O ano de 1966 foi devastador para Roy Orbison. O cantor - para quem acredita em simbolismos - tem uma conexão trágica com o número 6. Em 6 de junho de 1966, a esposa dele, Claudette Frady - para quem escreveu 'Claudette' e 'Pretty Woman' - faleceu em um terrível acidente de moto em Bristol, Tennessee, nos EUA. Ela foi atingida por um caminhão ao passear com o marido, com quem dividia o amor por motocicletas.
Antes naquele mesmo ano, sem saber da tragédia que assolaria sua vida pessoal, Roy decidiu dar um passo a mais em sua carreira. Assim como Elvis Presley - um bom amigo que lhe desabrochou o amor por motos e que recusou a oferta de estrelar a mesma obra há dez anos- ele foi chamado para estrelar o musical, 'O Violão Heróico (The Fastest Guitar Alive, 1967)'.
De acordo com a biografia 'The Authorized Roy Orbison', Roy já tinha assinado para estrelar o filme em maio e começaria a gravação no final de 1966. Anestesiado logo após a morte da esposa, Roy quis ainda mais se focar no trabalho para ocupar a mente e cuidar dos três filhos, Roy Jr, Anthony e Wesley, este com apenas 21 meses de vida.
Roy Orbison em 'O Violão Heroico' |
Em outubro de 1965, Roy Orbison assinou um contrato com o estúdio de cinema MGM - um ano após já fazer parte da gravadora do grupo - e seu primeiro projeto era, justamente, 'O Violão Heroico'. De acordo com entrevista para Glenn A Baker, em 1980, o contrato era, originalmente, para sete filmes e ele até criou uma produtora, a Kelton, visando estrelar e desenvolver outros projetos: "Eu fiz o primeiro filme e era para ser bem sério. E o que acontece é que, antes de chegar em Hollywood, Cat Ballou tinha ganhado um Oscar, então eles quiseram imitar e fazer um filme de faroeste engraçado. 'Vai fazer um pouco de dinheiro', eles imaginaram. E imaginaram errado".
Em 'O Violão Heroico (The Fastest Guitar Alive, 1967)', Roy interpreta Johnny, um espião sulista que viaja durante a Guerra Civil como um músico. Ele, acompanhado do parceiro Steve (Sammy Jackson), procura um punhado de ouro enquanto foge da União. Tentando escapar dos ianques, eles contam com diversas aventuras e a ajuda das dançarinas Flo (Maggie Pierce) e Sue (Joan Freeman). O músico Sam The Sham também fez uma pequena participação. Segundo o material de imprensa, Roy estava muito feliz de trabalhar com Joan, afirmando: "Eu deveria estar pagando o estúdio para estrelar cenas com ela".
Se o filme não tivesse sido um verdadeiro fracasso, a carreira de Roy poderia ter dado uma guinada surpreendente. Conforme revela o livro Roy Orbison Invention Of An Alternative Rock Masculinity por Peter Lehman, o cantor aparecia, pela primeira vez, sem seus óculos escuros e com uma persona mais acessível. Ele teria, talvez, trilhado o caminho de Elvis se soubesse, de fato, atuar.
Telegrama de Elvis do livro 'Word by Word' de Jerry Osborne - "Querido Roy, parabéns pelo começo de seu filme com o nosso bom amigo, Sam Katzman. Seus camaradas, Elvis e o Coronel". |
Roy e os filhos, Roy Jr e Anthony |
Michael Moore, o diretor, com os atores no set de filmagens |
"Minhas memórias do filme são todas felizes. Foi divertido de fazer, com um elenco muito bom de trabalhar e uma ótima atmosfera. Todo mundo cooperava e como era o primeiro filme de Roy, todas as pessoas o ajudaram muito" - afirmou Michael, definindo Roy como "trabalhador, muito inteligente, com ótimos hábitos de trabalho, além de ser simpático e educado".
Mickey, que também morou em Malibu em seus anos finais - assim como Roy - não cansou de elogiá-lo em matéria replicada no site Pepperdine: "Eu o tinha em tão alta estima e também era muito fã de sua música. Nossa, eu acho que ainda tenho a guitarra feita para o filme...aquela com a arma".
Roy Orbison com a famosa guitarra/arma |
Seu pai ultrapassou todas as dificuldades. Nós tínhamos indígenas, fuga com carruagens, ele tinha que atirar com a guitarra em cima do cavalo. E tantos números de canto e dança. Nós sabíamos, porém, que não teríamos problemas com a dança ou o canto.
Roy Orbison em cena do filme 'O Violão Heroico' |
'O Violão Heroico (The Fastes Guitar Alive, 1967)' nunca atingiu o status cult, porém foi homenageado por Quentin Tarantino no filme 'Os Oito Odiados (The Hateful Eight, 1965). A canção 'There Won't Be Many Coming Home' foi usada nos créditos finais da obra, mostrando que a verdadeira força de Roy é como cantor e não ator - e com uma voz dessas, que definiu também a obra 'Veludo Azul (Blue Velvet, 1986)' de David Lynch, ele não precisa de mais nada!
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