Ida Lupino pode até ter ficado conhecida, em certo ponto de sua carreira, como a 'versão feminina de Hitchcock', mas ela provou ir além desse rótulo. Seu trabalho a partir dos anos 50, especialmente o noir O Mundo Odeia-me (The Hitch-Hiker, 1953) e em séries de televisão, tinha uma aura sombria e ironia equivalentes à do grande diretor. Essa semelhança, contudo, termina aí: Ida, mesmo em filmes considerados mais leves, tinha como foco explorar e esmiuçar grandes tabus - emocionando e empatizando seus espectadores.
Ida começou como atriz, mas sempre deu sinais de expandir sua influência. Em entrevistas promocionais para o filme É Difícil ser Feliz (The Hard Way, 1943), ela, por exemplo, revelou que sonhava em ser diretora:
Eu sempre pensei que, um dia, eu deixaria de atuar e tentaria dirigir. Eu fui muito afortunada de trabalhar com ótimos diretores e aprendi muito com eles. Eu também tenho as minhas próprias teorias que eu gostaria de testar e desenvolver.
Ida Lupino no set de filmagens de O Bígamo (The Bigamist, 1953) |
Em 1947, após estrelar em longas como Dentro da Noite (They Drive By Night, 1940), Seu Último Refúgio (High Sierra, 1941) e O Lobo do Mar (The Sea Wolf, 1941), Ida deu adeus à Warner Bros e se tornou uma freelancer. Um ano depois, ela se casou com o produtor cinematográfico Collier Young e os dois investiram no sonho de produzirem e dirigirem seus próprios longas.
De acordo com a biografia 'Ida Lupino, a Biography' de William Donati, uma conversa da atriz com Roberto Rossellini, em uma festa em 1948, lhe deu o empurrão necessário para filmar 'Mãe Solteira (Not Wanted, 1949). "Em filmes de Hollywood, a estrela está enlouquecendo, ou bebe muito ou quer matar a sua esposa. Quando vocês farão filmes sobre pessoas ordinárias, em situações ordinárias?", indagou ele.
Mãe Solteira (Not Wanted, 1949)
Sally Forrest em Mãe Solteira (Not Wanted, 1949) |
Sally Forrest e Leo Penn, pai de Sean Penn, em cena do filme |
Ida Lupino dirigindo enquanto Elmer estava atrás dela |
Todos nós deveríamos trabalhar para aliviar a pobreza e a doença que causa essa condição [mães solo que doam seus bebês]. O amor é algo precioso. Todos os humanos precisam amar e ser amados. A vida não nos dá os meios de achar amor sem os limites de nossas convenções e muitos de nós os encontram fora. E é por isso que estamos fazendo esse filme. Essas garotas têm direito de serem compreendidas. - Ida em entrevista sobre o filme em 18 de fevereiro de 1949 para a filha de Eleanor Roosevelt, Anna.
Quem Ama não Teme (Never Fear, 1950)
Ida Lupino checando a maquiagem de Sally nos bastidores do filme |
Cena do filme Quem Ama Não Teme - algo inédito na época |
Eu recebi diversas cartas de pessoas que achavam que isso tinha acontecido, de verdade, com os atores. Eu recebi tantas cartas de pessoas com poliomelite que diziam: 'O que você fez me inspirou'. Foi muito emocionante - relembra Sally Forrest no livro The Women of Warner Bros.
O Mundo é Culpado (Outrage, 1950)
Mala Powers foi a atriz principal deste filme importantíssimo |
Ida Lupino dirigindo Mala Powers e Robert Clarke |
Eu acho que foi algo bom de se fazer na época, sem ser muito moralista. Afinal, não foi culpa da garota. Eu apenas pensei que o efeito que o estupro pode ter em uma garota não é muito discutido. A garota não fala sobre isso ou vai até à polícia. Ela tem medo de que não acreditem nela.
Laços de Sangue (Hard, Fast and Beautiful!, 1951)
Sally Forrest interpreta uma filha sob o jugo da mãe, vivida por Claire Trevor |
Ida Lupino rodeada de homens durante a exibição de Laços de Sangue (Hard, Fast and Beautiful!, 1951) |
O Mundo odeia-me (The Hitch-Hiker, 1953)
O Mundo odeia-me (The Hitch-Hiker, 1953) - um dos filmes mais emblemáticos de Ida |
Ida dirigindo os atores Frank Lovejoy e Edmond O'Brien |
Ida estava incerta de fazer o filme, mas foi um grande sucesso |
Para aumentar o suspense do filme, eu gravei as cenas em lugares claustrofóbicos do carro para intensificar o calor do lado de fora, as barreiras do deserto. Eu tentava manter o espectador à beira do assento com uma linha de violência prestes à explodir a qualquer momento. - relembra Ida em entrevista no livro The Making of The Hitch-Hiker Illustrated Por Mary Ann Anderson.
Joan, Collier e Ida Lupino durante as filmagens de O Bígamo (The Bigamist, 1953) |
Aqueles eram dias incríveis. Nós descobrimos novos talentos e nós fizemos o tipo de filme que é considerado 'new wave' hoje. Nós abordamos assuntos que eram polêmicos na época - mães solteiras [hoje mães solo], suborno no tênis, crimes de um mochileiro, a bigamia e o polio. - entrevista de Ida para a revista Action em 1967, da matéria 'Me, Mother Directress'.
Anjos Rebeldes (The Trouble with Angels, 1966)
Hayley Mills e June Harding na volta de Ida aos cinemas |
Ida, focada, ao dirigir o filme Anjos Rebeldes |
Menção honrosa: Cinzas que Queimam (On Dangerous Ground, 1951)
Ida e Robert Ryan em Cinzas que Queimam (On Dangerous Ground, 1951) |
Ida Lupino dirigindo o filme O Mundo é o Culpado (Outrage, 1950) |
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