Existem rixas épicas da antiga Hollywood: Joan Crawford X Bette Davis, Sophia Loren X Jayne Mansfield e Marlon Brando X Frank Sinatra. Apesar de todas terem um status lendário, nenhuma delas possui tanta complexidade quanto a rixa entre as irmãs Olivia de Havilland e Joan Fontaine, que teve início no berço e perdurou até a morte da caçula, Joan, em 2013.
Olivia Mary de Havilland nasceu primeiro, em 1º de julho de 1916, em Tóquio no Japão, filha de Lillian Augusta Ruse e Walter Augustus de Havilland. O pai era professor e advogado enquanto a mãe, que já foi atriz, apenas sonhava com o sucesso que as filhas alcançariam no futuro. Não demorou para que Lillian ficasse grávida novamente e em 22 de outubro de 1917 nascia Joan de Beauvoir de Havilland.
De acordo com a autobiografia de Joan, a No Bed of Roses, lançada em 1978, a rivalidade entre as duas se iniciou assim que ela "roubou" um pouco dos holofotes da irmã, que 15 meses antes era filha única:
Minha mãe me disse que ela nunca se aproximava de meu berço. O horóscopo sugere que Olivia seria melhor como filha única. (...) Ela sempre foi uma ferrenha defensora da regra de ser primogênita. Talvez o fato de eu ser uma criança fraca tinha muito a ver com o ressentimento da Olivia, já que eu era um bebê irritável e no berçário ela não era mais o centro da atenção entre os serventes e entre os nossos pais.
Olivia x Joan: uma rixa muito mais intricada do que você imagina! |
Joan era tão doente e deprimida. A coisa que ela mais gostava era um gatinho de pelúcia, cujo som não funcionava mais. Quando a gente apertava, fazia 'miau', mas quebrou. Então eu comecei a fazer 'miau' quando a Joan apertava o gato, ela amava e se sentia melhor. Ela era tão adorável, com sardas no rosto e um cabelo loirinho - linda demais!
Joan Fontaine e Olivia de Havilland quando crianças: suas brigas eram intermináveis |
Olivia de Havilland e Joan em Saratoga, Califórnia em 1934 |
Um dia em julho de 1933, irritada por algo que eu disse ou fiz, Olivia me jogou do lado da piscina, pulou em cima de mim e fraturou minha clavícula. -No Bed of Roses, pág 73.
Olivia sempre foi mais discreta ao mencionar a rixa entre as duas, mas em entrevista a revista Vanity Fair, negou todas as acusações de Joan. De acordo com a falecida atriz, a briga entre elas na piscina - que ocasionou a fratura na clavícula - ocorreu quando elas tinham, respectivamente, 7 e 6 anos de idade. Joan teria tentado puxá-la na piscina, mas ela se segurou e a caçula acabou se machucando.
Seja como for, o desgosto entre as duas aumentou ainda mais de proporção na vida adulta: após sair da casa de Fontaine, Joan ligou para o pai Walter, que lhe ofereceu um teto em Saratoga, em Tóquio. Já para Olivia, ele deu uma mesada de 50 dólares por mês, para que ela continuasse a atuar. Quando Joan retornou em 1934 para São Francisco, Olivia já estava em turnê com a peça 'Sonho de uma Noite de Verão', que lhe garantiria um contrato com a Warner Bros e era a queridinha temporária da mãe Lillian.
Nesse ínterim, Joan atuava como choffer de Olivia, já que a mesma não sabia dirigir. A jovem a levava para cima e para baixo, além de entregar sua comida e fazer outras tarefas. Na autobiografia No Bed of Roses, Fontaine conta que foi notada pelo diretor Mervyn Le Roy na Warner Bros., que apontou que ela seria uma ótima atriz. Tanto Olivia quanto a mãe, que agora havia deixado Fontaine, afirmaram que ela não poderia ficar no mesmo estúdio que a irmã mais velha. Assim, ela adotou o Joan Fontaine - já que uma vidente afirmou que ela faria sucesso com um nome que tivesse 'e' no final - e assinou um contrato de dois anos com a RKO.
Olivia e Joan nos estúdios da Warner Bros em 1939 |
A eterna parceira de Errol Flynn tem outra visão da carreira de Joan: além de negar ter batido na irmã, acusando Joan de agredi-la e ela sempre dando "a outra face", Olivia ainda se refere ao livro de Fontaine como 'No Shed of Truth", ou seja "Nem um Pingo de Verdade". Ela garante que "amava muito a Joan quando eram crianças" e que as duas tinham brigas comuns de irmãs, sendo que as agressões físicas eram sempre iniciadas por Fontaine.
Quando não suportava mais, Olivia admite que chegava a estapear o rosto da irmã e puxar seu cabelo. Para ela, Joan não suportava receber as roupas usadas dela e também dividir o mesmo quarto. Desde pequena, De Havilland afirma que a irmã tentava copiá-la de todas as maneiras e isso só piorou quando ela se tornou uma estrela de Hollywood, quando ambas se reencontraram após estadia de Joan em Tóquio:
Joan veio até a mamãe na noite de estreia de 'Sonho de Uma Noite de Verão' no Teatro de São Francisco. Eu nem a reconhecia mais. Ela tinha pintado o cabelo. Ela estava fumando. Ela não era mais a minha irmã mais nova. Eu a aconselhei a voltar a escola e se formar, mas ela disse: 'Eu quero fazer o que você está fazendo'. -revela Olivia para a Vanity Fair.
Joan e Olivia no Oscar de 1942 - quando Fontaine ganhou o prêmio de Melhor Atriz |
Olivia revela que se ofereceu para pagar uma escola preparatória da alta sociedade para Joan, mas ela não queria. A jovem estava decidida em se tornar uma estrela também. As duas, curiosamente, se creditam por dar a primeira grande chance, uma para outra, nos cinemas.
No caso de De Havilland, ela afirma que sugeriu a irmã para o produtor David O'Selznick, enquanto gravava ...E o Vento Levou (1939), quando ele procurava uma atriz para estrelar Rebecca (1940), o primeiro filme de Alfred Hitchcock nos Estados Unidos. Já Joan afirma que Olivia apenas conseguiu o papel como Melanie no longa sobre Scarlett O'Hara após ela sugerir seu nome - sendo considerada muito "estilosa" para interpretar a personagem sem graça, dando uma cutucada na irmã mais velha.
Olivia foi a primeira das duas a receber uma indicação ao Oscar, desta vez por Melhor Atriz Coadjuvante em ...E o Vento Levou (1939). A atriz perdeu para Hattie McDaniel, que teve uma vitória histórica por ser a primeira negra a ganhar o prêmio. Em contrapartida, Joan se casou primeiro e com um ex-affair da irmã: o ator Brian Aherne. Antes disso, ela teria sido cantada pelo magnata dos filmes Howard Hughes, que estava vendo Olivia regularmente. Naquela época, a irmã mais nova se casar primeiro era visto como fora do padrão e a situação com Brian e Howard teria sido um golpe duplo em De Havilland.
Casamento de Joan em 20 de agosto de 1939; casório de Olivia com Marcus em 26 de agosto de 1946 |
Olivia de Havilland esnobando a irmã no Oscar de 1947. |
Olivia de Havilland com Ray Milland no Oscar de 1947. |
Joan e Olivia em um restaurante em Los Angeles, 1962 |
Lillian Fontaine com as filhas Joan e Olivia em 1973 - nessa sessão de fotos, as duas brigaram de novo! |
Você pode se divorciar de sua irmã, assim como de seus maridos. Eu não a vejo e nem planejo fazer isso. - Joan para a revista People, 1978.
Joan e Olivia em 1942 |
Enquanto Olivia se tornou uma mãe postiça para Deborah - que chegou a afirmar que Joan sofria algum tipo de bipolaridade - ela também recebia Martita de braços abertos. Joan, tomando o caminho contrário, se tornou cada vez mais reclusa e sem qualquer tipo de contato com amigos e familiares.
Ela a odiava. Na verdade, ela estava tão perturbada pela ideia de que morreria antes de Olivia e que ela viria em sua casa e pegaria suas coisas, que antes pertenciam a mãe delas. Olivia morava em Paris, mas ela chegou a me dizer: 'Quero que esteja na casa quando eu morrer'. - para a Fox News em 2021.
Joan aos 90 anos fotografada pela Vanity Fair |
A Dama Dragão, como eu decidi chamar Joan, era uma pessoa brilhante e multifacetada, mas com um astigmatismo em sua percepção de pessoas e eventos, o que permitia que ela reagisse a pessoas de uma maneira injusta e caluniosa. (...) Da minha parte [nossa relação] sempre foi amorosa, mas algumas vezes distante, e nos últimos anos, rompida. - revelou Olivia.
Olivia de Havilland em 2018 para o New York Times |
Nada pode fazer com que nossa relação seja bem-sucedida. E é uma pena que algo especial tenha sido feito disso porque rixas são algo comum em famílias. Olhe, eu conheço um entregador de jornal que não suporta o irmão. - Olivia em 1952 para o colunista Erskine Johnson.
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