Slider

Por que 'O Poderoso Chefão III' foi tão mal recebido pela crítica?

A maldição do terceiro filme já é território conhecido para qualquer fã de franquia: seja de Star Wars a Pânico ou X-Men até Rocky. Nem 'O Poderoso Chefão' fugiu dessa sina, com o terceiro filme tornando-se a 'maçã podre' da obra-prima escrita por Mario Puzzo e dirigida por Francis Ford Coppola. Os primeiros longas não mostravam qualquer sinal de falha: 'O Poderoso Chefão I e II' ganharam 9 Oscars e cimentaram as carreiras de Al Pacino, Talia Shire, James Caan, John Cazale (que faleceu em 1978), Diane Keaton e Robert de Niro. 

'O Poderoso Chefão III', apesar de uma arrecadação de bilheteria acima da média, foi condenado pela maioria dos críticos. Essa repulsa pela obra fez com que Coppola, 30 anos depois, lançasse uma versão de diretor para tentar reparar a injustiça, alterando cenas e até o título como 'O Poderoso Chefão 3 - Desfecho: A Morte de Michael Corleone'. 

Al Pacino eternizou o personagem Michael Corleone 

Não obstante, essa tentativa não foi suficiente para amenizar o desastre de 'O Poderoso Chefão III' da memória de diversos espectadores. Lá nos anos 80, Coppola não estava animado em dirigir o filme e apenas concordou para pagar as dívidas de sua produtora, a Zoetrope Studios, com o fracasso do longa 'O Fundo do Coração (One From The Heart, 1982)'. 

De 1974 a 1989, outros nomes foram mencionados para seguir com o legado do 'Padrinho' como Sylvester Stallone, como diretor e astro, Eddie Murphy com um papel menor, e até John Travolta, e os diretores: Martin Scorsese, Richard Brooks e Dan Curtis. O chefe-executivo do estúdio Paramount, Frank Mancuso, foi quem fez de tudo para 'puxar' Coppola de volta - e conseguiu! 

Mario Puzzo foi anunciado para escrever o roteiro em junho de 1986. Três anos depois, ele e Coppola tinham um rascunho do novo 'Poderoso Chefão III' - que foi registrado em 10 de maio de 1989. Na história original, Tom Hagen, o consigliere irlândes de Michael, vivido por Robert Duvall, tinha um papel substancioso, mas não entraria em uma guerra de máfias com o chefe - permanecendo um fiel escudeiro.

Robert Duvall era uma das peças chaves do filme

Robert desistiu de participar do filme ao descobrir que ganharia menos do que Al Pacino e Diane Keaton, que vivia a ex-esposa de Michael, Kay. Em pronunciamento à Parade Magazine, o ator afirmou: "Tem dois ou três atores ganhando mais do que eu. Isso não está certo". Seu personagem foi 'substituído' pelo advogado B.J Harrison, vivido por George Hamilton. 

'O Poderoso Chefão III' sofreu algumas alterações no roteiro, mas diferente do que muitos fãs acreditam, o cerne da história sempre foi a mesma: Michael, farto de viver na ilegalidade, faz um pacto com a Igreja Católica para controlar a empresa Imobiliare. Nesse ínterim, ele encontra o filho ilegítimo de seu irmão, Sonny, o Vincent, quem ele molda para ser o novo 'Padrinho'. 

Andy Garcia e Al Pacino no eterno clássico

O papel de Mary, filha de Kay e Michael, nos primeiros rascunhos, não era tão substancioso e apenas ganhou ênfase após Robert Duvall se negar a participar do filme. Winona Ryder foi escalada para viver a filha dos Corleones e chegou a pousar em Roma em novembro de 1989 para as gravações. Após Ryder ser internada por exaustão, Coppola estava livre para fazer o que já queria: colocar a filha, Sofia Coppola, em seu lugar. 

Quando meu pai estava escrevendo o filme, ele baseou muito da personagem em mim. Eu até fiz alguns testes com a personagem antes de Winona ser escalada - admitiu Sofia em entrevista ao EW em 1990. Anabella SciorraLaura San Giacomo foram consideradas, mas Coppola foi direto: "Eu vou tentar a Sofia". 

Sofia Coppola não era experiente como atriz

Francis Ford Coppola, portanto, tem apenas à si mesmo para culpar pelo fracasso de 'O Poderoso Chefão III'. Apesar das críticas e acusações de nepotismo de diversos atores do longa - que não foram identificados - e do fato de Sofia não ter experiência concreta como atriz - não conseguindo pronunciar nem Corleone direito sem ajuda de uma fonoaudióloga- ele insistiu em colocá-la no papel. 

A mãe dela, Eleanor, em relato para a Vogue Magazine, relembrou que a filha "diversas vezes começava a chorar", devido à tanta pressão. Com o lançamento do filme houve até boatos de que Sofia precisou dublar algumas cenas antes da grande estreia por conta de sua péssima dicção - algo que foi negado pelo cineasta. 

Com apenas 18 anos de idade, era mais fácil o cineasta ter contratado outra pessoa, poupando a filha do escrutínio da mídia. Sofia, anos depois, se mostrou uma diretora competente. Coppola, no entanto, sempre teve a mania de colocar parentes em seus filmes: sua irmã, Talia Shire, interpreta Connie Corleone na franquia enquanto Sofia esteve nos dois outros filmes anteriores, em papeis menores. Nicolas Cage, seu sobrinho, foi barrado de interpretar Vincent, personagem que foi para Andy Garcia.

Sofia e Andy Garcia em 'O Poderoso Chefão III'

As gravações de 'O Poderoso Chefão III', depois do atraso por conta de Winona Ryder, seguiram de forma bastante tranquila. Al Pacino e Andy Garcia fizeram questão de ajudar Sofia, mantendo-a bem confortável. Pacino e Diane Keaton, contudo, tinham uma relação ressentida após namorarem por quase 18 anos - ela queria se casar e ele se recusava. 

Os dois terminaram o relacionamento durante o filme, após Keaton descobrir que o namorado teve uma filha com Jan Tarrant. Ambos entraram em uma trégua quando a mãe dele, Rose, faleceu, continuando o namoro ioiô. Em entrevista à revista Vanity Fair, Diane admite que não gostou de 'O Poderoso Chefão III': "Quando eu vi, pensei: 'O filme não funciona'. Eu não estava nem aí, pensei: 'Não, não é bom'". 

Em sua autobiografia 'Then Again', Diane relembra as diversas versões do final de 'O Poderoso Chefão III' e como todos estavam confusos e sem direção - na maioria das vezes, Francis dirigia diretamente de seu trailer. Ela também recorda que Frank Mancuso não queria Sofia no papel de maneira alguma, mas não conseguiu deter Coppola. 

Diane Keaton e Al Pacino: terminaram durante as gravações

Robert Duvall sintetizou que 'O Poderoso Chefão III' apenas saiu do papel por conta de "lucro e dinheiro" e ele não estava tão errado assim. Coppola não queria revistar o filme e, por isso, a história parece sem inspiração. Se os dois primeiros longas falavam sobre a máfia, este último era sobre a tentativa de redenção de Corleone, focando mais em seus dramas pessoais do que pela busca de poder, deturbando a essência da obra. 

'O Poderoso Chefão III' estreou em 25 de dezembro de 1990 nos Estados Unidos e as críticas foram medianas, apontando Sofia como o elo fraco do filme - em especial por ter um arco tão importante e não apresentar a performance adequada. A maioria dos jornalistas concordou: o longa falhava em trazer ação, dinamismo e profundidade das personagens. 

'O Poderoso Chefão III' é considerado um dos piores filmes da trilogia

A obra foi indicada para sete Oscars, incluindo Melhor Filme, Ator para Andy Garcia, e Diretor, afinal: era um filme de Coppola e até um longa "ruim" dele está acima do melhor trabalho de diversos diretores. 'O Poderoso Chefão III' não ganhou em nenhuma categoria, mas Sofia, com apenas 19 anos de idade, recebeu os prêmios de Pior Atriz Coadjuvante e Pior Nova Estrela do Razzie Awards em 1991 - ficando conhecida como a estrela da pior cena de morte dos cinemas.

Para a revista New York Times, Coppola admite que se sentiu culpado pelo fracasso de 'O Poderoso Chefão III': "A filha foi atingida pela bala por Michael Corleone e a minha filha fez o mesmo por mim". O diretor diz que, de sua parte, não dirigirá mais nenhum filme sobre a família Corleone. 

Sofia, por sua vez, garantiu que ser responsabilizada pelo desempenho medíocre de 'O Poderoso Chefão III' foi difícil: "Foi bem embaraçoso ser jogada no olho do público daquela maneira. Mas não era meu sonho ser atriz, então não fiquei triste. Eu tinha outros interesses, não me destruiu". A diretora ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original por 'Encontros e Desencontros (2003)'. 

Al Pacino e Francis nos bastidores do terceiro filme

Francis Ford Coppola revelou, em pronunciamento ao The Hollywood Reporter, que considerava a nova versão de 'O Poderoso Chefão III', lançada em 2020, uma espécie de vingança à performance da filha. Não temos esse milagre! O longa, contudo, ganhou uma maior conexão entre as histórias, mesmo que siga bem inferior aos dois primeiros filmes. 

A Paramount, estúdio responsável pelo 'O Poderoso Chefão', não descarta o lançamento de mais um filme baseado nos personagens de Mario Puzzo. Mas o que a parte III deixa de lição? Prezar sempre pelo roteiro, pela escalação e não fazer uma sequência apenas visando o lucro - isso nunca funciona! 


0

Nenhum comentário

Postar um comentário

both, mystorymag
© all rights reserved
made with by templateszoo