!
Aí eu fui jogada, jogada mesmo no palco. E me colocaram, o Mário disse: ‘Vai você porque não tem mais ninguém. Outra não temos’. E ao vivo gente! -reconta Rosa, aos risos.
Rosa apresentado Imagens do Japão nos anos 80 e com o microfone que batia palmas! |
Com a ajuda do público, e por se apresentar ao vivo por diversos anos, Rosa começou a conversar com a plateia e fez o que sabia de melhor: cantar! O programa daquela dia foi totalmente musical e a artista, com seu carisma e desenvoltura, dominou completamente o palco. A produção então concluiu: Miyake continuaria à frente do 'Imagens do Japão'. Logo depois, surgiu uma 'concorrente' com Japan Pop Show' na Bandeirantes, comandado pelo casal Nelson e Suzana Matsuda.
No começo, Rosa admite que ficou perplexa com a ideia de apresentar o programa, chegando até a ficar triste por ter que desistir de seu grande sonho, que era ser cantora. Mas, como tudo na vida, ela entrou de cabeça nesse novo desafio: "Uma loucura, uma loucura total, mas eu fiz isso com muito muito amor. Muito amor mesmo, aliás me dá até saudades daquele tempo".
O ritmo das gravações era brutal e ocorria em um Teatro na Rua Augusta, em São Paulo, com uma plateia ao vivo. Aos sábados, na TV Gazeta, Rosa também apresentava o 'Imagens do Japão Espetacular', mas este era gravado. Alberto Murata era um dos apresentadores na atração e, muitas vezes, dividia a reponsabilidade com Rosa, que chegava a passar mal de tanto trabalhar: "Eu entrei de cabeça. Eu cheguei a quase desmaiar no palco. Três horas com aqueles refletores na cabeça. Eu falava para o meu companheiro na hora do comercial: ‘Olha, se entrar um comercial, eu estou passando mal. Eu vou entrar e você segura aqui essa parte que eu vou fazer, para você fazer para mim'".
Rosa Miyake em 1977 (Arquivo pessoal) |
Em 1978, Kouhaku Utagassen foi transmitido ao vivo pela primeira vez via satélite para o Brasil e criou uma verdadeira euforia entre a comunidade: "31 de dezembro, todo mundo na Liberdade, assistindo ao vivo, todos os aparelhos de televisão ligados. Todo mundo assistindo. Todo mundo parava para assistir esse festival. Claro, ao vivo. Muitos ainda não acreditavam. ‘Não, não, só vendo mesmo’. E aí que foi um sucesso mesmo, sabe?", reconta Rosa, muito feliz.
Rosa Miyake nos anos 80 (Arquivo Pessoal) |
Saíam matérias no Japão da 'Miss Nissei'. Teve uma ocasião que estávamos levando ela para fazer umas compras no Japão, sabe que as pessoas reconheciam? ‘Olha, ela que é a Miss Nissei do Brasil. Ela que é a Miss Nissei’. Uma coisa de louco mesmo. Então todos os anos o prêmio era uma viagem para o Japão. Foi muito bonita essa passagem de Miss também. - relembra Rosa.
Rosa e Alberto Murata apresentando 'Miss Nissei 1978' (O Cruzeiro/Reprodução) |
Um novo capítulo...
Rosa Miyake em Kamakura em gravação da Varig em 1985 (Arquivo Pessoal) |
Em 2015, após anos morando nos Estados Unidos, Rosa recebeu o convite de Marcelo Duarte e Silvana Alves para participar do programa de rádio 'Você é Curioso', na Bandeirantes. Semanalmente, por dois anos seguidos, apresentou curiosidades sobre o Japão no quadro 'Imagens Curiosas do Japão' e, quando ela precisou se ausentar, seu filho Mario Jun a substituiu, segundo o jornal Nippak.
Rosa então pegou gosto pela rádio, um de seus grandes objetivos na carreira antes mesmo de se tornar realidade: "O programa de rádio é um outro mundo. É um mundo maravilhoso. Maravilhoso". Para ela, o mais prazeroso é poder usar sua imaginação e contar histórias para a posteridade, sempre enaltecendo sua cultura. Assim como para o filho que, inclusive, lançou o documentário 'Yami no Ichinichi – o crime que abalou a colônia japonesa no Brasil (2012)', abordando as atrocidades que a ditadura brasileira afligiu nos japoneses e seus descendentes. Mario também palestrou sobre a questão na Comissão Nacional da Verdade em 2013, lançando o Projeto Abrangências.
Em 2019, Mario Jun começou o podcast +81 Aeroporto de Hakodate (que você pode seguir aqui!) e não demorou para convencer a mãe a participar. Nele, fica claro o quão apaixonados mãe e filhos são pela história de seu povo, seus costumes e arte pungente. Na concepção do podcast, ainda morando nos Estados Unidos no ano passado, Rosa gravava suas partes de áudio e mandava para Mario. De volta ao Brasil, desde abril deste ano, ela grava ao vivo e numa dinâmica envolvente com o filho fala desde rock japonês atual, sobre os grandes nomes da música e até comenta trilhas sonoras de filmes como Os Sete Samurais (1954).
Rosa Miyake em 2020 (Arquivo Pessoal/Site Nippak) |
O +81: Aeroporto de Hakodate também passa, todas as terças-feiras às 20h30 na rádio Capital FM de Bastos, no interior de São Paulo, e Rosa não poderia estar mais feliz com esse novo capítulo de sua história. Para ela, essa é mais uma chance de seguir o legado do 'Imagens do Japão', com uma nova roupagem.
Eu apenas representei a colônia japonesa, os nipo-brasileiros, a família japonesa, a cultura japonesa. E eu realmente fico bastante feliz de saber que as pessoas ainda gostam, gostavam muito e ainda lembram com muita saudades do programa ‘Imagens do Japão’. Foi assim, dei minha vida. - afirma Rosa, emocionada.
Aos 76 anos, Rosa encara um novo desafio, uma diferente plataforma de comunicação e mostra que, nunca é tarde para realizar seus sonhos. Além da rádio, ela aproveita para paparicar os netos e garante: "Eu estou curtindo esse momento. Eu estou adorando!". E os fãs também, por tê-la de volta!
- Livro: Rosa da Liberdade: A história de Rosa Miyake e do programa de TV Imagens do Japão de Ricardo Taíra.
- Matéria: Com+81: Aeroporto de Hakodate, Rosa Miyake realiza sonho de apresentar programa de rádio de Aldo Shiguti.
- Matéria: O sucesso e a agonia da Yaohan, a superloja japonesa que fez história em São Paulo de Marcelo Duarte.
Que primor de matéria. Uma beleza conhecer a carreira de Rosa Miyake.
ResponderExcluirOlá, Ana, muito obrigada! A história da Rosa dava outro livro! haha
ExcluirAbraços!
Que matéria incrível! Parabéns pela reunião desse vasto material!
ResponderExcluir