Nem todo mundo se lembra da primeira vez em que assistiu A Felicidade Não Se Compra (It's a Wonderful Life, 1946). Pode ter sido por sugestão dos pais, tios, avós ou até mesmo em uma daquelas noites que o sono teima a aparecer e sua única companhia é a televisão. Seja como for, o que permanece, 75 anos depois de sua estreia, é a lição da película de que você pode tocar a vida de outras pessoas.
Philip Van Doren Stern tinha esse objetivo em mente quando escreveu o conto 'The Greatest Gift', publicado em forma de livreto em 1943 e distribuído para amigos mais próximos. A obra, vagamente inspirada em 'Um Conto de Natal', relata a história de George Pratt (no filme Bailey), um homem que deseja nunca ter nascido. Preparado para tirar a própria vida, ele recebe a visita de um Estranho que concede o desejo dele, mostrando como a vida dele afetou, para o bem e para o mal, a jornada de tantas outras pessoas.
Jimmy Stewart e Donna Reed em 'A Felicidade Não se Compra (1946)' |
O editor, que fez 200 cópias do livreto para uma distribuição informal, recebeu uma grande surpresa: de algum modo, a história foi parar nas mãos do produtor David Hampstead, agente de Cary Grant em Hollywood para a RKO Pictures.
Meu pai estava se barbeando no dia 12 de fevereiro de 1938 quando ele teve a ideia para a história. Ele disse: 'A ideia veio para mim, do começo ao fim - uma ocorrência bastante inesperada, como qualquer escritor lhe dirá'. - Marguerite Stern Robinson, filha do escritor em nova edição publicada da história em 1996.
Philip passou anos aperfeiçoando a história e tentando fazer com que fosse publicada em grandes jornais e até nos pequenos. Sua sorte apenas mudou quando recebeu um telegrama em maio de 1944, com a notícia de que seu agente tinha vendido o direito de sua história para a RKO por US$ 10 mil. Na sequência, revistas como Reader's Scope e Good Houseekeping publicaram o conto; esta mudou o título para 'O Homem que Nunca Nasceu'.
Philip com a filha Marguerite em 1940; ao lado o livreto original Life/Biblioteca do Congresso |
A RKO tinha outros planos para a história: não queria se apegar ao sentimentalismo, mas sim à comédia! De acordo com o livro Jimmy Stewart: A Biography de Marc Elliot, o estúdio recorreu à diversos escritores e roteiristas como Dalton Trumbo, Marc Connelly e Clifford Odets para desenvolver o roteiro. Nesse ínterim, Cary Grant passou para outros projetos e a produtora descartou a obra.
Aí que entra o cineasta Frank Capra, acostumado a fazer filmes de todos os tipos, mas em especial àqueles com uma mensagem inspiradora. O diretor havia fundado sua própria produtora, a Liberty Films, e estava em busca de uma obra para desenvolver. Charles Koerner, diretor-chefe da RKO, sugeriu a história para Capra e ele foi arrebatado! O diretor comprou os três roteiros e o direito para a história em setembro de 1945 por US$50 mil (embora outras fontes apontem que foi apenas US$10 mil).
Seja como for, com a obra em mãos, Frank começou a procurar roteiristas para ajudá-lo a moldar o material e contratou Albert Hackett e Frances Goodrich. Para o protagonista, o cineasta tinha apenas alguém em mente: James 'Jimmy' Stewart, com quem já havia trabalhado em 'Do Mundo Nada se Leva (1938)' e 'A Mulher Faz o Homem (1939)'.
Jimmy Stewart e Frank Capra no set de 'A Felicidade Não se Compra (1946)' |
Donna Reed e Jimmy ensaiando o número de dança do filme |
Foto de todo o elenco de 'A Felicidade Não Se Compra' |
No filme nós não tínhamos química alguma. Na frente e até por trás das câmeras. Nós não nos demos bem e o filme sofreu....essa foi uma das fraquezas do filme. Capra também me disse isso: 'Se nós tivessemos Margaret Sullavan [uma das crushs de Jimmy] ou Ginger Rogers, mas sua mulher no filme tem que ser tão ordinária e você não pode escalar essas atrizes para esse tipo de papel'. - Jimmy Stewart: the truth behind the legend de Michael Munn
Donna Reed ficou super ressentida com James por culpá-la pelo fracasso comercial do filme, apesar das cinco indicações ao Oscar. Foi por causa do ator que ela perdeu a chance de atuar em 'Sangue de Campeão (Stratton Story, 1949)' -sendo substituída por June Allyson -e ficou anos sem um papel relevante nos cinemas. "Eu não trabalhei para a MGM de novo e meus papeis ficaram cada vez piores. Exceto por 'A Um Passo da Eternidade (1953)' minha carreira nunca se recuperou, então fiquei furiosa com ele por arruiná-la", admitiu a atriz em 1984.
Jimmy Stewart e Donna nos bastidores da cena do beijo |
Donna Reed e o ator em 1951 |
Premiere do filme no Globe Theatre, em Nova York |
O filme está disponível, no original em inglês, aqui! |
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